Montagem sobre foto publicada no Facebook de Marcel
Gonçalves Pereira
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Português normal, vovó!
Por Marcos Bagno (*)
Tenho um amigo uruguaio que veio com
a família para o Brasil ainda criança. Foram morar em Santos. Como todas as
crianças, ele e os irmãos logo aprenderam português no convívio com os vizinhos
e colegas de escola da mesma idade.
O pai, querendo aprimorar o
conhecimento dos filhos, contratou uma professora particular para ensinar
português a eles. Poucas aulas depois, Álvaro chegou para o pai e disse: “Pai,
das duas uma: ou o que essa professora ensina não é português, ou o que meus
amigos falam não é português. O que ela ensina não tem nada a ver com a língua
que a gente aprende com nossos amigos”.
Outro amigo, português agora, morando
no Brasil há algum tempo e já bem familiarizado com a nossa língua, decidiu se
matricular num cursinho para fazer vestibular.
Poucas aulas depois, Rui comentou
comigo: “Não admira que os brasileiros digam que português é uma língua
difícil: o que se ensina nas escolas é português de Portugal, nada a ver com o
que realmente se fala aqui. Para mim é muito fácil, mas para os brasileiros é
mesmo um suplício!”
Mais recentemente, uma queridíssima
amiga paraibana me contou a seguinte história. Seu neto de quatro anos de idade
quis ver um DVD com o desenho animado do Pinóquio, um dos clássicos da Disney.
Como o DVD tinha sido comprado na
Europa, só trazia dublagem em português europeu. Tão pronto o filme começou, o
pequeno Gabriel gritou: “Não quero em francês! Não quero em francês!”, porque
sabia que a avó e o pai tinham vivido muito tempo na França.
Rosalina então explicou: “Não é francês,
Gabriel, é português de Portugal”. Ao que Gabriel retrucou: “Não quero
Portugal! Quero português normal, vovó!”
Todo esse nariz-de-cera é só para
anunciar a minha Gramática Pedagógica do Português Brasileiro. É a
primeiríssima obra do gênero que se dedica exclusivamente aos modos de falar e
de escrever que caracterizam a nossa língua materna, o português brasileiro,
falado por quase duzentos milhões de pessoas.
É a primeira que descreve e autoriza
aquilo que já está autorizado há século e meio, senão mais, pela nossa melhor
literatura, de José de Alencar a Luiz Ruffato, passando por Machado de Assis e
toda a longa fila de grandes autores da nossa língua.
É a primeira que repele sem susto os
equívocos da tradição gramatical, cheia de erros teóricos e prescrições
absurdas, e se apoia numa teoria linguística coerente e nos resultados obtidos
em mais de cinquenta anos de pesquisa científica séria realizada em nossas
melhores universidades.
É chato ter de fazer propaganda da
própria obra, mas como são poucos os espaços disponíveis para trabalhos dessa
natureza, mando a modéstia às favas e deixo aqui esse recado.
Adeus, bobajada autoritária do
normativismo empedernido e de seus fanáticos seguidores que têm invadido a
mídia brasileira, a podre mídia brasileira, para tentar salvar da extinção os
dinossauros linguísticos que o povo brasileiro há muito tempo já despachou para
o museu.
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(*) Marcos Bagno é linguista, escritor e
professor da UnB - marcosbagno.org
“Adorei Bagé! Tem casas antigas, do início do século
XX, bem preservadas.
Espero voltar outras vezes à Unipampa!”
Observação de Marcos Bagno em Bagé, feita em três de
dezembro de 2012 quando palestrou na Unipampa.