Venâncio Xavier
ou
O Poncho Voador
Geraldo Hasse
Oi, Vaz, tenho curtido os textos da
Velha Guarda de Bagé. Inté me lembrei de uma coisa.
Em 74 estive em Bagé no fim de
inverno, já reverdeciam os campos, eu fazia matéria que já esqueci, mas lembro
como se fosse anteontem: caminhava pela rua Sete quando, na frente de uma loja
de pilchas, um poncho pendurado num cabide deu uma dançada ao vento e caiu
sobre meus pés. Tomei como mensagem divina e comprei a peça por 300 e tantos
pilas.
Meu primeiro e único poncho. Baio
lobuno, todo franjado, terá sido um dos últimos fabricados pela Tecelagem
Rheingantz, que fechou em 77, após um século em Rio Grande (onde estão de pé as
ruínas). Dei-lhe nome: Venâncio Xavier. Levei-o para São Paulo, onde o vesti
num 20 de setembro só pra enticar com os colegas gaúchos e brasileiros em
geral.
Venâncio já viveu em outras cidades
brasileiras, sempre bem guardado e pouco usado. Está comigo até hoje, mas
bastante baleado pelas traças (deveria dizer talvez que meu poncho está estraçalhado?). Na realidade, precisaria
apenas passar pelas mãos de uma cerzideira caprichosa. Mas, pensando bem, pra
quê? Eu mesmo tô mais baleado do que o Venâncio. Não por traças, mas por pirraças.
Aqui em casa já repeli diversas
sugestões para jogá-lo no lixo ou doá-lo a quem possa dele fazer bom uso.
Ultimamente, tenho sido tentado a entregar meu poncho a algum morador de terras
realmente frias. Por enquanto, em certos dias de inverno, me agrada vê-lo servindo
como colcha.
Um abraço, feliz 21...
Geraldo
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Natural de Cachoeira do Sul, Geraldo Hasse é Jornalista formado em
1968 pela UCPel; começou a trabalhar em 1965 como noticiarista de rádio. Foi
repórter e editor de Veja (1969-78), Exame (1978-82), Folha de S. Paulo (1984),
Placar (1984-85), Guia Rural (1988-91), Gazeta Mercantil (1999-2001). Dirigiu a
redação do Diário da Região, de São José do Rio Preto (1993-96). Foi consultor
de comunicação da Agência de Desenvolvimento do Espírito Santo (1997-99).
Free-lancer, colabora com os sites www.jornalja.com.br e www.seculodiario.com e
veículos impressos, em especial a revista Globo Rural e o Jornal do Comércio,
de Porto Alegre. Prêmios: Esso de Reportagem Econômica (1979); Abril de
Reportagem Econômica (1988); Interamericano de Jornalismo IICA (1992); Massey Ferguson
de Jornalismo (2009) – todos sobre temas rurais. Publicou os livros A LARANJA
NO BRASIL” (1987), Coopercitrus Frutesp/Hamburg – São Paulo; FILHOS DO FOGO –
Memória Industrial de Sertãozinho (1996), Céu e Terra; O BRASIL DA SOJA (1997)
– com fotos de Fernando Bueno, L&PM/Ceval – Porto Alegre; PIONEIROS DA
ECOLOGIA DO RS (2002) – com Elmar Bones, Já Editores/Copesul – Porto Alegre; O
SEMEADOR DO SERTÃO” (2003) – Biografia de Maurilio Biagi (1914-1978), Céu e
Terra; UM ESPELHO DE 100 ANOS – História da Associação Comercial e Industrial
de Ribeirão Preto (2004) – com diversos autores; CRESCIMENTO VERDE – O ES no
Caminho da Sustentabilidade Florestal (2004), Sindiex, Vitória; LANCEIROS
NEGROS (2005) – com Guilherme Kolling. Já Editores, Porto Alegre; DARCY
AZAMBUJA, Vida e Obra (2005) – Já Editores, Porto Alegre; EUCALIPTO - Histórias
de um Imigrante Vegetal (2006), Já Editores, Porto Alegre; Migração &
Identidade (2007), com Jandyra Cunha e outros, Centauro, São Paulo; NAVEGANDO
PELO RIO GRANDE – História dos Portos Gaúchos (2008), Já Editores, Porto
Alegre; RAINHA DO AGRONEGÓCIO – A História da Soja no Brasil (2011) edição
popular revista e ampliada de “O Brasil da Soja” - Editora Coruja, Ribeirão
Preto, SP; DE UM GRÃO NÃO SE FAZ PÃO – Memórias do Fundador do Moinho Estrela
(2017), com Angelo Domingo Pretto, editado pela UP Design, Porto Alegre.