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Acima: Ernesta e Opheclides em dois momentos. Abaixo Ophinizia, Ernesta e uma criança não identificada. |
As crianças Guasque e o fotógrafo Greco
Gerson Luis Barreto de Oliveira
Criança hoje em
dia é o centro das atenções de uma família. Escola, aulas de futebol, tênis,
inglês para os meninos. Para as meninas, ballet, jazz, e o que mais elas
inventarem, para as mais dispostas de aulas de dança do ventre a cursos
impensáveis para outras épocas. E bota pai e mãe correrem de um lado a outro,
em intervalos apertados das suas profissões, a carregar os pequenos.
Na nossa Bagé da
virada do século XIX para o XX as crianças recém começavam a despontar como elemento
catalisador da atenção dos pais para a formação, lentamente foram ficando mais
afetivos com seus filhos, e a educação entrando na ordem do dia.
Do histórico da
França pré revolucionária a grande escritora Elisabeth Badinter criou o
polêmico livro " O Mito do Amor Materno ". Onde fala das condições
desumanas, e antimaternais, que a França, da Idade Média até a Revolução
Francesa, tratava como um todo às crianças. As mães, e diga-se aí as mulheres
das classes altas, mandavam os filhos para o interior, para serem criadas com
amas de leite, muitas morriam, as condições de higiene eram péssimas, não
existiam remédios.
Depois ficou
"chique" trazer a ama para dentro de casa. Já na Inglaterra onde a
Rainha Vitória marcou uma época, reinando por décadas até o ano de 1901, o
moderno era criar as crianças por perto. Esta rainha se mostrou o protótipo a
ser seguido como mãe, e com um filho por ano ela determinou todo um tipo de
comportamento, do currículo do que era para ser ensinado, às roupas para seus
filhos, tudo era avidamente copiada por toda mãe ocidental.
As meninas com
um ar de pequenas damas eram imersas em rendas e babados, para os meninos era
reservado o traje de marinheiro, ou pequeno soldado estilizado.
Nos primeiros
anos das crianças, governantas e mestras eram contratadas para educar os
filhos das grandes famílias, e isto foi uma realidade também na nossa Bagé, os
grandes estancieiros ousavam trazer professoras francesas para os filhos.
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Poly Guasque |
Nas famílias não
tão favorecidas, a filha mais velha tinha um melhor preparo, e assim poderia
ajudar na educação dos irmãos. Para os meninos do início do século já havia
instituições religiosas que davam orientação para o ensino.
Um artista iria
captar tudo isso com suas lentes de fotógrafo. José Greco era um italiano que
chegou em Bagé nos estertores do II Império, tinha convivido com um companheiro
seu, Ricardo Giovanni, este além de fotógrafo se dizia pintor, cantor, ator,
cenógrafo, juntos fizeram um estúdio na Bagé do século XIX. Mas antes
trabalharam em Pelotas, fizeram a cenografia do Teatro 7 de Abril.
Greco tinha seu
estúdio na Belle Époque da nossa Rainha da Fronteira, como homem do mundo
retratava as famílias opulentas ou não, nas poses definitivas de cada um, vemos
como era a sociedade de então.
E a família
Guasque muito usou os seus serviços para retratar os pimpolhos abundantes que
nasciam na Rua General Netto, filhos do médico José Luiz e sua esposa Aniceta
Guasque. As crianças em seus melhores trajes, em poses estudadas, apoiadas em
colunas, porque a exposição ao fotógrafo era longa, tinham que ser ajudadas
para passarem pelo suplício de permanecerem imóveis.
Conforme a lenda
familiar umas das meninas Guasque tinha um rosto tão lindo que o já velho Greco
tinha verdadeira fascinação por retratá-la, e nada cobrava pelas fotos. Hoje
todos já partiram, restam as lindos retratos de um tempo já bem longínquo.
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