24 de dezembro de 2024

Meus Livros Impossíveis – 6

 

Foto L.C.Vaz

                                          

                                                                          Para Vera, Gleide e Hamilton

 

"Se é Bayer é Bom!"

 

Luiz Carlos Vaz (*)

 

Eu sei, eu sei, eu mesmo vivo dizendo “eu minto muito (mas tem livros que, realmente, só eu tenho!) ...mas sempre mostro as provas!

E esta semana a coleção dos “impossíveis” aumentou! A Vera me ligou dizendo que tinha uma coisa muito antiga para me dar... Nem lembro se cheguei a colocar os sapatos e a camisa, mas em cinco minutos eu já estava lá no portão da casa dela gritando “Tu tá aí, Zeferina?” (**).

 E estava ali, dentro de uma sacolinha de matéria, o meu presente!

 

Aqui um breve espaço para uma propaganda de Cafiaspirina

                 O rádio sempre foi um companheiro fiel de todas as nossas horas. Mas foi através da leitura da Revista Sesinho que conhecemos a literatura no universo infantil. Muitas fábulas, jogos, e diversas atividades lúdicas chegaram até nós pela criação de Vicente Guimarães - o Vovô Felício, o escritor mineiro que, incentivado por Guimarães Rosa, criou, entre outras coisas, a revista, que seria dedicada aos filhos dos trabalhadores da Indústria, pertencentes ao SESI – Serviço Social da Indústria, e que “teria como objetivo formar a consciência da futura classe trabalhadora, cujos valores deveriam estar centrados na disciplina, na moral, na família, no progresso, no trabalho e na religiosidade, criando uma imagem de mundo idealizada e sem conflitos” (SIC). (Bah! Aí é sem comentários, pois o tema é outro.)

                 Num concurso para esses jovens, meus irmãos – que já estavam na escola, incentivados pela nossa Mãe, resolveram participar! E não deu outra! Minha irmã acabou recebendo pelo Correio como prêmio o livro de Vicente Guimarães, Anel de Vidro! (***).



                 Foi o primeiro livro de poesias que eu conheci! E era para “crianças” – ou quase. Fora isso, já conhecíamos a Seleta em Prosa e Verso,  de Alfredo Clemente Pinto, uma antiga edição de 1883, que o nosso Pai seguido lia para nós, ou fazia “ditado” de vários trechos para que os que já sabiam escrever “treinassem a caligrafia”...

                 Conversamos um bom tempo sobre literatura, autores e livros... trocamos dicas, e depois fui para casa correndo, encantado – nos dois sentidos - com o presente.



O livro tem prefácio de Malba Tahan e várias dedicatórias

                 Depois, em casa, folheando a edição de 1956 do Anel de Vidro, pude ver dois carimbos dos quais eu não lembrava, ou nem sabia; em um se lê “Prêmio da Revista Sesinho” e no outro “Oferta de Cafiaspirina, Símbolo da Confiança”. Lembrei na mesma hora o famoso jingle do rádio quando se ouvia a máxima “Se é Bayer é bom!”



                 Nas páginas do “Anel” há muitas marcações a lápis, feitas pela Gleide, quando estava cursando a Escola Normal, apontando temas dados, certamente, por alguma professora de Português...


 

O importante é que, ao contrário d“O anel que tu me deste, era de vidro e se quebrou”, o livro permaneceu quase intacto, e agora está comigo, lembrando “A ditosa infância minha era curta e se acabou.”



Será? Não creio...

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

(**) Quando eu, com três ou quatro anos, “fugia de casa”, ia até a vizinha ao lado, que tinha uns cachorros enormes e brabos, e gritava lá da frente: “Tu tá aí, Zeferina?” Isso virou piada na família, até hoje.

(***) O Hamilton ganhou o livro Vida de Rua, creio que também do V.G.  Mas isso é assunto para outro dia...  

13 de dezembro de 2024

Para Roma com amoя

 

Foto LC Vaz


Luiz Carlos Vaz (*)

Nunca fumei! Não passei de umas tragadas nuns “Marrocos 10”, quando tinha uns 12 anos... Aquelas tragadas foram intragáveis, e nunca mais tive vontade de fumar nada, muito menos o material do Verão da Lata. Mas sempre tive um fascínio pelas propagandas de cigarro. E nem falo do Homem de Marlboro, sou mais antigo, e quem me seduzia era a índia sorridente dos Cigarros Eldorado... Claro, que o cinema se encarregava de mostrar os cachimbos dos detetives inteligentes, além da boca do Sr. “Bond, James Bond”, com aquele cigarro que balançava enquanto ele falava... Nada me fez mudar minha vontade, e continuei um não fumante. Apreciava mesmo era a estética da coisa toda.


Imagens da Internet


Quando me aposentei o pessoal brincava dizendo: “quem para de trabalhar tem começar a criar abelhas, fazer curso de pintura ou fumar cachimbo...”

Optei pelo cachimbo. Até mandei fazer um, igual ao do Van Gogh, por um artesão brasileiro que, por incrível eu pareça, mora no sul da França, chamado Eder Mathias, e que está por lá há tempos. Trocamos ideias e desenhos por e-mail (que era o que havia na época), e ele fez um cachimbo único, com meu nome e tudo, e com direito a acompanhar o passo a passo daquela sua obra de arte.


Foto LC Vaz


Daí foi um festival de charutos e cinzeiros raros, como um que pertenceu ao Hemigway, que o Hillal me deu - para fazer companhia à sua máquina de escrever, que ele também me presenteou(**); um exclusivo feito pela Suzana... outro feito com a técnica de marchetaria, pelo David Conde... e na minha viagem à Ilha comprei, claro, uma caixa de Cohiba, pois já estava dividindo os cachimbos com os “puros”...

E eis que esta semana o Alfonso veio me visitar e me deu de presente um cinzeiro, vindo diretamente de Roma, e que estava com Dona Jovelina, sua mãe, há mais de 50 anos...


Foto LC Vaz


Daí eu já nem sei dizer o que é melhor, se degustar, na maior calma, "uns puros", ou se ter amigos assim tão queridos...

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

(**) https://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2019/06/a-maquina-de-hemingway.html

 

7 de dezembro de 2024

Meus Livros Impossíveis - 5

Foto LC Vaz

 

No caminho com Maiakóvski


Para Eduardo Menezes

Luiz Carlos Vaz (*)

 

    Quem não conhece o poema - ou o trecho mais divulgado - de “autoria de Maiakóvski”, que atire a primeira estrofe! “Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem;/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz, e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada...”

    Esses versos foram usados nos anos sessenta, setenta... nas aberturas e encerramentos de reuniões das mais diversas categorias; fizeram parte de declarações de amor em cartas apaixonadas, foram epígrafes de manifestos, dissertações e teses, foram recitados e gritados aos quatro cantos quando a cultura vivia sob o covarde jugo da censura prévia - e pós-criação. 

    Mas... o autor não é Maiakóvsk! 

Foto LC Vaz


    Não? Então quem é o autor do famoso poema? 

    Pois foi um brasileiro, Eduardo Alves da Costa, que aos 27 anos, escreveu o famoso poema “No caminho com Maiakóvski”. Ele estava sentado em um banco, na Praça da República, no centro de São Paulo, quando teve a ideia. Imaginou a conversa com o poeta russo que tanto admirava e começou a rabiscar numa folha de papel. Chegando em casa, organizou as ideias, e redigiu a versão final do poema. “No caminho com Maiakóvski, que já rodou o mundo de inúmeras formas, é um sucesso e uma maldição. Chamou a atenção para essa poesia em particular, mas ocultou toda a minha obra”, disse ele em uma entrevista. 

    Eu ainda estava na Faculdade, nos anos setenta, era assinante do Círculo do Livro quando, curioso ou surpreso, escolhi no catálogo da quinzena, No caminho com Maiakósvki, de autoria de Eduardo Alves da Costa. Esse Eduardo deve ser um crítico literário, imaginei eu! Não era. Ele era o autor do poema de 87 estrofes, atribuído ao russo Владимир Владимирович Маяковский, mais conhecido aqui por Vladimir Vladimirovitch Maiakóvski. Ou somente Maiakóvski.

    Hoje, aos 78 anos, Eduardo Alves da Costa tem vários livros publicados entre poemas, contos, romances, além de cinco textos para o teatro. Neste ano de 2024 lançou seu mais recente trabalho, o romance “Tango, com violino”, pela editora Tordesilhas.

Foto LC Vaz


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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

2 de dezembro de 2024

Naquele dia a taça foi minha!

Arquivo do Autor


 Alexandre Bauken
(*)

Vaz,

segunda, na academia, o assunto é futebol.

Me concentro nos exercícios e fico lá, alheio daquele mundo que desconheço.

Mas li Vaz!

E na segunda seguinte, como que não querendo nada, perguntei - “aquela taça que foi roubada, como era mesmo o nome?”

Três responderam em uníssono.

-Jules Rimet.

-Roubaram e desapareceu, completou um deles.

Daí entrei com conhecimento de causa.

-Roubaram não uma, mas duas vezes!

E completei sem dó, em uma das vezes foi achada por um cachorrinho chamado Pickles, semienterrada em um jardim londrino. Foi um gol de placa canino.

E não dei margens para pano de manga. Desatei a falar que a primeira Copa do Mundo foi em 1930, sediada no Uruguai em homenagem ao centenário da independência e por ter sido bicampeão olímpico, etc.

E que construíram um estádio ultra moderno, que vi com meus próprios olhos (mentira, mas apresentei provas contundentes) e se consagrou o primeiro Campeão Mundial de Futebol em casa, com a sua Celeste.

E como um gaúcho de Jaguarão, o Schlee, que foi amigo de um amigo (literário) meu, criou a camisa Canarinho com tintas contrabandeadas do Uruguai.

E de como... e fui versando minha pretensa cultura futebolística de leitor de um livro só.

Foto LC Vaz

O livro do Vaz, A Taça do Mundo é Nossa!

Na próxima segunda, volto a ser o fisicultor compenetrado, quieto, só ouvidos!

Mas naquele dia a taça foi minha!

Até que, dá-lhe Vaz, outro livro!

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(*) Alexandre Bauken é Dentista, Professor de História por um breve tempo, leitor voraz e escritor diletente. Mora em Santa Rosa e participou com um artigo no livro Algumas Muitas Ideias Sobre Alfabetizalçai Literária, lançado em 2024 na 50ª Feira do livro de Pelotas, organizado pela Professra Dra Cristina Rosa.