Photo Vaz |
Estou indo
embora.
Ana Carolina Souza (*)
Estou indo embora.
Com tudo o que me resta
do tanto que me deu.
Com tudo o que sobrou de
mim por ter tanto, até o último instante.
Saio. Sem bater a porta,
sem fazer barulho.
Sem crise, saio só com a
roupa do corpo e umas histórias pra contar, quando as lágrimas permitirem.
É tanta ideia e tanta
regra e tanta coisa e tanto corpo, que eu simplesmente tenho que ir. Agora,
pouco me importa se eu não tenho a mínima noção de onde vou parar. Tudo bem se
eu tiver que transformar toda a nossa vivência em solidão, tão sólida em
líquidos e líquidos de copos e copos em mesa de algum bar desta cidade.
Eu preciso ir porque
desde aquele dia alguma coisa quebrou aqui dentro. Alguma coisa que sangra,
sufoca. Deprime meu peito e meus ideais.
Porque teu amor e meu
amor são tão gigantes quanto o nosso egoísmo em achar que tudo está certo.
Eu não quero padrões.
Eu só quero sentir de
novo o início da vida que me prometeu.
Parto, porque cansei de
me partir ao meio por ficar acordada te olhando dormir, pensando em te acordar
e dizer que estamos errados desde o começo.
Quero sair, porque não
sei onde erramos.
Saio porque não há
roteiro ou reza que possa nos salvar. Porque eu não sei o que está destruindo
essa coisa que soava como algo tão perfeito.
Saio porque aprendi a
cair e levantar, mas ainda preciso de espaço e tempo pra esquecer.
Deixo com você nossas
longas conversas regadas a chá quente e pés encostados.
Deixo minha mania de
encostar a cabeça no teu ombro e minha necessidade de piadas matinais.
Levo nossas melhores
lembranças e tua camiseta mais velha.
Deixo tuas camisas
passadas e limpas e levo a bagunça que me tornei quando me dei conta de quem
sou quando estou com você.
Deixo meus restos de
batom, minhas meias de dormir, meu cheiro pela casa. Deixo meus livros e um
pedaço de mim. Deixo a bicicleta e o sonho de ter um filho com teus cílios.
Quero comigo só a saudade
do calor do abraço e de você me devorando de um jeito que me levava pra outro
mundo. Levo gozos felizes de uma vida incompleta e insanamente bonita.
Quando acordar, a chave
vai estar na mesa junto com teus papeis importantes.
Deixo as contas e minha
dívida eterna por ter sido tão justa e tão covarde.
Nenhum bilhete, nenhuma
desculpa.
Quero em silêncio o
perdão por não ter suportado o tamanho deste amor. Enquanto isso, saio pela
ponta dos pés, de cabeça erguida e coração fora do lugar.
Saio sendo a desordem que
sempre fui, olhando pra beleza da vida que deixo pra trás. Saio por não
entender que a vida pode mesmo ser boa pra mim.
Saio em busca de lições
que me ensinem a amar qualquer coisa que não seja você.
Saio pra não voltar, como
sempre fiz.
Saio em busca lá fora, de
qualquer bom tom que me falta aqui dentro. De qualquer ar que me falta quando
penso no melhor da vida que eu não posso mais te dar.
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(*) Ana Carolina Souza
é jornalista por indução do destino, são paulina por carma. Apaixonada por
gatos, praia, livros, carnaval, coca cola e umas delícias a mais. Tia babona.
Mulher forte e chorona. Aquariana com ascendente em Aries, que lê a bíblia,
acredita em reencarnação e venera praticidade. Menina boba, dessas que escreve
pra não explodir e ainda acredita no amor.
Este artigo foi publicado no Blog
Superela em 28 de julho de 2015
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