17 de fevereiro de 2014

A pata nada - (desde o século passado)

A Pata, décadas depois, continua a nadar

A pata nada - (desde o século passado)

Luiz Carlos Vaz

A pata nada. Óbvio, não é mesmo? Mas esta máxima também era a primeira lição da "Cartilha Sodré". Neste sábado, ao ver esta "pata nadando" (e ensinando a sua ninhada descascada há pouco a fazer o mesmo) lembrei com saudade da Cartilha onde aprendi a ler, lá no Colégio Santo Antônio, em Bagé. Da pata que nadava até a vaca malhada, que era da Zazá, e que dava palha à vaca, não foi muito difícil, afinal, pata nadando e vaca malhada eu via todo dia. Complicado mesmo deve ter sido para minha mãe que, em 1930, lá no interior de Cacimbinhas, no distrito de Torrinhas, bem ali, na "Aberta do Cerro", precisava recitar, sem gaguejar, a sua lição do "efe", que era exatamente assim: afta, farol, tifo, grifo, foca, frase...

A Cartilha que alfabetizou gerações

A Cartilha Sodré, de autoria da professora Benedicta Stahl Sodré, teve a sua primeira edição impressa em São Paulo no ano de 1940. A partir da 46ª edição, a de 1948, a Cartilha passou a ser publicada pela Companhia Editora Nacional. Conforme dados da editora, de 1948 até 1989, data da última edição, a 273ª, foram produzidos mais de seis milhões de exemplares. Em 1977 ela foi remodelada por Isis Sodré Verganini que acrescentou páginas e um caderno de instrução para os professores. O número milionário de exemplares da Cartilha Sodré não se refere ao total de crianças alfabetizadas através dela. Era usual – “naquele tempo” – que os livros didáticos fossem utilizados por dezenas e dezenas de alunos. Os livros só eram descartados após ficarem absolutamente sem condições de uso, como por exemplo, com a falta de folhas do miolo. A ausência da capa, no caso, não era motivo para o livro ser colocado no lixo.
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Republico esta postagem de 2.012 hoje, 17 de fevereiro de 2.014, dia em que o Arthur “volta às aulas”. Este ano o Arthur completa 9 anos, e sua avó – minha mãe, 90. A escola dele não utiliza a Cartilha Sodré, utiliza o Método Buriti. Deve ser mais moderno, creio, mas não sei se ele sabe repetir, sem gaguejar, como minha mãe ainda faz, as palavras: afta, farol, tifo, grifo, foca, frase... Muitas décadas separam essas três maneiras de alfabetizar...
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Um comentário:

Giséle Silveira disse...

Amigo Vaz, tb sou da época da Cartilha Sodré e me bateu uma saudade mto grande lendo teu texto. Constato, com satisfação, que tua mãe, como eu, é de Torrinhas. Nasci no Hospital de lá, onde trabalhava o Dr. Irineo, médico humanitário e querido por todos. Fala para ela, pois certamente lembrará dele. Abraços