31 de março de 2010

As marcelas do Cerro

O cheiro da marcela leva qualquer um de volta à infância...

Um costume da cidade que me lembro muito bem era o de colher marcela no Cerro de Bagé na sexta-feira santa. Cedinho, grupos familiares inteiros rumavam em direção ao Cerro para colher a marcela ainda antes do sol nascer. Claro que essa coleta acabava se estendendo por todo o dia. Mas, ouvir pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro a dramatização da paixão de Cristo era também uma "tradição" da sexta-feira santa. E era o que se fazia lá em casa. Talvez numa inconfessável esperança de que em um ano o povo pudesse escolher Barrabás para crucificar, só para variar um pouco, minhã mãe ouvia, em meio a chiados e descargas, Pôncio Pilatos lavar as mãos todos os anos. Depois da radiofonização a emissora passaria a tocar músicas "de câmara" e clássicos durante todo o resto do dia. As rádios Difusora e Cultura só entrariam no ar após as seis horas da tarde e lá muito de mansinho, tocando algumas valsas, orquestras... o medo do tal de inferno era muito grande naquela época. A sexta-feira santa era o dia em que Deus estava morto, portanto qualquer deslize da gurizada... O resto do dia era silêncio e nada de pensar em sacanagem... Minha família nunca foi colher ervas no dia da paixão, mas tínhamos da nossa casa uma visão privilegiada e podíamos observar muito de longe as pessoas, como gafanhotos, pelarem o Cerro de Bagé com suas marcelas bentas da sexta feira santa. Hoje não é mais preciso ir ao Cerro de Bagé, o pessoal colhe marcela, turbinada com monóxido de carbono, à beira das estradas e se intoxica barbaramente. Aliás, eu nem sei se as famílias ainda fazem romaria ao Cerro e se ainda existe marcela por lá. Cheiro de marcela e sexta-feira santa são coisas que andam junto na memória deste guri do Estadual.

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30 de março de 2010

E a Farsa continua...

Pode até parecer sensacionalismo um título desses, mas é que a nossa colega do Estadual, Heloisa Beckman, avisa que o Centro Histórico Vila Santa Thereza estará apresentando novamente a peça escrita pela bageense Edy Lima, A farsa da esposa perfeita... Veja detalhes na postagem do dia 28 de dezembro de 2009 ou clique aqui. A peça está sendo divulgada pela RBS TV Bagé e o "trailer" pode ser visto aqui no Blog. Bom espetáculo a todos e parabéns ao diretor Sapiran Brito e elenco.
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29 de março de 2010

Jackson Five do Sul?

Dos cinco Bons Amigos, dois se foram muito cedo...

Jackson Five da Rainha da Fronteira... Até poderia ser, todos nós cantávamos um pouquinho e arranhávamos um violãozinho que era uma brasa, mora?. O fato é que a gente sempre andava junto no Estadual. Éramos aqueles amigos inseparáveis, cúmplices em tudo, tínhamos a "nossa turminha". José Luiz Salvadoretti, o cientista, Roberval Lannes de Carvalho, Luiz Carlos dos Santos Vaz, Paulo Antonio Barros de Oliveira e Ovídio Ávila. Hoje meti a mão mais fundo no baú dos retratos e sairam várias relíquias. Uma delas é essa. O ano é 1969, segundo científico, turno da manhã. Eu seguro na mão cópia do comprovante de minha adesão na Corrente do sapato Samello, segundo a qual, eu receberia 200 pares de sapatos Samello no prazo aproximado de três a quatro meses. Já se passaram 41 anos, pode ser que eu ainda os receba... sabe como é, o Correio pode ter atrasado um pouquinho.
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Nota: Na foto quatro estão usando a calça do uniforme, em xadrez pied-de-poule. Três estão com a camisa branca do uniforme. Só o Salvadoretti está com o distintivo do colégio preso à camisa. Eu estou com uma camisa de mangas curtas, de outra cor , e o Ovídio deve ter deixado todo o uniforme em casa para lavar. Numa época em que só se usavam "guides" para a ginástica, todos estão de meias e sapatos pretos.
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28 de março de 2010

Desenha-me um carneiro?

"Desenha-me um carneiro?", pedia o príncipe ao aviador...
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Eu ainda usava calças curtas quando ouvi pela primeira vez o pedido insistente: “Desenha-me um carneiro?” A professora Maria Veleda levara para a sala de aula não apenas o livro O Pequeno Príncipe de Saint-Exuperry, mas também um “LP” (1) com a história interpretada por artistas do rádio e do teatro. Paulo Autran fazia a voz do autor e o Príncipe era interpretado por Glória Cometh. “Desenha-me um carneiro?” repetia o menino mais uma vez. Mas o disco não tocou em aula. A professora perguntou quem tinha um toca-discos em casa e eu, que sentava na primeira classe, mais do que depressa, respondi. Eu tenho professora! Lá em casa temos uma eletrola Phillips... e pronto, fui “sorteado” para levar o disco e ouvir com a família. No Estadual não havia um toca discos. À noite, em casa, quando ainda não havia televisão em Bagé, nos reunimos para ouvir a história do príncipe, que morava em um pequeno planeta, filosofar sobre a vida e a morte e pedir: “Desenha-me um carneiro?” Depois, durante a semana, várias foram as lições que a professora Maria Veleda nos ajudou a extrair da história do livro e do disco. Uma delas foi que nos tornamos responsáveis por aqueles que cativamos! Essa era a possibilidade entre o príncipe e a raposa da história. Esse seria o livro que todas as candidatas a “miss” deveriam citar pelo resto de suas vidas. E, a frase, “desenha-me um carneiro?” ficou em minha mente até hoje. Ainda posso ouvir Glória Cometh repetir a frase como se a tivesse ouvido ontem. No mais, só lamentei que o príncipe precisasse morrer para conseguir o seu intento. A professora Maria Veleda explicou de tudo que era jeito, mas muitas gurias da primeira série do ginásio do Estadual não deixaram de chorar ao final da história. Não queriam que o príncipe loirinho fosse picado pela cobra. A lição de se tornar responsável por aqueles que cativamos é a que foi mais debatida. O Blog está completando hoje quatro meses. Três mil pessoas já o acessaram mais de 10.000 vezes. Todo dia, ao ver esse número crescer, o Blog, como o Príncipe de Exuperry, percebe que está se tornando responsável por ter cativado tanta gente. Mas o que nos deixa tranquilos é que quando pedimos para os colegas “desenharem um carneiro”, todos estão prontos a colaborar e a manter o Blog interessante, criativo e atualizado. Obrigado a todos por “desenharem os carneiros”, e um obrigado muito especial a professora Maria Veleda que teve coragem suficiente de nos apresentar o Príncipe de Antoine de Saint-Exuperry quando nós, os guris, ainda usavam calças curtas e as gurias prendiam os cabelos com singelas marias-chiquinhas.
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(1) O disco foi gravado em 1957 pela gravadora Festa, de Irineu Garcia. Paulo Autran interpreta o escritor, Glória Cometh, o Príncipe, Oswaldo Loureiro Filho, o acendedor de lampiões, Margarida Rey, a serpente, Benedito Corsi, a raposa e Auri Cahete, a rosa. A música é do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim.
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27 de março de 2010

Bagé em expansão

Na foto, enviada pelo Gerson, aparece a faixa
com o "slogan" criado pelo Antonio Pires

Já no folder, a frase: "Bagé, Terra do Presidente",
reforçava a idéia de compromisso da cidade com o Médici

A programação incluia várias atividades, inclusive, em Dom Pedrito
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Foi o prefeito Antonio Pires que colocou Bagé na "modernidade" do anos setenta, da modernidade do "milagre brasileiro" do ministro Delfim Neto. Os militares haviam assumido o comando do país em 1964 quando, através de um golpe, depuseram o presidente João Goulart, que havia sido eleito como vice de Jânio Quadros que renunciara. A primeira medida tomada pelos milicos foi terminar com as eleições diretas para os cargos executivos de presidente, governador, prefeito de capital e de cidades das "áreas de segurança, fronteira, portuárias e estações hidro-minerais". Ora, fronteira e áreas de segurança podiam até ser explicadas mas "estações hidro-minerais" era dose prá cavalo! Bagé, cidade de fronteira, passou a ter interventores nomeados pelo presidente da república ao invés de prefeitos eleitos pelo povo. Antonio Pires foi um deles. Uma de suas frases mais famosas foi a de que "Não vim tirar o pó da mesa, vim virar a mesa!" Homem forte e polêmico, sua missão em Bagé, além de adminsitrar a cidade, era conseguir para a Arena, partido do governo, a maioria na câmara de vereadores. Era preciso tirar da oposição esse gostinho de ter a maioria na "terra do presidente". Antonio Pires cortou as árvores da Avenida Sete para colocar em seu lugar postes com iluminação à mercúrio. Ele quis cortar, inclusive, as palmeiras em frente ao IMBA. Lembro que a diretora disse a ele. "O senhor pode cortar todas as árvores da Avenida Sete e da cidade mas nas palmeiras do IMBA o senhor não mexe!" Essa virada de mesa ele perdeu. Antonio Pires falava "em cadeia" de rádio todos os dias após a uma da tarde, depois do expediente visitava vilas, centros de umbanda, clubes de várzea, batizava crianças, ia a casamentos e... criou um "slogan" para a cidade: "Bagé em expansão!" com logotipo e tudo mais que a tal modernidade dos anos setenta exigiam. O Duda Mendonça ainda usava calça curta e o Antonio Pires já se tornara o maior marqueteiro do Médici na região. Pelo primeira vez a cidade colocava a propaganda a serviço da administração pública. Foram produzidos folders, "plásticos" para colar no vidro do carro, flâmulas e tocavam jingles de propaganda nas rádios. O jornal Correio do Sul publicava várias notícias que davam conta das obras da Prefeitura. Faixas com a frase "Bagé em expansão" estavam presentes em todos os lugares. No dia da posse do general Médici como "presidente" do Brasil o Estadual desfilou, junto com todas as outras escolas da cidade, num "desfile da mocidade" fora de época. O resultado foi que nas eleições de 1972 a Arena, pela primeira vez na história, fez maioria na Câmara de Vereadores, os postes com iluminação a mercúrio foram instalados na Avenida Sete e foi iniciada a construção do ginásio Militão. Irresponsavelmente, quando da visita do Médici a Bagé, a cidade pediu ao presidente a construção de um "ginásio coberto" em vez de uma nova estação de captação e tratamento de água. Mas, era "Bagé em expansão" e, não ter um ginásio coberto, era coisa de cidade atrasada, não de uma cidade que era a "Cidade do Presidente..." Água... bem... água... água caia do céu!
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26 de março de 2010

Ôô que broto legal...

...........Esta camisa cor-de-rosa teve seus botões arrancados pelas gurias...

...e, como eram apenas "seis botões", um postal do artista
foi o prêmio de consolação para as que
não conseguiram se aproximar do Tony, lá no Glória.
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A colega Vera Luiza lembrou da passagem por Bagé de um "astro do rock" que levou uma multidão de gurias do Estadual e dos outros colégios até o Cine Glória numa tarde dos anos sessenta. O "astro" quase saiu sem camisa... Olhem só o que ela conta:
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"Agora era certo. Tony Campelo estaria em Bagé no sábado! Apresentação à tarde, no Cine Glória. A década de 60 adolescia... Nós também... Bem cedo lá estávamos. Éramos todas felicidade e expectativa de vermos nosso ídolo! Primeira fila. Acima de nós, o palco. Ali ouviríamos o som diariamente buscado nas rádios locais da época – Cultura e Difusora. Também na rádio Guaíba. De repente ele surge! Violão ao ombro, sorridente. Calça justa e uma linda camisa cor-de-rosa. Chega pelo meio do público, pela entrada da frente. Não sei se haveria como entrar no palco por outro caminho, fico a me perguntar... Canta e encanta a todas aquelas guriazitas bageenses, ávidas por emoção e novidade. Ôô que broto legal! Garota fenomenal... (1) E as canções da parada de sucessos sucedem-se... Ao final do show, agradecimentos, despedidas... O público feminino, então, sobe ao palco para os autógrafos – pelo menos essa parecia ser a intenção –, mas... em meio a tanta emoção, mãos e braços seguiam no ritmo do rock de Toni Campelo, a essa altura às tontas diante de tanto afeto das fãs de Bagé! Lembro-me do olhar de surpresa e pedido de ajuda que o artista, meio apavorado, lançava em direção à equipe promotora do evento cuja atitude inicial era de absoluta imobilidade. Acalmados os ânimos das gurias, Tony Campelo pôde sair do teatro, por onde entrara, pelo meio do público. Notava-se, no entanto, que não havia mais nenhum botão na sua linda camisa cor-de-rosa que ele tentava inutilmente fechar... Voltávamos para casa, satisfeitas, ao final do show, quando uma das gurias nos mostra, bem escondidinho no interior da palma da mão, um lindo botãozinho branco, ainda com uns restinhos de linha e alguns fiapos de tecido...
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O sol se pôs suavemente na Rainha da Fronteira naquela tarde...
Tinha leves nuances cor-de-rosa..."
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Enviado pela colega
Vera Luiza
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(1) O "hit" do momento era a versão do "rock" I'm in alove, Broto Legal,
gravado orinalmente por Sérgio Murillo
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Ô que broto legal
Garota fenomenal
Fez um sucesso total
E abafou no festival
Eu logo notei
O broto focalizei
Ela olhou eu pisquei
E pra dançar logo tirei
O broto então se revelou
Mostrou ser maioral
A turma toda até parou
E o Rock in Roll nós dois demos um show
Puxei o broto pra cá
Virei o broto pra lá
A turma toda gritou
Rock in Roll
E o Rock continuou
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Ô que broto legal
Garota fenomenal
Fez um sucesso total
E abafou no festival
O broto então se revelou
Mostrou ser maioral
A turma toda até parou
E o Rock in Roll nós dois demos um show
Puxei o broto pra cáVirei o broto pra lá
A turma toda gritouRock in Roll
E o Rock terminou
E o Rock terminou...
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25 de março de 2010

Uma noite para a TV no sul

O experiente jornalista Alexandre Garcia não teve como conter as "espinafradas"
do Chico em relação à Rede Globo, "patroa" dos dois.


Como diria um colunista social: ela é mais bonita "ao vivo"
do que na bancada do JA

Na TV 3D, os oclinhos característico, logo serão dispensados (Foto Gilberto Perin)

Ontem à noite no teatro do shopping Bourbon Country, em Porto Alegre, aconteceu o lançamento do livro de Walmor Bergesch, Os TeleVisionários, que conta a história da televisão no sul do Brasil. O livro é uma publicação da editora ARToTEmpo, dirigida por Alfredo Aquino. No livro está marcada a data de 19 de janeiro de 1977 como a da inauguração da geradora TV Bagé, canal 6, em substituição a nossa velha retransmissora lá no alto do Cerro. Com a apresentaçãoa de Cristina Ranzolin e Maurício Saraiva, mais de 500 convidados puderam assitir a apresentação de um vídeo produzido especialmente para o evento com depoimentos e imagens até então inéditas, e a entrevista com o autor, conduzida pelo jornalista Alexandre Garcia. Um dos pioneiros da tv no Brasil, Francisco Anysio de Oliveira Paula Jr, o Chico Anysio, também foi entrevistado e contou antigas e boas histórias do início da tv brasileira. Queixou-se muito da sua "patroa", a Rede Globo, e criticou muito a linha "BBB" adotada pela emissora que já foi uma líder de audiência em todo o país. A data de 24 de março de 2010 também assinalou a primeira demostração pública da TV 3D no Rio Grande do Sul. Os convidados presentes ao teatro puderam testemunhar o feito da moderna tecnologia que promete, inclusive, evoluir rapidamente a ponto de dispensar os característicos oclinhos ainda usados para a visualização do efeito 3D também no cinema. O Blog da Velha Guarda do Estadual testemunhou o fato e aproveitou para tietar e conversar com as celebridades presentes.

24 de março de 2010

Os TeleVisionários

Livro de Walmor Bergesch conta os primórdios da tv no estado
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O amigo Alfredo Aquino, da Editora ARdoTEmpo, convida para o lançamento hoje, em Porto Alegre, do livro do Walmor Bergesch, Os TeleVisionários. A obra, que conta um pouco da história da televisão no Rio Grande do Sul, tem 400 páginas, 300 fotografias, além de depoimentos de pessoas que foram os pioneiros da tv no estado como Salimen Jr, Maurício Sirotsky, Sérgio Reis, Nelson Vaccari, Elis Regina, José de Almeida Castro, Jayme Sirotsky, Chico Anysio, Margarida Spessato, Célia Ribeiro, Lauro Schirmer, Fernando Ernesto Corrêa, Maria do Carmo, Otávio Gadret, Ruth Regina, Clóvis Duarte, Cyrillo Mattielo, Luiz D’Avila, Claro Gilberto, Flávio Corrêa, Tânia Carvalho, Roberto Appel, Nelson Sirotsky, Nico Fagundes, Petrônio Corrêa, Raul Costa Jr., Alfredo Fedrizzi e muitos outros. Apresenta ainda contos e crônicas de Aldyr Garcia Schlee, Charles Kiefer, Claudia Tajes, Fabrício Carpinejar, Gilberto Perin, Ignácio de Loyola Brandão, Luís Augusto Fischer, Luis Fernando Verissimo, Monique Revillion e Sergius Gonzaga. A apresentação é do jornalista Alexandre Garcia que estará em Porto Alegre para o evento. O livro deve contar também alguma coisa da tv em Bagé, lá do tempo do nosso querido Estadual. Estaremos lá para conferir.
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23 de março de 2010

Perdidos en el Espacio

Estes heróis, mesmo hablando en español, encantavam guris como o Paulo
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Este é mais um episódio da história da TV em Bagé no tempo do Estadual. O Paulo Gamboa Araújo, engenheiro bageense "perdido" em Porto Alegre narra, de forma ímpar, as peripécias montadas por seu pai para garantir à sua família, pelo menos via países do prata, alguma diversão televisiva. Deveria ser interessante ouvir o Dr. Zachary Smith xingar, em espanhol, o robô B9 de "sua lata de sardinhas..."
Vamos à sua narrativa:.
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"Lembro-me, com saudades, de um tempo romântico onde a televisão ocupava o centro da sala. Lá em casa, tínhamos uma Philips, grande, com portas laterais. Um móvel cheio de detalhes. Demorava alguns minutos para esquentar, era a válvulas. Meu pai, na casa da João Telles, montou uma antena de mais de 12 metros de altura. Tinha, acoplado, um “booster”, um equipamento para fortalecer o sinal. Estamos no anos 1967 e 68. Canais? Tínhamos a TV Gaúcha, via repetidora. O sinal era cheio de chuviscos. Quando acontecia um temporal, era comum ficarmos sem imagem por uma ou duas semanas, até alguém fazer a manutenção na torre. O mais curioso, era assistir, vezes ou outras, canais da Argentina e Uruguai. Assisti Batman, Jornada nas Estrelas, Perdidos no Espaço, dentre outras séries da época. Como no Brasil a censura já havia se tornado horrenda, nos vizinhos países os golpes militares ocorreram depois, lá faziam algumas propagandas ousadas para a época. Aparecia uma moça colocando talco, quase nua. Minha mãe ficava espantada. A propaganda de absorvente higiênico era somente com a foto da caixa do, então, modess. Lembro, também, de minha mãe desligar o aparelho dizendo: “que vergonha!”, propaganda de algo tão íntimo. Quando vejo hoje as propagandas do mesmo produto, falta pouco mostrar como se usa. Quem não viveu os tempos do Rinque Doze? Onde a gente se reunia lá em casa, junto com vários vizinhos e parentes para assistir Ted Boy Marino, Verdugo, dentre outros. Tempos que jamais voltarão. Éramos, de alguma forma, felizes!!! Quem nasce em meio à Internet, orkuts, TVs a cabo, googles, não consegue imaginar como era aquele tempo.
E a saudade fica na gente..!
São imagens perdidas em algum espaço de nossa lembrança... "
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Enviado pelo colega
Eng. Paulo Gamboa Araújo
"um bageense perdido em Porto Alegre"
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22 de março de 2010

Nunca antes na história deste...

Esta nota valia "uma nota" no tempo do Estadual...

"A vida não é a que a gente viveu,
mas a que a gente recorda
,
e como recorda para contá-la"
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Gabriel Garcia Marques,
Viver para contar

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Pois chegamos à marca dos 10.000 acessos às 19h47min de hoje. Já relatamos em detalhes a nossa história no post Três meses de "Velha Guarda", de 28 de fevereiro deste ano. Naquele dia marcamos 7.000 acessos e achamos isso muito bom. Mas bom mesmo é ver que, menos de trinta dias depois, alcançamos um número ainda melhor. Isso só faz renovar o compromisso que temos com a memória do nosso Estadual e com a cidade de BAGÉ. Chegamos a este momento, nunca antes imaginado na história deste Blog, com o total apoio de todos os colegas que já tomaram conhecimento dele e estão colaborando de forma magnífica. Muitos outros ainda estão por chegar até aqui. Cabe a nós, que já nos acostumamos com esta leitura diária, trazê-los. Vamos continuar divulgando nosso Blog e relembrando nossas histórias, dentro e fora do Estadual. Este Blog é uma recosntrução solidária de nossas memórias. Da memória coletiva do nosso querido Colégio Estadual de Bagé, o Carlos Kluwe.
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Vamos em frente!
Ainda há muita coisa para recordar e contar.
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20 de março de 2010

À nossa direita...

Fã "número um" do Leopardo, ganhei uma foto do ídolo
numa genileza do Marinha Magazine


Os domingos à noite em Bagé nunca mais foram os mesmos depois que a televisão passou a transmitir as lutas do Ringuedoze Liquigás da TV Gaúcha, Canal 12. Várias lutas que, necessariamente acabavam no terceiro “assalto” movimentavam as famílias e dividiam na sala os espectadores nas preferências e nas torcidas. Haviam os bons moços, como Scaramouche, Marco Polo, Ted Boy Marino, Leão do Líbano..., os feios, sujos e malvados como El Duende, Barba Roxa, Stiner... e os misteriosos como Fantomas, Verdugo, Leopardo, todos estes mascarados. Marcos Martins, do Portal da Luta Livre, diz em artigo que Fantomas foi um personagem criado pelo empresário da TV Globo do Rio, Teti Alfonso, em 1966. Por ser um mascarado, vários lutadores podiam interpretá-lo. Diz ele que o primeiro Fantomas foi o argentino Ali Bunani, depois o também argentino El Toro, Luizão e vários outros. O colega Gerson, que foi da Base Aérea de Canoas, conta que um major que servia lá era o Fantomas. A verdade é que, na segunda feira de manhã, não se falava em outra coisa no recreio do Estadual. O “marronzinho mais elegante de Porto Alegre”  Éldio Macedo, era o apresentador oficial. Ele subia ao ringue e dizia: “À nossa direita, lutador com 98 quilos, a fera argentina... El Duendeeeee; à nossa esquerda, lutador com 105 quilos, o misterioso Veeeerdugoooooo; e para comandar esta fantástica luta.... Cigano”. E lá vinham as sequências de traps, tesouras, torções, voadoras.... Os “malvados” seguidamente proporcionavam cenas circenses como passar limão nos olhos do adversário, trazer chicotes escondidos no calção, tudo era uma festa. E sempre acabava no terceiro assalto. Um belo dia o Ringuedoze apresentou-se em Bagé, no campo do Guarany F.C. Quem foi o primeiro a entrar? Eu, claro. Foi uma decepção! Ao vivo tudo ficava mais claro. Era uma “marmelada”. Nós não tínhamos como entender que era apenas um espetáculo, o desempenho de uma profissão: lutadores de espetáculo. Ali, no ringue montado no Campo do Guarany, bem de perto, percebemos que os socos não eram assim tão fortes, as voadoras eram ensaiadas, vencer no terceiro assalto era uma questão de programação, de seguimento publicitário. Eles eram apenas artistas e trabalhadores. Precisavam apenas garantir o anabolizante das crianças. Brigavam, se desentendiam, eram inimigos de morte, queriam ver o sangue do adversário, queriam matar. Mas somente ali, no ringue. Fora dele, eram colegas de profissão, de viagem, de trabalho. Se existisse essa pizza de hoje na época, seria o que eles iriam comer depois das lutas. Nunca mais assisti ao Ringuedoze com o mesmo interesse. Eu não queria ver ninguém se ferir, mas bem que o Leopardo poderia ter dado uma boa sova no El Duende naquela noite lá no campo do Guarany, nem que fosse só para justificar a fotografia dele que o Marinha Magazine gentilmente enviara ao seu fã número um.
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19 de março de 2010

O Almanaque do Jéca Tatu


O autor do Sítio do Picapau Amarelo chegou primeiro às crianças
através da persnagem do Jéca Tatuzinho


Politicamente incorreto hoje, o Jéca, que curou-se do amarelão,
passou a fumar charutos "fabricados especialmente para ele"


Uma leitura certa de todos nós, já bem antes de ter entrado para o Estadual, era a do Almanaque do Biotônico. O Almanaque, que trazia curiosidades, as fases da lua, frases de homens célebres (nessa época as mulheres não falavam...), tinha, como seu principal conteúdo, a história do Jéca Tatuzinho, de Monteiro Lobato. 

O Jéca, assim, com acento agudo no "e", foi baseado no personagem do mesmo nome de um dos contos do livro Urupês, de Lobato, publicado em 1918. Lobato tinha uma imagem muito negativa dos caboclos paulistas, abandonados pelo poder público, doentes e sem iniciativa. Só depois de herdar uma fazenda foi que Lobato, em contato direto com esses jecas, mudou seu pensamento sobre eles. 

A história do Jéca Tatuzinho encantava a toda criançada. Um pobre caboclo vivia com sua família no meio do mato. Doente e com "amarelão", até seus animais eram anêmicos. Um dia um doutor que passou por perto de sua casa e procurou abrigo por causa da chuva, conheceu o Jéca e receitou-lhe Maleitosan Fontoura e a Ankilostomina Fontoura... e pronto. O Jéca ficou curado de tudo. A receita não parava por ai. O doutor também receitou purgante de sal amargo "se duas horas depois de tomar a Ankilostomina não tiver evacuado..." O Biotônico então, bah! fez até o Jéca matar uma onça com um soco. Bem, nessa época também não havia ainda o Ibama. 

O interessante é que, ao final da história, Jéca, que segundo dizem, morreu aos 89 anos, havia trazido dos Estados Unidos a Televisão e tudo funcionava em sua fazenda na base da Eletricidade e com Controle Remoto. “Era só apertar um botão lá no escritório da fazenda e o cocho dos porcos se enchia automaticamente”. Conselhos de saúde à parte, o Jéca, conforme vemos na ilustração, passou a "fumar charutos fabricados especialmente para ele"

O Almanaque do Biotônico, que foi editado pela primeira vez em 1920, em 1941, chegou aos 10 milhões de exemplares distribuídos nas farmácias de todo o Brasil. Consta que em 1982 foi feita uma edição de 100 Milhões de exemplares só para distribuição naquele ano. Numa linguagem positivista, Monteiro Lobato mostra aos leitores que, além de tomar o Biotônico Fontoura, "era preciso avaliar um país não só pelo tamanho e pela quantidade de seu povo, mas pelo trabalho que realiza e pela qualidade de sua gente". A frase mais famosa de Lobato é que "um país se constrói com homens e livros".
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18 de março de 2010

"Il padrino"

A "novidade" levada pelo Sidney para o colégio
devia ser como essa do gauchinho na "casinha"...
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O Sidney Ollé mandou estas duas histórias passadas no Estadual, durante as aulas do professor Guido Machado Moraes. Numa época em que não haviam celulares, tamagotchis, handgames, MP 3, 4, 9, 10... qualquer "novidade" levada pelos colegas, para a saula de aula, fazia um sucesso bárbaro.
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"Tenho, duas histórias, ocorridas em aulas do prof. Guido, em ambas acabei com a aula dele no mesmo momento: Eu havia comprado um "padrinho" de madeira, que quando se suspendia a batina aparecia um "enorme" pênis vermelho. O Guido costumava ministrar a aula caminhando entre as classes, sempre falando, pegava um cigarro, batia no mostrador do relógio e vinha na minha direção para que eu o acendesse, sempre falando... eu levei o "padrinho" na cara dele e puxei a batina. Ficou roxo, amarelo, vermelho e etc., caiu na gargalhada e não mais conseguiu continuar a aula...dispensou todos.
Em outra ocasião ele, Guido, dando uma aula sobre prefixos: BI igual a duas vezes, exemplo: bicampeão, duas vezes campeão; bicentenário, duas centenas; bilíngue, duas línguas; biscoito...e eu, antes que ele pudesse concluir apliquei em voz alta e em bom tom: DUAS VEZES COITO. Mais uma vez ele teve que interromper a aula pois não parava de rir. Éramos muito amigos, frequentemente nós "cabulávamos" a aula (professor e aluno) e íamos caçar lebres... lebres mesmo, de quatro patas."
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Enviado pelo colega
Sidney Ollé
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17 de março de 2010

Vai parar na esquina!

Muita calma numa manhã de domingo em Bagé
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A Claudete enviou para o Blog uma série de antigos postais de Bagé. Neles se observa uma cidade com pouquíssimo movimento e um número reduzido de automóveis circulando. Claro, a fotografia deve ter sido tomada num domingo ou feriado. Pela alegoria em forma de estrela que aparece colocada no prédio ao lado do Charrua parece ser época de Natal. O Estadual já devia estar em férias... Um ônibus da Empresa Frederico aparece dobrando a esquina da Avenida Sete em direção à rua General Netto. Mesmo sendo apenas uma fotografia, consigo ver esse ônibus se deslocando bem devagar, sem pressa nenhuma, levando os passageiros em direção ao bairro São Judas. Não há roleta. O cobrador se move por entre as pessoas que estão em pé e tem entre os dedos anular e médio as notas de um, cinco, dez e até vinte cruzeiros, dobradas no sentido longitudinal. Ele coloca as notas de maior valor por baixo e as de menor valor por cima do maço. Ele olha os passageiros que sinalizaram que vão descer, ouve a insistente campainha soar mais de uma vez e diz, como parte da sua rotina: “Vai parar na esquina!” O motorista para o veículo e aciona a chave do ar comprimido que abre a porta: shshsh, os passageiros descem, e o cobrador diz automaticamente: “Leva!” E o ônibus da Empresa Frederico agora já está passando em frente a Casa Alegre, depois vai parar perto do QG, depois em frente à antiga Gelsa, vai passar os trilhos... o cobrador agora está sentado em um banco que vagou. O ônibus já passou a ponte do passo do Bernardo ali atrás da Artilharia, após os trilhos a rua é de terra batida, o pó entra pelas janelas, nenhum passageiro mais sobe ou desce, umas oito ou dez pessoas vão baixar no fim da linha. Depois ele vai fazer uma volta e vai ficar parado em direção à cidade, esperar uns 40 minutos e sair novamente. Uma senhora que usa luto fechado e sombrinha, e que vai até a Vila Vicentina visitar um parente, já está na parada há pelos menos 15 minutos. Não há pressa. É domingo. O sol de dezembro castiga a todos, não corre uma brisa sequer. Não se ouve nenhum barulho, apenas o sino da Igreja São Judas quebra o silêncio da manhã de domingo em Bagé. O velho ônibus da Empresa Frederico aciona o motor, uma fumaça escura sai pelo escapamento. A senhora da sombrinha já entrou e sentou-se no primeiro banco. O ônibus parte lentamente. O cobrador aproxima-se da senhora. Ele tem entre os dedos anular e médio as notas de um, cinco, dez e até vinte cruzeiros...
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16 de março de 2010

A Luta do Século

Eu queria ver as gotas de suor de Joe Frazier respingarem na platéia...

A televisão chegou a Bagé por esforço pessoal do Sr Araceli dos Santos Menezes, da Casa Eletromáquinas. Em uma parceria com o fabricante dos televisores Empire, foi instalada em nossa cidade uma pequena retransmissora que “baldeava”, via Pinheiro Machado, o sinal da TV Tuiuti de Pelotas, que por sua vez, recebia, via Camaquã, o sinal da TV Gaúcha, Canal 12, de Porto Alegre. Ufa! que cansaço. Mas era só o tempo “se armar” e lá se iam os capítulos dos Irmãos Coragem, os episódios de O Fugitivo e as lutas do Ringue 12 Liquigás. Que luta! Mas, mesmo assim, vimos em 1969 o homem chegar na Lua (minha avó dizia que eles nem saíram daqui...), a Copa de 70 no México, os festivais da Canção da Record e cantamos junto com Malcon Roberts, no FIC, da recém criada TV Globo, Love is all... Tudo “ao vivo e... em preto e branco”, com um magnífico “chuvisco” na imagem e um som chiado que era terrível. Mas era a televisão que chegava para ficar e as conversas no recreio do Estadual já não versavam apenas sobre futebol, namoro e cinema. A televisão já era assunto também. Foi nessa época que tivemos a transmissão da Luta do Século. Cassius Clay versus Joe Frazier. A luta entre dois boxeadores que nunca haviam perdido uma luta. Valia pela Associação Mundial de Boxe e pelo Conselho Mundial de Boxe. Era a unificação dos títulos. Em 1971, aquele inverno de agosto viera para nos dar um nocaute. Para não beijar a lona nos enrolávamos num xergão de ovelha e a mãe nos servia uma sopa bem quente. O sinal da TV andava muito bom pois haviam criado uma espécie de associação onde os proprietários de aparelhos receptores de televisão contribuíam voluntariamente com uma pequena quantia mensal, através de um carnê, para garantir a manutenção do retransmissor e pagar uma changa para um zelador, que passou a morar num puxadinho lá no alto do Cerro de Bagé. Ele era encarregado de ligar e desligar os equipamentos junto à antena. Era um clic de tarde e um clac de noite, e o zelador, um velho peão de estância, já afastado pela idade das lidas do campo, podia voltar para o seu mate e continuar ouvindo no seu velho rádio algum programa de tangos numa emissora castelhana qualquer. Ele colocava a tv no ar, mas nunca tinha chegado perto de uma. Talvez nem soubesse direito a natureza do seu trabalho. Era um clic de tarde e um clac de noite e... estamos conversados. Nada mais de domar potro xucro, castrar porco, correr eguada... era só um clic de tarde e um clac de noite. Uma barbada. Blééém! O gongo deu início ao primeiro round da Luta do Século. Cassius Clay, de quem haviam retirado as medalhas olímpicas do Boxe por não querer lutar no Viet Nan, e que por isso também havia sido preso, estava agora lá para lutar. Mas ele lutava também pelos direitos civis, não queria que os negros tivessem que continuar sentando nos bancos de trás dos ônibus, não queria ver os jovens negros não poderem cursar uma universidade e não poderem entrar nos lugares onde só os brancos entravam. Eles, os negros americanos, só podiam entrar, junto com os brancos, para o exército. Para morrer, junto com os brancos, no Viet Nan. Isso Cassius Clay não queria ver mais. Queria a paz. Na prisão converteu-se ao islamismo, agora era Mohammad Ali-Haj quem olhava, com olhos de tigre, para Joe Frazier. Era a Luta do Século que começava. E eles estavam ali, frente a frente, e na frente dos meus olhos, com direito a chuvisco e tudo mais. Blém, blém, blém... o gongo batia várias vezes para avisar aos lutadores que o round havia terminado. O árbitro tinha dificuldades em separá-los. Blééém... mais um round. Muhammad Ali ainda não acertou nenhum direto em Frazier e o frio do agosto já está nos deixando grogs... Blém, blém, blém novamente o gongo sinaliza veementemente para os lutadores, agora já o fim do 14º round. Vamos para o último. Tem que ser agora, Frazier não pode derrubar um homem da estatura de Cassius Marcellus Clay Jr, chame-se ele como quer que se chame agora. Chegou a vez do direto de esquerda, ou de direita, não importa, é preciso que Joseph William Frazier se estatele no chão, que suas gotas de suor respinguem até as primeiras filas de cadeiras. Eu agora, já não estou mais enrolado no xergão de ovelha, já pulo trocando os pés como Ali, vai soar o gongo para o último round da Luta do Século..... Blé....
shshshshshshshshshshshshshhshshshshshshshshshshshshshshsh
foi-se a imagem, foi-se o som, foi-se o 15º e último round da Luta do Século.
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O velho peão de estância, que agora zelava pelo nosso retransmissor, olhara o relógio. Era meia-noite em ponto. E ele fez... o clac! Ele fez o clac e foi para a cama dormir o sono dos justos e sonhar com o tempo em que domava potros xucros, castrava porcos e corria eguada.
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Lembro que meu pai, no outro dia ao saber do fato, rasgou o carnê da associação e bradou em alto e bom som:
“Não pago mais essa merda!”
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15 de março de 2010

São as "aulas" de março fechando o verão...

A movimentação dos jovens no início do ano letivo de 2010
traz o Estadual de volta à Vida!

Assim como o ano, para muitos, só inicia em março, depois do Carnaval, o Verão também, para muitos, já termina quando as aulas reiniciam em março. É um divisor de águas, são as "Águas de março", como disse o Tom Jobim, fechando o Verão. A calmaria das férias no colégio vista por detrás das grades (1) termina e a fruição reinicia. A movimentação dos jovens devolve ao velho Estadual sua razão de ser. A juventude toma conta das salas de aula, do Auditório (2) e do Pátio (3) . E lá no Pátio estão as Espirradeiras, (4) as mesmas Espirradeiras que nos deram sombra, que ouviram nossas confissões, nossas declarações de amor, nossas exclamações por uma nota baixa... É muito bom ver tudo isso de novo. A emoção toma conta de nós ao olhar a foto enviada pela colega Liliana. Tudo está lá. O burburinho, as conversas, o início das novas amizades, (5) as gurias e os guris do Estadual colorem novamente o Pátio com suas Espirradeiras. Viajamos no tempo e lá enxergamos o professor Contreiras tirando baforadas de seu cachimbo, o Naguinho juntando a turma para ir até a quadra, Reny, Catalino, Sylvinha, Gesner, Juca, Clementino, Pery, Guido, Elsie, Antonio Gomes... todos estão lá. Estão na nossa memória, nos nossos corações, na história da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Carlos Antonio Kluwe, o nosso Estadual. Atenção: bateu! Vamos entrar! As aulas vão começar.
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14 de março de 2010

Antigos mestres - VI, Eva da Nova

Na foto, enviada pelo Ézio Sauco, aparecem, da esquerda para direita: Yeda Barros Coelho, professora de língua portuguesa e graduada em medicina veterinária, já falecida, sr. João, cidadão uruguaio de visita a cidade, professora Maria Helena Martinuzzi Buriol, professora de Artes que reside em Santa Maria, Ildara Barros Coelho, professora municipal, já falecida, professora Eva da Nova, Maria Helena G. Pedroso, artesã, residente em Bagé, Ieda Coelho Martinuzzi, professora de Artes, de Santa Maria, já falecida. A foto foi tomada durante jantar de aniversário da professora Ildara, amiga que residia junto com a professora Eva da Nova.

Hoje vamos falar de uma professora muito especial do nosso Estadual. A professora Eva da Nova. Ela já foi citada em dois outros posts: Les Chauffeurs - IV, de 8 de janeiro, e No "Ritmo da Chuva", de 13 de março. Eva da Nova foi uma das melhores professoras de Matemática de Bagé. Todos que foram seus alunos são unânimes em relatar a forma segura e pacienciosa como passava os conteúdos em sala de aula. Tendo feito sua formação pedagógica no Rio de Janeiro, ensinou e encantou gerações de alunos que posteriormente tiveram seguimento em seus estudos nas áreas de matemática, engenharias e afins. Lamentavelmente, com o golpe militar de 1964, a professora Eva da Nova, junto com outra dezena de professores do Estadual, foram denunciados por atividades subversivas (1). Muitos foram simplesmente depostos de seus cargos e outros, que tinham um tempo maior de serviço, aposentados de forma especial. Perdeu o Estadual, perdeu Bagé, perdeu a Educação. Quem ganhou? Ninguém. Muitos esperaram, afastados de seus cargos, até 1970 para serem absolvidos pelo Superior Tribunal Militar, quase dez anos depois quando, pelo passar do tempo, já deveriam estar mesmo em idade de aposentadoria... O resto todos sabemos. O desmonte e o sucateamento da Educação com a implantação de sucessivas "reformas do ensino" que fazem com que hoje um professor ganhe em torno de um miserável salário mínimo. Hoje, certamente, devem existir outras Evas da Nova... Mas, os tempos são outros, e há um vácuo de trinta anos onde a ausência dessa dezena de professores denunciados, afastados, e depois absolvidos em sua maioria, fez muita falta na qualidade de nossos alunos. Os denunciados, como a professora Eva da Nova, tem, ainda hoje, o reconhecimento de seus antigos alunos e admiradores. Os denunciadores também fazem parte da história e da memória, mas não terão um post em sua homenagem neste Blog. A professora Eva da Nova faleceu por volta de 1997. Até hoje, ao que se sabe, não foi feita qualquer homenagem a ela. Será que não está passando da hora?
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(1) Um texto do advogado George Teixeira Giorgis, publicado recentemente na imprensa local, intitulado: "Bagé, 1964: 45 subversivos", conta boa parte dessa história.
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13 de março de 2010

No "Ritmo da chuva"

Hoje sobra apenas o tronco da Estremosa...


... que deu um banho no inspetor Wilson no pátio do Estadual.

Um episódio cômico nos foi contado pela colega Clara Marineli, sempre de memória prodigiosa com os detalhes, envolvendo o Inspetor Wilson (1) e tendo como figura coadjuvante a Profa Eva da Nova. O Inspetor Wilson foi da nova equipe de contratados. O Estadual já ficava grande no final da década de 50 e ja à vista do anos 60. O inspetor Catalino Brasil Machado já não dava conta de cuidar da gurizada que crescia em número, a cada ano. Na nova equipe, entraram os Inspetores Wilson Lucareli e João Olaves. Lembro bem da estréia deles. Este último aparece no post "Nas Asas da Panair". O João Olaves, inicialmente, muito tímido, quando designado para cuidar uma turma sem professor, ficava postado na sala de aula, frente à turma, próximo a porta, olhando para todos imóvel e calado. Depois, naturalmente, com o passar do tempo, começou a ficar "complicador". Já o Inspetor Wilson era mais extrovertido e já "complicava" desde o início.
Um dia, na quarta série ginasial, em 1963, em plena primavera, com a turma já pensando nas provas finais, houve um desentendimento entre a Clara e o Inspetor Wilson. Tudo começou com a falta de um professor. E, como era hábito no Estadual, um inspetor de disciplina foi "tomar conta" da turma para evitar a desordem. Habitualmente, o inspetor ficava com um caderninho anotando os nomes dos alunos que saiam da linha, conversando, levantando do lugar e outras coisas, na verdade, sem grande importância. Logo no início dessa aula sem professor aconteceu um bate-boca entre a colega Clara e o Inspetor Wilson que estava encarregado de cuidar da turma. O motivo é que ele confundira a Clara com outra colega e porque estava assumindo como autora da “desordem” e defendendo a outra aluna inocente. Em certo momento, ela não aturou mais a intransigência do Wilson, levantou, foi até ele e arrancou o caderninho de anotações das suas mãos e saiu da aula correndo e, naturalmente, o inspetor correndo atrás! A essa altura já havia uma platéia de colegas seguindo-os pelo pátio afora. Havia chovido há poucos minutos. A colega logo vislumbrou uma brincadeira comum nessa época, uma "pegadinha" como se fala hoje. Sussurrou rapidamente ao ouvido de um colega que avisou os demais para assistirem. Tinham sido plantadas "Espirradeiras" e "Estremosas" no pátio, os caules ainda eram finos e vergáveis. Estavam com as folhas completamente carregadas com as gotas da chuva. A Clara se dirigiu até uma dessas árvores e ficou embaixo dela. Com uma das mãos no caule e a outra brandindo o caderninho e provocando o Wilson: "Vem pegar se tu és homem!", dizia. Ele, imediatamente, foi até debaixo da árvore onde ela estava inocentemente. Quando ele chegou bem perto, a Clara, de pronto baixou a mão com o caderninho e com a outra sacudiu forte o caule da árvore tomado pela chuva. Resultado: um inspetor todo molhado (2) e uma gargalhada geral dos colegas que assistiam. Mas a comédia pastelão não terminou aí. Ela partiu correndo até o banheiro feminino, mas ele a seguiu, entrou lá, lugar onde não lhe era devido, e conseguiu arrancar o tal caderninho das suas mãos. Imediatamente já sentenciou uma suspensão de "uma semana, no mínimo!" Como na aula a seguir haveria prova de matemática com a professora Eva da Nova, e ela ficou sabendo do episódio e da "sentença", saiu na defesa da aluna. Ela foi taxativa, falando alto e veemente, como lhe era peculiar : "Vais fazer a prova agora e se fores suspensa eu não vou dar aula". Depois da prova, a professora foi falar com o diretor, na época o professor José Albino Avancini, e a suspensão foi anulada, devido ao comportamento do inspetor e a invasão indevida ao banheiro femininio. Esse relato, segundo a Clara, é preciso em todos os detalhes e não tem qualquer elemento de ficção.
Portanto, como vemos, as brincadeiras e as situações inusitadas sempre fizeram parte da nossa vida diária no Estadual e muito contribuíram para manter o coleguismo, a amizade e, principalmente, para marcar a nossa memória nesses anos lá passados e podermos contar para as atuais gerações de alunos, que também fomos guris e gurias como hoje eles são, tentando estudar bastante, mas, também, fazendo as brincadeiras sadias terem um lugar garantido no curriculum vitae de cada um.
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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(1) Não será falta de respeito, e nem de memória, lembrar que o inspetor Wilson tinha o apelido de Capincho. Ele odiava esse apelido e muitas vezes desentendeu-se com alunos e professores em virtude disso. Quando passava por um grupo sempre alguém, em tom meio baixo, sussurava: "tchimbum!", (barulho que uma capivara faz ao mergulhar) e lá vinha a bronca prá cima do grupo... Mas isso não impediu que ele também fosse, fora do horário de expediente, amigo de todos e muito brincalhão. Depois que se aposentou do serviço público o inspetor Wilson trabalha como cobrador e é sempre visto pela cidade com uma pastinha própria da atividade.
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(2) As brincadeiras nunca passaram disso. Bem diferente do que ocorre hoje, quando o diretor do Carlos Kluwe, o nosso colega professor Palomeque, teve que tomar atitudes bem mais sérias com relação aos fatos acontecidos nesta semana. Veja o link do jornal Minuano On Line:
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12 de março de 2010

Les Chauffeurs - VII

A Vemaguete do professor Boaventura era uma novidade

O professor de desenho, Boaventura Miele da Rosa, que já teve um post dedicado a ele, em "Antigos mestres V", também é lembrado nesta série. Entrou para a galeria dos "Chauffeurs" porque dirigia uma flamante DKV Vemaguete, a camioneta derivada do carro (1). Eram aquelas que abriam a porta ao contrário, como alguns carros europeus, o que fazia o motorista entrar no carro de uma maneira um tanto esquisita, isto é, de costas, e não de lado, como o padrão. Só muito tempo depois a Vemag mudou esse estilo de abrir as portas dos seus carros. A colega Clara Marineli lembra do professor desfilando pela cidade com os filhos, na sua vemaguete azul escuro, levando ou trazendo a turma dos colégios. Quando ia dar aula no Estadual, deixava aquele carrão estacionado na frente do colégio, enquanto, na sala de aula, ia desvendando os mistérios do ponto, da reta e do plano, em seus balés no espaço. O professor Boaventura era muito competente na sua área. Sempre trajando com elegância, terno e gravata borboleta, sua característica, postando-se diante do quadro, munido da batuta de giz colorido e suas réguas, esquadros e compassos, o mestre regia para seus alunos um concerto de traços, curvas, espirais, parábolas e "gregas". Explicava meticulosamente e repetia com paciência, quando havia dúvidas. As suas aulas de "Projeção de um sólido no plano vertical e horizontal" e a operação inversa, que consistia em desenhar o sólido a partir das projeções nos dois planos, foram fundamentais na classificação, para quem fez o último vestibular em que entrou a disciplina desenho, na UFSM, na área das exatas (engenharias, física e matemática). Os seus ensinamentos na arte do desenho ficavam ainda mais fixados, quando precedidos pelas rápidas, virtualmente, aulas de ilusionismo, como foi magicamente descrito pelo Vaz, no post citado anteriormente. Um grande mestre para ser lembrado, um duplo artista, que fazia da sala de aula o seu palco, construindo, ao pé da letra, um ambiente mágico, para encenar para seus alunos, de maneira agradável, os passos da terceira arte.
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(1) Detalhes de física e química para lembrar os bons professores dessa área do nosso Estadual: Os carros da DKV(2) tinham uma característica incomum, o motor "a dois tempos", como o das motos antigas, ao contrário do consagrado "a quatro tempos". A lubrificação era feita pelo óleo que era adicionado na gasolina, na hora do abastecimento. A mistura ar-gasolina, que era sugada para dentro do cilindro, carregava o óleo que lubrificava as paredes internas deste, antes de ser parcialmente queimado junto com o combustível. Daí derivava o problema da carbonização na cabeça dos pistões, principalmente quando se usava um pouco a mais da quantidade recomendada pelo fabricante, para melhorar a lubrificação, o mesmo que acontecia com as motos a dois tempos. O motor tinha um ruído bem característico, "pipocado", como o de uma moto, quando em baixa rotação. Os motores a dois tempos são mais simples, tem menos peças móveis, não tem válvulas de admissão e escapamento e comando de válvulas, entre outros componentes, datalhes que faziam eles mais competitivos para potências pequena e média (moto e carro), porque custavam menos. São mais poluentes, pois a combustão é muito mais incompleta e ainda queimam o óleo misturado na gasolina. Mas, com o advento de motores a quatro tempos mais econômicos, com ignição e injeção eletrônicas e o encarecimento dos combustíveis, eles perderam lugar no mercado. Hoje, o seu uso é restrito, como em motosserras, bombas para água, cortadores de grama, minimotores para aeromodelismo, entre outros usos.
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio

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(2) DKW significava inicialmente Dampf-Kraft-Wagen, "carro de força a vapor", pois os primeiros produtos da empresa foram pequenos motores a vapor. Quando a empresa começou a fabricar os motores "dois tempos" movidos a gasolina os pequenos motores foram adptados para carros de brinquedo que passaram a ser chamados de Des Knaben Wunsch, "o desejo dos meninos". Tempos depois outra versão desses motores foi adaptada para motocicletas com a denominação Das Kleine Wunder, "a pequena maravilha". Esta denominação permaneceu e constou de vários textos promocionais da marca por todo o mundo.
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11 de março de 2010

Às nove era o jogo

Carlos, que virou corinthiano, continua com uma visão "jalde-negra" do mundo

Pois outro dia encontrei nessa via intergaláctica da web o Carlos Moraes (1). O Padre que nos dava palestras e comunhão na Páscoa dos Estudantes no Estadual. Embora, como ele mesmo diz, tenha uma visão "jalde negra" do mundo, virou corinthiano e mora em São Paulo há quase quarenta anos. O Carlos já publicou vários livros, mas o primeiro a gente não esquece: O Lobisanjo, ainda quando “morava” no prédio da esquina da Barão do Triunfo com Dr. Veríssimo, em frente ao XV. A cela que ele ocupou, segundo o Sérgio Saraiva, passou a expor flores, frutas e legumes pois a cadeia virou mercado... O Carlos, que é das "Lavra", confessa que quando escreve só tem Bagé como referência de seus primeiros anos de vida. Ele vai mandar um texto para o Blog, mas por enquanto, para relembrar as palestras da Páscoa dos Estudantes, publicamos um texto do Lobisanjo que me foi resgatado pela amiga Dra Maria Luiza Silveira que é psicóloga e tradutora. Poucos escritores conseguem significar tanto as palavras como o Carlos. Confesso que também achei que o jogo não sairia, embora estivesse marcado para às nove. Pois às nove choveu. E às nove era o jogo...
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Às nove era o jogo (2)

NO PRINCÍPIO era a chuva. E pulo n’água, atacação de barro, nariz pingando, e banho quente, cachacinha, sova. Sova esquentava mais e prevenia com mais autoridade os vírus de futuras gripes. Diziam os antigos.
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Depois a vida se veio, nos fêz sábios, torcedores do Grêmio Esportivo Bagé e outras coisas importantes.
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Pura ilusão. Basta uma chuvinha para nos quebrar os óculos e levar na correnteza êsse ar respeitável que a vida, coitada, nos deu.
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Ontem era dia do presidiário e lá na cadeia saiu missa e futebol, que cristão e brasileiro todo mundo era.
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Pois às nove era o jogo. E às nove choveu. E não saiu o jogo, dirá o compadre Meléu, homem provecto. Patrícios les digo: saiu o jogo. Com chuva saiu o jogo. Era água correndo e bola rolando e gente caindo e padre berrando e guarda torcendo, no barro todas as respeitabilidades. A partida terminou quando estava dando jundiá lá pelo gol do Honorato. 2x2.
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(1) Carlos Machado Moraes, nasceu em Lavras do Sul mas veio cedo para nossa cidade. Morou nas "Popular", ali perto do “Grondi” do Bagé, e não estudou no Estadual. Ordenou-se padre e trabalhou muito tempo nas cidades pertencentes à Diocese. Ainda no início dos anos 70 foi para São Paulo onde, desde então, trabalha como Editor, Jornalista e Escritor. Tudo com Maiúscula. Atualmente está escrevendo o livro dos Cem Anos do Corinthians, embora, desejasse mesmo escrever sobre os cem anos do Grêmio Esportivo Bagé. Irmão do professor Guido Machado Moraes, já falecido, (ver o post Felizes? Sim...) o Carlos passou por várias atribulações que lhe deram o apelido de padre vermelho e uma residência temporária na Cadeia Civil. Publicou, entre outros, os livros O Lobisanjo, A vingança do timão, Desculpem, sou novo aqui e Agora Deus vai te pegar lá fora..
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(2) Crônica XXVII, do livro O Lobisanjo, de Carlos Moares.

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10 de março de 2010

Lembranças no papel

A nota "100" foi merecida, certamente!

Assinaturas de pai e mãe se sucedem de uma forma agora explicada

(Clique nas imagens para aumentar)

Sempre que posso repito: Este Blog, que procura contar as histórias passadas dentro e fora do nosso Colégio Estadual, nasceu sob a inspiração do tópico “Alguém da Velha Guarda” criado pela colega Claudete na comunidade Passei pelo Carlos Kluwe, do Orkut. Mas faltava ela, a Claudete, participar. Esta semana ela mandou uma história muito comovente e que está, sem querer estar, registrada no seu boletim de notas do Estadual. Vejam só:.

"Esse é o meu boletim do 2º Científico. Segundo e último ano que estudei no Estadual. É cheio de recordações! Em agosto meu pai (1) adoeceu e faleceu em setembro. As faltas e notas nesse período foram marcantes. Lembro que estudei demais e apresentei um trabalho de química praticamente chorando. Meu trabalho foi bom, mas, com certeza, aquele “100” teve uma ajudinha do professor para que eu não ficasse em exame. A mesma compreensão com uma adolescente de 16 anos que vivia aqueles dias de grande tristeza, não tiveram alguns professores, mas ainda bem que a nota foi suficiente. A visão das assinaturas do meu pai até junho e, depois, da minha mãe, trêmula pela situação que estava vivendo, ainda me apertam o coração. Mas são lembranças que a gente carrega num simples papel..."

Enviado pela colega
Claudete Costa Macedo
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(1) O pai da Claudete foi Escrivão e trabalhou em vários distritos de Bagé como Pirai, Olhos D'Água, Colônia Nova e Aceguá. Muitas vezes, trabalhando na Caixa Econômica Federal, a Claudete defrontou-se com certidões lavradas e assinadas pelo Escrivão João José Costa, seu pai. Deve ser emocionante passar por uma situação assim...
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9 de março de 2010

Yes, we have a Miss - II

Olha só a "filha do Gérson" no Minuano Online
em foto do Glauber Pereira


A edição de hoje do Minuano Online publica matéria sobre a Dafne, "a filha do Gerson", que esteve visitando Bagé na condição de "Princesa do Brasil e Mundo, 2009". O nosso colega do Estadual, que está corujando a bela filha, informa o link do jornal para leitura completa da matéria. Parabéns Gerson, a menina puxou a mãe!
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Leia a notícia completa em
http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=48147&busca=1&palavra=dafne
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8 de março de 2010

Por isso não provoque...

Leila, um símbolo feminino do Brasil


No dia consagrado às Mulheres o Blog homenageia todas as mulheres do Estadual (e do mundo) com a letra da música da Cássia Eler, Todas as mulheres do Mundo. Claro, para ilustrar, nada melhor que a imagem da mulher brasileira que mais agitou os costumes na era moderna:
Leila Diniz


Diga que me odeia
Mas diga que não vive sem mim
Eu sou uma praga
Maria sem-vergonha do seu jardim
Mães assassinas
Filhas de Maria
Polícias femininas, nazis judias
Gatas, gatunas
Quengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz
Garotas de Ipanema
Minas de Minas
Louras, morenas, messalinas
Santas sinistras
Ministras malvadas
Imeldas, Evitas
Beneditas estupradas
Toda mulher quer ser...
Paquitas de paquete
Xuxas em crise
Macacas de auditório
Velhas atrizes
Patroas babacas
Empregadas mandonas
Madonnas na cama
Dianas corneadas
Toda mulher quer ser...
Socialites
Plebéias
Rainhas decadentes
Manecas alcéias
Enfermeiras doentes
Madrastas malditas, super-homens zapatas
Irmãs La Dulce beaidétificadas

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7 de março de 2010

O pai da Teté

Bagé prepara-se para comemorar seus 200 anos. Dentro deste espírito o Blog da Velha Guarda do Estadual tem procurado através de suas postagens resgatar a história e a memória não só do Estadual mas também da cidade. Falamos de acontecimentos, de lugares e de pessoas. E, sem dúvida, uma das figuras mais raras que viveu em nossa terra foi Pedro Wayne. Recentemente sua obra foi motivo de estudo pós doutoral da professora da UFPel Dra Cristina Rosa. Pedimos a professora que escrevesse para o Blog sobre Pedro Wayne. Atendendo-nos de forma muito gentil a professora Cristina nos brindou com este magnífico texto que reproduzimos a seguir para os nossos leitores.

Capa do livro sobre Pedro Wayne escrito pela Dra Cistina Rosa
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Um Alfabeto à Parte:
Biobibliografia de Pedro Rubens de Freitas Weyne, o Pedro Wayne
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Cristina Maria Rosa (1)
.. .O escritor Pedro Wayne viveu e escreveu na primeira metade do século XX. Seu livro mais conhecido é “Xarqueada”, uma obra encantadora, repleta de um Rio Grande do Sul que sempre existiu. Nascido em 1904 em Salvador, veio menino para Pelotas. Aqui, viveu entre bailes no Caixeiral, aprendizados nas praças e ruas e estudos, muitos, no Gonzaga e Pelotense. Foi um dos que trabalharam no Banco Pelotense, em Bagé, quando esse, o banco, era uma potência no Brasil.
Em Bagé, Pedro viveu a adultez, casou-se e teve filhos, escreveu muito e influenciou pessoas. É considerado um “animador cultural” por todos os que integraram o “Clube de Bagé”, nome dado a um grupo de desenhistas, gravuristas, pintores e poetas que, influenciados por Danúbio Gonçalves, criaram o “Clube de Gravuras”. A influência exercida sobre os jovens de Bagé é reconhecida pelos laços que Pedro mantinha com os modernistas, de Oswald e Mário de Andrade a Menocci Del Pichia.
O grupo foi denominado “Novos de Bagé” por Clóvis Assumpção: nele, Pedro foi uma figura respeitada, um interlocutor generoso que possibilitou o nascimento organizado da arte de vanguarda. Entre esses “novos” estiveram, entre outros, Glauco Rodrigues, Jacy Maraschin, Glenio Bianchetti, Ernesto Wayne, Fernando Borba, Tarcisio Taborda, Mario Lopes, Paulo Passos, Dr. Bidu e eventualmente o poeta Poty Reis.
Precocemente falecido em 1951, o poeta e romancista foi editado no Rio Grande do Sul (Globo, 1931, 1935, 1943 e 1947) e no Rio de Janeiro (Guanabara, 1937 e Pongetti, 1942). Sua obra é pouco conhecida e muito rara. Entre seus textos inéditos, encontrei um manuscrito que estava entre os guardados familiares: é um interessante livro de literatura infantil escrito por Pedro para “alfabetizar” a filha Ester, à época, com quatro ou cinco anos.
Composto por três manuscritos – “Histórias da Teté”, “Outras Histórias da Teté” e “Continuam as Histórias da Teté” – o conjunto foi conservado por aproximadamente 70 anos entre documentos, fotos, livros e demais lembranças na família de Pedro Wayne. Foi a partir desse legado que pude conhecer – e registrar – a história desse modernista brasileiro, autor de obras valorosas e quase um desconhecido na historia da literatura.
Em “Um Alfabeto à Parte: Biobibliografia de Pedro Rubens de Freitas Weyne, o Pedro Wayne” – livro que publiquei em 2009 e dediquei à Leopoldina Almeida Calo Wayne (viúva do escritor), ao gravurista Danúbio Gonçalves e ao poeta e amigo de Pedro, Poty Reis – pude explorar a biografia de Wayne, sua produção, seus amores e seu legado.
Com a obra “Um Alfabeto à Parte...” obtive o reconhecimento de Regina Zilberman, uma das maiores autoridades em Literatura no Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, através do selo de apoio editorial, e da Editora Praça da Matriz do amigo de Pedro, José Carlos Teixeira Giorgis. Esse reconhecimento se deve, com certeza, a obra de Pedro, a preservação de documentos raros que a família me oportunizou conhecer e, também, ao tratamento que dei a seu legado.
Hoje, “Histórias de Teté” já tem uma edição própria, cuidado que o antropólogo e professor da UFRGS Sérgio Teixeira teve com os originais. Esse cuidado oportunizou que “Histórias da Teté” passassem a integrar a História da Cultura Escrita – em especial a historiografia da literatura infantil.
Ao investigar a importância de “Histórias de Teté” na História dos Métodos de Ensino da Leitura e da Alfabetização no Brasil percebi que ele era mais que um “manual” ou “cartilha” para ensinar a ler. Pelo contrário, poderia ser filiado à literatura infantil emergente à época, representada pela obra de Lobato e, logo depois, Érico Verissimo. Para Zilberman (2009) a criação do livro indica a sensibilidade de Wayne, pois, segundo a estudiosa, “ainda que no âmbito privado e sem pretensões de torná-lo público, Pedro Wayne pode “dar vazão a um texto inteiramente revolucionário que, passados quase setenta anos de sua elaboração, mostra-se ainda novo e inovador, como se tivesse vindo à luz há muito pouco tempo”.
.Créditos:
ROSA, Cristina Maria. Um Alfabeto à Parte: Biobibliografia de Pedro Rubens de Freitas Weyne, o Pedro Wayne. Apresentação: Regina Zilberman. Editora e Gráfica da UFPel: Pelotas, RS, 2009.
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(1) Cristina Rosa, natural de Santa Rosa, noroeste do Rio Grande do Sul, estudou em Santa Maria (na UFSM - Pedagogia e Mestrado em Educação) e em Porto Alegre (na UFRGS - Doutorado em Educação). Atualmente prepara-se para conhecer Minas Gerais onde realizará estágio pós-doutoral (UFMG). Na UFPel é professora do Curso de Pedagogia e, eventualmente, de outros cursos. Adora ler, tem um programa de rádio durante a feira do livro na Rádio Federal FM, 107.9 Mhz, da UFPel. É mãe do Guillermo e amiga do Vaz". (2)
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(2) Pedi para minha amiga Cris "cinco linhas" para colocar aqui neste lugar. Não cortei nada...
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