Montagem com cartazes dos filmes comentados |
Os filmes que só eu vi
Luiz Carlos Vaz (*)
Bem, então fui convocado pelo meu querido
ex-aluno Claudio Schuster para publicar a relação de filmes que me impactaram, só com
imagens, sem comentários... ah! tá, me aguarda! Como já passei pela brincadeira
das Fotos em P&B do Cotidiano da Quarentena, convidado pela Eliana, sobrevivi
à relação de capas de livros “sem poder comentar nada” (rsrsrs) com o Amílcar,
onde viajei na lista, vamos à rebeldia outra vez! Azar, eu estou quieto no meu
canto... vem o pessoal e me provoca, e eu não sei falar pouco, dizem, então lá vai!
Fui pela primeira vez a um cinema de verdade
em 1960. Eu tinha nove anos. Meu irmão me levou para assistir O Leão Africano
(*). Entrei pela primeira vez no Cine Capitólio, em Bagé, com o coração batendo
forte; aquele enorme ambiente escuro, embora o relógio marcasse quatro horas da
tarde, era muito diferente do Cinema do Sesi, que seguido nos brindava, em
noites de verão, com projeções em uma parede branca da casa de algum vizinho, com
filmes do Mazzaropi, antecedidos de pequenas produções educativas, filmadas em
16mm, em preto e branco, sobre cuidados com a saúde, higiene, educação e coisas
do gênero.
Mas aquela tarde no Cine Capitólio foi mágica,
foi amor à primeira sessão. Nunca mais consegui me afastar das salas de cinema.
Assisti logo depois o clássico Simbad, o Marujo; Tonka e o Bravo Comanche; um
que nunca vou esquecer o nome, Mogambo; e A História de Elza. Logo em seguida vieram
os “filmes do Elvis”, as comédias do Jerry Lewis, e as chanchadas nacionais com
Ankito - depois Oscarito - e Grande Otelo.
Os filmes demoravam muitos anos para chegar
por lá. Mas o sonho de Francisco Santos de formar plateias para a sétima arte,
ao fundar um “cinema” em Bagé, em 1934, permanecia vivo. Afinal, num tempo em
que o tempo levava mais tempo para virar tempo, um, dois ou três anos era um
tempo normal; sem pressa alguma para que passasse como tempo.
Quem nos informava das novidades nas telas do
mundo, do Brasil e da Capital eram o Correio do Povo ou a jovem Rádio Guaíba,
que começara suas transmissões em 1957. Além da lista dos dez mais do Correio,
havia um programa, nos meses de dezembro na Guaíba, que listava os melhores
filmes do ano, mas nós sabíamos que eles levariam muito tempo para que passarem
em Bagé. Mas tempo era o que mais nós tínhamos naquele tempo.
Muitos filmes, aliás, nem passavam na nossa
distante cidade do interior do RS, saíam de cartaz já mesmo em Porto Alegre por falta de público.
Mas apesar desses critérios de custo/benefício ou público e renda, consegui
assistir, mesmo nos cinemas de uma cidade da campanha, diversos filmes com as
salas abrigando meia dúzia de espectadores curiosos, ou de “cinéfilos”, que já
existiam, antes mesmo de criarem essa palavra.
Essa lista de filmes que me impactaram, ressalvo - não é a lista dos melhores filmes que eu vi - é a lista dos filmes que “só eu vi”! São eles: O Diabo é Meu Sócio (Bedazzled), de
Stanley Donen; Cover me Babe, de Noel Blake; Atentado ao Pudor
(Les Risques du Métier), de André Cayatte;
O Colecionador (The Collector), de William Wyler; As 7 Faces do
Dr. Lao (7 Faces of Dr. Lao), de George Pal; Vergonha (Skammen), de Ingmar
Bergman; 10:30 P.M. Summer, de Jules Dassin, que teve no Brasil o nome
tolo de Corações Desesperados; Duas ou Três Coisas Que Sei Dela (Deux ou
trois choses que je sais d'elle), de Jean-Luc Godard; Macunaima, de Joaquim
Pedro de Andrade; Vento Norte, de Salomão Scliar; Matadouro
Cinco (Slaughterhouse Five), de George Roy Hill, e A Viúva (La Veuve
Couderc), de Pierre Granier-Deferre. Alguém assistiu algum deles?
Mas, nesses tempos modernos, também tenho
assistido alguns filmes - também impactantes – e que não ouço ninguém comentar
ou falar que já viu, embora sejam mais fáceis de ser achados, principalmente
através das “redes”. Filmes como Incêndios (Incendies), de Denis
Villeneuve; Mel de Laranjas (Miel de Naranjas), de Imanol Uribe, e REC
(REC), de Jaume Balagueró e Paco Plaza. E, para não deixar fora dessa lista dos
“modernos”, incluo o uruguaio, Em La Puta Vida, de Beatriz Flores Silva.
Aí eu pergunto outra vez: Alguém mais assistiu
esses filmes? “Não me deixem, só”, disse um rapaz faz algum tempo... E, não
esqueçam, “Aqui é o lugar da di-ver-são!!”
Pronto, falei!
(*) Segundo o Dr Google, O Leão Africano “é um
filme-documentário de 1955 dos Estados Unidos, dirigido por James Algar.
Filmado durante três anos, com foco na vida dos leões e do complexo ecossistema
da selva africana. Participou do 6º Festival Internacional de Berlim e ganhou o
Urso de Prata. De acordo com os créditos, as filmagens ocorreram em Tanganica
(atual Tanzânia), Uganda, Quênia e África do Sul (inclusive a Reserva de
Zululândia). Música de Paul Smith. As imagens foram dos biólogos Alfred e Elma
Milotte para a série de documentários da Walt Disney Productions chamada
True-Life Adventures.”
Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog.