Um jovem grego acompanhado à
palestra pelo seu pedagogo.
(Figura retirada da pintura de um vaso)
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O Espírito do Mestre!
J.J. Oliveira Gonçalves
O professor deveria ser um ser
feliz. Mas não o é. Pelo menos, é o que penso. Fruto dos meus 30 anos de
magistério - sempre exercendo meu trabalho na sala de aula. Dos bancos da
faculdade levamos conhecimento e uma cultura geral - que adquirimos da convivência
com nossos professores e com outros mestres silenciosos que falam conosco e nos
aconselham, através de páginas e páginas dos tantos e tantos livros que passam
a ser dedicados e esclarecidos companheiros do dia-a-dia. Sou sempre grato às
aulas, aos diálogos - dentro e fora de aula - com professores e professoras que
me informaram, me aconselharam, me sugeriram, me ensinaram sobre a arte e o
fraterno ato de ensinar, quando no Curso de Letras da PUC: Línguas, Didática,
Pedagogia, Psicologia, Sociologia, Filosofia, Cultura-Geral. A todo essa carga
de informações, aliamos o indispensável Idealismo que já devemos trazer dentro
de nós. Assim munidos, adentramos o campo vasto, belo e colorido da Educação -
do ensinar, do batalhar, do semear e do colher, tendo consciência de que o ato
de ensinar é um ato antigo e sempre desbravador na Pauta da Vida, por ser
grandioso e ímpar, um ato de doação, (não confundir, por favor, com o tal
sacerdócio!), um ato eminentemente fraterno, onde o egoísmo não cabe nem a
pueril e frágil vaidade humana! Penso muito claramente que o sacerdócio é para
o religioso. Da mesma forma que o magister não pode ser confundido com uma
nomenclatura moderninha, criada de uns tempos para cá, que, simplesmente, (e de
infeliz idéia!), quer transformar o ser emblemático professor em mero
trabalhador em educação.
Lecionei por mais de 30 anos em
Porto Alegre. Nesse tempo, dei o melhor e o mais jovem de minha vida, mas
jamais deixei de mostrar minhas idéias, pois nunca tive vergonha de trazê-las à
tona, debatê-las, defendê-las. E por ser um professor desse jeito e nesse
formato, conquistei o respeito e o companheirismo da grande maioria de meus
alunos e alunas. Por outro lado, essas audácias todas de um simples professor
de sala de aula, me obrigaram a passar pelas salas de aula de 12 escolas
estaduais! Com certeza, passei o que sabia e o que podia para meus alunos. Sei
que aprenderam bastante comigo - e aqui não serei modesto em afirmar. Todavia,
aprendi muito com eles, sobre a Vida e os fatos que nela se desenrolam... Sobre
as carências. Sobre o encantamento dos Sonhos. Sobre a beleza da Amizade - que,
para mim, é uma das mais latentes nuanças do Amor! (E não é o próprio ato de
ensinar um imensurável e gostoso Ato de Amor??) Com certeza - e ainda - minha passagem
pelas 12 escolas me ensinou dolorosamente sobre os desgastantes e torturantes
atos de (des)amor do bicho-homem, de suas vaidades, de suas conveniências e
conivências, de seus tão fugazes apegos a cargos, a poderes, a sistemas
governamentais ditatoriais, cáusticos, apodrecidos... Infelizmente, até hoje,
têm diretores(as) que se pensam proprietários(as) de escolas públicas.
Esqueceram que professor(a) é uma profissão e que diretor(a) é apenas o
exercício de um cargo que pode vir a exercer. Além do que, não aprendeu, ainda,
o significado da palavra latina respublica...
Há 9 anos, (e me parece mentira!),
estou aposentado. Em meus doces delírios de professor, quantas vezes pensei em
voltar a lecionar algumas manhãs - que é o turno que sempre preferi para
estudar e para lecionar. De repente, olho o "quadro negro" do
Magistério e penso: "Meu Deus, estou tendo uma recaída"... É triste
pensar assim? Sim, é! Esse pensamento vai além da tristeza: é deprimente! Mas,
fazer o quê? Fazer o que faz o avestruz? Não. Nunca incorporei essa triste
metáfora! Portanto, não será agora que a incorporarei.
Hoje, 15 de Outubro de 2012... Mais
um "Dia do Professor". Quem ainda lembra dessa pessoa, desse
profissional - desse homem e dessa mulher que já tiveram dias de reconhecimento,
de glórias, de vitórias? Que já tiveram - por seu papel relevante e reconhecido
- o Respeito da Sociedade e dos governantes?
Desculpem, se pareço cético... Mas,
hoje, quem me dera dizer: "Tudo como dantes, no velho quartel de
Abrantes"... Mas, nem isso posso dizer... Afinal, tudo está bem pior na
longa e incógnita Caminhada do professor... Derrocada do Saber? Será que
governantes e sociedade quebraram o Espírito do Mestre?? Ah, só o Tempo - Velho
Mestre - há de nos contar, um dia... Em detalhes e... sem censura!
JJ de Oliveira Gonçalves
Porto Alegre, 15 de Outubro - Dia
do Professor/2012. 11h27min
jjotapoesia@gmail.com -
www.cappaz.com.br
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Um comentário:
Caro Vaz...
Grato, pela publicação dessa crônica com uma pintura realista sobre o descaso com que o professor é tratado, tanto pelos governos (que lhe devem respeito e salário) quanto pela sociedade em geral (que lhe deve reconhecimento e respeito).
Há muito tempo, eu não fazia o exercício de escrever sobre o Magistério. Mas, ontem, por alguma razão, sentei à frente do PC e me pus a escrever.
Releio essas linhas e vejo que elas são apenas um sopro, num universo de queixas e indignações, tantas são as mazelas que os maus-tratos governamentais continuam a infligir sobre a Classe. Infelizmente, pagam o que querem, como querem e quando querem... Ora, que democracia é essa - feita de atos explícitos de uma ditadura deletéria e intocável? Então - nestes decantados "ares democráticos" - os "arautos" que decantam tais ares são os mesmos senhores fora da Lei que nem a Justiça alcança??
Pois é, Vaz... Ontem, me lembrei e agradeci, (no silêncio saudoso do coração!), às professoras e aos professores que tive no "XV" e no "Estadual". Professoras e professores bem vestidos. Havia elegância, nos vestidos, nas saias, nas blusas, nos sapatos... Eles? Usavam ternos bem cortados e gravatas elegantes... Ah, o nosso Boaventura tinha uma coleção de gravatas-borboleta...
Nós? Ah, nós, alunos, íamos à escola em busca do aprender, em busca do Saber... Mestres e Mestras nos passavam conhecimentos, nos ensinavam, nos abriam os horizontes com suas experiências de vida... E íamos para a escola levando, entre nosso material didático, a EDUCAÇÃO - aquela - que recebíamos em casa de nossos esperançosos pais!
Pois é, Vaz... É isso... Sei que o Passado foi melhor e que os tempos mudaram (para pior!). Todavia, deixando de lado qualquer pieguice ou saudosismo, o RECONHECIMENTO e o RESPEITO aos Mestres não deveria ter morrido - como morreram Tradições e Sentimentos outros - que provamos e com os quais fomos criados, graças a Deus e a existência diuturna da instituição FAMÍLIA!! Essa dinâmica e indispensável instituição encarnava, (concretamente!), a metáfora de "Célula Mater" da sociedade - não é mesmo?
Com franciscano abraço!
JJ!
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