Este Blog procura resgatar a Memória Coletiva do Colégio Estadual de Bagé, o Carlos Kluwe, e também da nossa cidade, através da narrativa de fatos que marcaram a vida de todos que por aqui nasceram ou viveram. Objetiva também colaborar com a cultura da Região de Fronteira, onde Bagé está situada. Mande suas histórias e suas fotos para o mail blog.estadual@hotmail.com Mostre que temos memória e zelamos por ela.
31 de agosto de 2010
Quando setembro vier
30 de agosto de 2010
Um baú no pampa - V, A rotina da casa
A avó, bem mais recentemente, usava uma colherinha minúscula para colocar umas bolinhas coloridas por cima do doce já pronto - ao qual dava o nome de "chuva de amor. Esta colher era a única remanescente de um estojo que o bisavô José Luiz Guasque havia ganhado do pai, o também médico homeopata, Ignácio Guasque, para administrar homeopatia. Ele era proprietário da Farmácia Humanidade, que ficava na Sete de Setembro, na quadra do Recreativo, nas primeiras décadas do século XX. Não havia ainda a disseminação do conta-gotas e a colher fazia as vezes de medidor das homeopatias. Hoje essa colher se encontra no MuHM - Museu da História da Medicina no RGS, doada em nome de Orphelina Guasque Barreto.
Na hora das refeições todos aguardavam o patriarca sentar. Segundo o relato da minha avó ele comandava a todos pela força do olhar. Se arqueava a sobrancelha era sinal que o infrator devia sair da mesa.
Depois desse momento ele gostava de tomar um cálice de vinho do Porto como aperitivo. Ia ler no escritório, no meio da sua vasta biblioteca, e escrever nos seus diários.
Extremamente prático, ao fechar um hotel em Bagé, o bisavô arrematou todas as camas e um grande fogão com caldeira. Ao que parece, um dos quartos era uma fileira e tanto de camas, uma ao lado da outra. A filha mais velha tinha um quarto só para ela já que era quem realmente mandava na casa. Tinha o apelido de Dinda, pois amadrinhava os irmãos mais novos. Havia o quarto dos filhos e o do casal. No total eram 17 filhos, mais o casal e alguns agregados.
No tal quarto onde a maioria das irmãs dormia, uma teve a ideia de encher um vaso de jasmins. À noite todas começaram a passar muito mal por causa do forte cheiro que impregnou o ar, até que uma delas conseguir abrir as janelas e ventilar o aposento.
O pátio era um verdadeiro zoo, tinha até filhote de capivara e inúmeras gaiolas de pássaros. Isso fazia com que dois filhos fossem destacados para a limpeza. Um poço coletava água que era usada na limpeza e higiene da grande família, já que naquela época a água encanada era algo desconhecido para a maioria.
Todas eram cozinheiras e doceiras fabulosas, os doces eram reconhecidamente perfeitos. A maioria deles aprendidos na lida diária e com seus detalhes compilados num saboroso livro de receitas. Uma vez por ano a bisavó chamava uma das filhas e pegava uma diligência, tal qual o Velho Oeste, para se deslocar até as terras da família dela, em Cerro Chato, no Uruguai, onde havia a matança de porcos e manufaturas de linguiças, morcilhas, butifarras, queijos e patês. Quem nunca provou uma butifarra não sabe o que é bom!
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Enviado pelo colega
Gerson Luis Barreto de Oliveira
29 de agosto de 2010
Cultura de Fronteira na fronteira - II
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28 de agosto de 2010
Livros, família & amigos
27 de agosto de 2010
Cultura de Fronteira na fronteira
durante encontro dos presidentes Lula da Silva e José Mujica
26 de agosto de 2010
Getúlio Vargas em Bagé
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Fotos enviadas pela colega
Heloisa Beckman
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25 de agosto de 2010
Agosto, o mês do desgosto!
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24 de agosto de 2010
"Trabalhadooores do Brasil!"
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Aquela 3ª feira, 24 de agosto de 1954, começou como um dia tranquilo de aula na Escola Santa Izabel. Eu estava no 3º ano do curso primário, a professora era a Célia Camargo Silveira. A minha irmã estava no 1º ano, e a professora era a Gesminda Iamim de Melo. Hoje, sempre que passo na frente da URCAMP, lembro que ali ficava minha escola, olho para onde se localizava minha sala de aula, e logo vêm as lembranças daquela manhã de agosto, de 50 e tantos anos atrás.
Era o meu segundo ano de volta à Bagé, vindo da Hulha Negra. Foi um ano escolar de grande mudança, a minha mãe já tinha me prevenido que seria o ano das "lições de cor". Ela já tinha experiência nessas lições, contava muito de seus tempos no Colégio Fernandes Figueira, ali no começo do Povo Novo, onde hoje tem um posto de saúde, o prédio continua o mesmo. O aluno tinha que decorar um capítulo inteiro de história ou geografia e falar para a professora, palavra por palavra, de pé, na frente de todos os colegas; simplesmente um terror para a nossa pouca idade. Lembro bem dessa primeira lição de cor, aquela que nunca esquecemos, era o primeiro capítulo de História, a Descoberta da América. Ela começava exatamente assim: "Enquanto os portugueses procuravam um caminho marítimo para as Índias, Cristóvão Colombo, natural de Gênova, ... ". Eram umas três páginas de livro e, claro, a professora me chamou e falei toda a "lição de cor", pelo menos essa primeira lição, as outras que se seguiram, bem, aí já nem tanto. Nesse dia 24 de agosto, não lembro qual era o assunto para saber de cor, mas estava tudo calmo na sala, até a metade da manhã, quando a professora saiu um instante da aula e foi até a secretaria, mas demorou um certo tempo. De repente, ela voltou e entrou na aula muito alarmada, e foi logo falando: "O Getúlio se matou, vão todos para casa". O alvoroço foi geral, arrumamos nosso material escolar e fomos embora. Quando cheguei em casa, a minha mãe já sabia da notícia, que já tinha corrido a cidade. Não demorou muito e chegou meu pai, e já se preparando para uma possível corrida aos armazéns e a falta de alimentos, vinha com uma caixa grande de madeira, com bolachas, muito comum na época. Chegou dizendo: "Olha Loiracy, o pão já está garantido para as crianças". Meu pai também falou que o comércio todo já estava fechando as portas com medo das depredações. Estes detalhes eu não lembrava, a minha mãe me recordou há poucos dias.
O restante desse dia e os próximos foram inquietantes, e o que mais se falava era na possibilidade de uma guerra civil. A população estava muito sentida com o trágico acontecimento. Logo nos primeiro dias, lembro de uma reunião familiar realizada, à noite, na casa do tio Nini, que morava perto, hoje quase centro, na esquina das ruas Fernando Machado com a Otávio Hipólito, uma quadra antes da 20 de Setembro. Fomos todos para lá, mais a família de dois tios e a família do tio-avô Izidoro. Todos os homens da família eram tidos como bastante entendidos em política. Essa noite, jamais esqueci, parecia bem de acordo com o momento dramático, estava uma escuridão tenebrosa e fria, era uma noite realmente negra, fato que eu sempre tenho relembrado. Até hoje eu fico tentando imaginar que elementos da meteorologia se combinam para dar esse resultado. Parece, que o mês de agosto é propício a esse tipo de noite. Mas, enquanto as conversas continuavam, se alternando, ora mais acaloradas e altas, ora mais calmas e baixas, já alta hora da noite, de repente, ouve-se um enorme estrondo vindo do pátio ou da casa ao lado, a casa do Seu Vasco, que tinha um galpão onde ficavam as vacas de leite. De pronto, todos se levantaram com o susto, e nosso tio Izidoro, que sempre foi muito assombrado, gritou bem alto: "Olha, começou a guerra !" Nós, as crianças, ficamos aterrorizados com isso, aguardamos um pouco, mas não se seguiram mais estrondos, e tudo se acalmou, os tios chegaram a conclusão que era alguma coisa que tinha caído em cima do telhado de zinco do galpão. Passado mais algum tempo, com tudo mais tranquilo, a reunião terminou e fomos para casa.
Mas, os dias continuaram cinzentos e as noites negras, uma boa parte das pessoas haviam colocado bandeirolas pretas, pendentes sobre as portas das casas, em sinal de luto. Porém, para nós, guris e gurias, em poucos dias tudo parece que foi tomando o seu rumo normal, embora no mundo dos adultos, ainda permanecessem por muito tempo as tramas e as negociações políticas. Os embates políticos continuariam pelo resto do ano e o seguinte, até quando em 3 de outubro de 1955 seria eleito o Juscelino e, em 1956, iniciariam os anos JK.
De certo modo, nos sentíamos e continuávamos felizes na nossa vida de criança, apesar de toda a confusão que os grandes conseguiam produzir, só tínhamos apenas que estudar e decorar as lições para apresentar para a professora e apressar para sobrar tempo para os brinquedos e jogos. Tudo isso era bem mais fácil de viver do que toda aquela encrenca dos adultos. O futuro para nós não era pensar naquela tal de guerra civil de que eles tanto falavam, nós queríamos era chegar logo no fim do curso primário e poder entrar no mágico e esplendoroso ginásio. Nós só falávamos no Ginásio Auxiliadora, mas o nosso querido Estadual já estava sendo criado e iria esperar por nós logo ali adiante. Seriam longos 7 ou 8 anos, inesquecíveis, entraríamos uns guris de uns 12 anos e sairíamos de lá, já na casa dos 20 anos, com jeito de homens, nos preparando para mais uma grande mudança na vida.
Já estaríamos, então, prontos para enfrentar, como adultos, um acontecimento grave como aquele de 24 de agosto de 1954?
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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Nota: Nesse dia 24 de agosto no ano de 1954, igualmente uma terça-feira, suicidou-se com um tiro no coração o então presidente da república Getúlio Dorneles Vargas. O país ficou em estado de choque e levou muito dias para se recompor do fato. Assumiu a presidência o vice, Café Filho, exercendo o cargo até novembro de 1955.
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23 de agosto de 2010
Um baú no pampa - IV, A primeira fotografia
Enviado por
Gerson Luis Barreto de Oliveira
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22 de agosto de 2010
"As lanternas da cidade..." - III, Aureus & Argentum
catedral da Medianeira encontrava abrigo do Pai Supremo".
AUREUS & ARGENTUM
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"Era uma empresa corajosa. A Ouro & Prata tinha essa virtude. Em primeiro lugar porque embrenhava seus ônibus pelos caminhos do pampa, quase sempre em estradas de terra batida, e em mau estado e, em segundo lugar porque retirava do lugar jovens nativos sedentos e famintos de saber. Talvez mal comparando, um "pau-de-arara" crioulo. Porém no nosso caso, jovens fortes, destemidos e dispostos a lutar por um único propósito: o diploma profissional. Lá em casa meu pai dizia: Ou estuda, ou trabalha. Minha mãe dizia: Estuda. Ouví minha mãe! Me despedí deles, claro que com emoção, mas sabendo perfeitamente que eu era obrigado a sair. Eu tinha que procurar novos horizontes. O guri tinha crescido. Meu destino, igual ao de tantos outros, era a cidade universitária de Santa Maria, que, diga-se de passagem, foi a primeira cidade não capital a sediar uma universidade federal. Porém, antes tínhamos que passar por Lavras do Sul, Caçapava do Sul e São Sepé até chegar na Boca do Monte. Sempre em estrada de chão. A viagem era prazerosa pelo alto grau de companheirismo que havia entre os viajantes. Todos nós conhecíamos uns aos outros, inclusive muitos colegas de aula do próprio Estadual. Isso atenuava certamente, os sentimentos mais puros de saudade da terra-mãe que ficava, a cada partida, mais para trás. Nestes quase quarenta anos, há um certo retorno às terras da Rainha, propiciado por um tal de Jornalista Luiz Carlos Vaz, um sujeito que contava piadas anotadas numa caderneta escolar. E que foi meu colega de aula num certo Colégio Estadual de Bagé."
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Texto e foto enviados pelo colega
Pedro Farias da Cunha
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