Imagens: Divulgação |
O choro do Coringa
Deixe-me
ir
Preciso
andar
Vou por
aí a procurar
Rir pra
não chorar
Angenor de
Oliveira, o Cartola
Luiz Carlos Vaz (*)
Há um Coringa dentro de todos nós que
ri. Ri para não chorar, como dizia o Angenor de Oliveira. A pessoa
que se comporta assim com frequência é portadora da Síndrome Pseudobulbar, diz a ciência. Essa síndrome alterna
as reações do rir e do chorar em situações ditas inapropriadas.
Mas Arthur Fleck não tem apenas a
Síndrome Pseudobulbar. Ele é um
compêndio ambulante de sintomas causados por afetos mal resolvidos, abandonos,
traumas de infância, problemas sociais e familiares de toda ordem. Ele tem
todos os motivos do mundo para odiar os membros da “certinha” família Wayne.
Morar com a mãe, tão ou mais traumatizada
do que ele, reforça a cada dia e a cada momento todos os sintomas do homem que
ganha a vida como um palhaço propagandista que caminha triste, por trás de uma
máscara alegre, pelas ruas de Gothan City.
As possíveis revelações, as verdades ou
as mentiras, que poderiam conter nas respostas às cartas que sua mãe envia, e que
nunca chegam na sua caixa de correspondência, acabam fazendo com que o palhaço portador
da Síndrome Pseudobulbar vá ao encontro dessas respostas, ao encontro do seu passado,
e nelas encontre o seu futuro, o seu destino. Mas a memória criada pela Senhora
Penny Fleck, que mais busca uma ajuda financeira do que respostas às suas
cartas, é fruto mais de sua imaginação do que da realidade.
É impressionante como alguns filmes polêmicos,
ditos violentos por boa parte da crítica, têm chegado até nós, os “mansos”, os que “herdarão a terra”... Eles carregam um pouco dessa nova violência, dessa
violência dos tempos atuais. Violência do abandono, da banalização da morte, da
mentira e da imaginação; das fake news, da manipulação de massas proveniente dos
laboratórios de formação de opinião pública, que produzem uma enorme quantidade
de informações que não geram conhecimento algum! Não percebemos o quanto temos nos transformado
em jokers dia após dia.
O filme Coringa não é violento. Não é
triste. O momento em que vivemos é que é. Triste e violento. Há um Coringa
dentro de todos nós. E um senhor Wayne dentro de alguns de nós. Há muitas
Pennys e muitos Jokers. Muitos com pouco. Poucos com muito. Muitos com quase
nada. Poucos com quase tudo.
E você, que me lê agora? O que quer? Rir
ou chorar? E eu? Ora eu... Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar,
rir pra não chorar. Quero assistir ao sol nascer, ver as águas dos rios correr,
ouvir os pássaros cantar. Eu quero nascer, quero viver... Deixe-me ir, preciso
andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar,
diga que eu só vou voltar depois que me encontrar.
(*) Luiz Carlos Vaz, jornalista e
editor do Blog
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