ADELI SELL
Luiz Carlos Vaz mora em Pelotas. Nasceu em
Hulha Negra, passou sua infância e adolescência em Bagé. Jornalista,
fotógrafo e especialista em temas de patrimônio histórico. O autor qualifica
seu livro como "Memórias"; são crônicas que perpassam sua vida
até sair de Bagé.
É incrível como temos poucos cronistas
memorialistas como Vaz. Imaginem se Porto Alegre não tivesse tido Coruja,
Achyles Porto Alegre, Paulo de Gouvêa, Theodemiro Tostes? Quanta lacuna?
Vaz cobre uma parte disso, a começar pela
nossa fronteira. Ele se identifica com este traço fronteiriço, desde a
crônica que dá título ao livro A História de Abel, como nas outras quando fala
de algo simples como o jogo com Pelé, no Estádio em Bagé, a ida de
Roberto Carlos, pois parece algo simples, mas a cada linha fica marcado algo
que havia e pode não haver mais, como é a bica da menina de rua, bebendo
água dela, que ele fotografa, assim fica o registro, no papel copiado e
na memória.
O bom cronista é aquele que explora um
acontecimento simples em algo a pensar, a lembrar, a refletir como o fato
de se cortar com a navalha do pai. Vaz vai passando o que viveu e o que não
viveu, mas está na recordação, pois a mãe recordou a ele isto ou aquilo, como
os dois primeiros anos de vida em Hulha Negra.
Por isso, cita o grande Gabriel Garcia
Marques: "A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e
como recorda para contá-la". Isto mesmo. Talvez a síntese desta visão seja
"A caixa de sapatos da vovó", pois os guardados ali podem estar
esmaecidos, nas fotos tiradas há tempos, mas ficam ali, pois nos dias de vida
digital somem assim que o HD encher.
O livro do Vaz não é para resumir cada
crônica, é para ser lido, passado adiante, servindo de incentivo a novos
escritores. Para o Vaz eu diria que o próximo tem que ser algo sobre nossa
querida Pelotas, pois esta em si já é uma crônica.
ADELI SELL é professor, escritor e bacharel em
Direito.