A Lomo flamante do Marcelo Soares |
Lomography
Marcelo Soares
Mil novecentos e
oitenta e dois foi um ano especial. Assisto pela TV a inauguração da Usina de
Itaipu e vibro por ter visitado as obras no ano anterior na primeira viagem sem
meus pais. Primeira namorada, debutante das noites até a madrugada,
descobertas, observações, emoções
intensas num ambiente a ser desbravado. A lembrança destes tempos é imprecisa,
exageradamente colorida, vazada pela luz da curiosidade e da liberdade da juventude onde embora cheio de surpresas,
tudo parecia ser possível. Sem câmera fotográfica, também foi o ano que tive
contato com a magia da fotografia no cultuado laboratório de meu tio artista.
Do outro lado do
mundo e antes que guerra esfriasse de
vez um general russo decreta a socialização do registro fotográfico e assim
meio como ordem militar começa a ser produzido na Lomo Russian Arms and Optical
Factory uma máquina compacta e acessível
ao proletário, versão em plástico da Cosina
CX-1 - câmera robusta de lentes bem lapidadas em cristal, límpidas e com
alta sensibilidade à luz. Enfim em 1984 se inicia a produção me massa da Lomo
LC-A sucesso entre os comunistas.
Foi preciso mais
um tempo até que as barreiras políticas permitissem o transito ocidental e em 1991 um grupo de estudantes vienenses em
uma viagem a Checoslováquia enfim descobrem em uma pequena loja de produtos
fotográficos a Lomo LC-A e primeiramente encantados pelo som do clique saíram a
fotografar as ruas de Praga. Foi no entanto na revelação já em Viena que veio a
surpresa das cores vibrantes, saturadas e todos os estranhos e extravagantes
efeitos que a máquina imprimia ao filme. O formato escolhido foi o e 10 x 7 cm
tornando a brincadeira ainda mais barata. A febre espalhou-se pela Europa, era
outro tipo de fotografia, mais divertida, liberta de normas, selvagem e excitante. Com o fim da União Soviética nos
anos 1990 o Leste Europeu abriu-se para o ocidente e a localização de Viena fez
dela passagem de vários outros países.
Mil novecentos e
oitenta e dois, se eu tivesse uma máquina para registrar minhas memórias teria
que ter sido uma Lomo.
Agora tenho.
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Publicado em fotocometario
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