A família
Bianchetti em Bagé
Com a unificação dos diversos reinos da Itália, na segunda metade do século XIX, as guerras de libertação do Império Austro Húngaro, e a questão fundiária naquele país, levou os pequenos proprietários a perderem suas terras. A batalha dizimou as plantações, e grande parte da população emigrou para "faire la América".
Uma grande parte
foi para os Estados Unidos e Argentina, mas houve uma maciça concentração no
nosso país, mais especificamente em São Paulo, por causa das plantações de
café. Os agricultores, acostumados ao cultivo da terra, ficavam entusiasmados
com as possibilidades que a fluorescente e rica região oferecia.
Nossa Bagé também
teve o seu quinhão de italianos, gente que saiu em busca do seu chão veio parar
aqui na fronteira. E entre eles estava a família de Pedro Bianchetti, seus
irmãos tinham ficado em Minas Gerais, onde começaram o trabalho em fabricar
cerâmica. Mas Alfredo era turrão, e aqui ficou, veio com ele toda a família,
sendo que o avô do meu pai era um dos filhos, este se chamava Alfredo
Bianchetti.
Pedro era
marceneiro e uma de suas obras em Bagé, segundo a tradição oral familiar, foi a
fabricação junto aos filhos das portas do Clube Caixeiral, prédio grandioso
projetado por Pedro Obino. Pena que as portas atualmente estejam merecendo um
cuidado especial, deveriam ser lixadas para que a madeira de lei aparecesse, e
valorizasse o precioso trabalho. Pedro com certeza esculpiu portas de madeira
na sua Itália natal, fazendo as de igrejas e prédios públicos. Ele vem a ser o
bisavô do meu pai, e do talentoso pintor Glênio Bianchetti, recentemente
falecidos.
Seria este
escultor/artesão um dos germes do gênio bageense da pintura, o pintor da via
sacra da Capela de Santa Thereza de Ávila? Pode ser, são outros tempos.
Minhas tias avós
falavam do pai, e do avô, com temor, o pai delas era de um gênio irascível, um
verdadeiro "pai patrone", dado a gestos turbulentos. Mas patriarca de
muitos filhos gostava de tê-los todos por perto, e incutia em todos o valor do
trabalho duro.
Veio a II Grande
Guerra, os italianos emigrados entraram em pânico quando o Brasil entrou ao
lado dos Aliados no conflito, todos os documentos foram destruídos, pois havia
o medo de represálias, e a bisavó Paulina numa tarde incinerou todo o passado
familiar numa fogueira no forno à lenha onde assava os pães para a grande prole
de filhos.
Elas, as tias, e
minha avó Pepa, eram fantásticas cozinheiras, direcionando a cozinha dos
estabelecimentos comerciais que o tio Pedrinho criava, homem enorme, mas por
ter o nome do avô carregou o seu próprio nome no diminutivo por toda a vida.
Tio Pedrinho e o
meu pai eram figuras queridas na cidade, gostavam da mesa farta da comida bem
feita, com certeza hábito adquirido pelas massas, caldos, escabeches, assados,
em que as mulheres Bianchetti brilhavam como artistas.
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