Hoje fazemos fogueira só para aquecer a casa
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"Luiz Carlos andava insistente atrás da mãe desde cedo, naquela manhã de 23 de junho do início da década de 60. Já juntara bastante carrapicho seco nos campinhos de perto da casa, mas necessitava da assessoria competente em armação de fogueiras de Loracy.
De longa data, vinha esse conhecimento. Na família de Loracy, bem como na de Athanagildo, seu marido, São João era comemorado com fogueira feita na véspera do dia 24.
Os tempos mudavam, sentia-se... Porém, ainda naquele ano, haveria a fogueira e “tudo o mais” - procedimentos fundamentados em crenças que, não se sabe desde quando, acompanhavam as duas famílias.
Crescemos, meus irmãos e eu, vendo nosso pai e nossa mãe acordarem antes do sol, na manhã do dia 24 de junho, para recolherem os restos da fogueira da véspera, os tições, que eram guardados, junto com as garrafas – que não eram pet – cheias de água, agora “benta” por obra de São João.
Também eram recolhidas as ervas - alecrim, marcela, folhas de eucalipto e outras – na noite anterior, colocadas ao lado dos restos da fogueira. Tudo era guardado ao abrigo do sol, para ser usado em momentos de necessidade.
Lembro que era procedimento corriqueiro, quando havia tormenta, a mãe chegar à porta da casa com uma garrafa de “água benta” e despejar goles em cruz, três vezes... Se a tempestade prosseguisse, um foguinho era improvisado num fogareiro com alguns tições da fogueira. Adicionadas as ervas, circulava pelo ambiente uma fumacinha cheirosa.
A serenidade tomava conta de nossos jovens corações... Sentíamo-nos aconchegados e protegidos...
A insistência de Luiz Carlos, naquela manhã, talvez, fizesse uma antevisão de um procedimento pleno de fundamento cultural que logo passaria a fazer parte apenas das memórias de nossa família."
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Enviado pela colega
Vera Luiza
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