14 de outubro de 2019

Por que hoje é Domingo!

Divulgação


Por que hoje é Domingo!

Parafraseando Vinícius,
na epígrafe de O Dia da Criação,

“Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27”

Luiz Carlos Vaz

Fui assistir Domingo. E era um sábado. Um filme rodado na cidade onde moro, que mostra lugares e pessoas que conheço, já é um bom álibi para comer dois ou três pacotinhos de Bibs, ou um saco, tamanho G, daquela pipoca fedorenta e gostosa sem sentir remorso algum.

Fiz como em Bacurau por conselho de um amigo cinéfilo que me disse “vai assistir e não lê nada antes a respeito de Bacurau”. Fui sem ler nada sobre Domingo.

Domingo se passa num fim de semana, na virada de 2002 para 2003. Em um churrasco é apresentada a realidade de uma família conservadora de classe média, dessas que se sentem muito mais próximas das pessoas que faturam 50 ou 70 mil por mês, do que daqueles que ganham apenas mil; ou seja, apenas cinco ou sete vezes menos do que eles. C'est la vie!

Domingo mostra que as questões como sexualidade e gênero assustam mais a família média brasileira do que o adultério ou mesmo as relações quase incestuosas, desde que estas sejam entre “macho e fêmea”, como sentenciou Deus no livro da Gênese. Entre homem e mulher vale o que quiser, só não vale dançar homem com homem e mulher com mulher, já cantava o Tim, antes de dizer, claro, que agora vale tudo! Amores impossíveis entre patrão e empregado, professor e aluna, filho da casa com filha da empregada... tudo pode acontecer, afinal, será entre macho e fêmea.

Empregado pobre com medo do comunismo (mas não acabou em 89?), e os patrões classe média (que se portam como ricos) com medo das futuras obrigações trabalhistas com relação a esse empregado idoso, tão ou mais conservador do que eles... e tudo num domingo, com churrasco de ovelha carneada no dia, na virada do ano, à beira do Arroio Pelotas, num casarão velho e precisando de reformas... na data histórica em que um operário analfabeto assume a presidência do Brasil.

Acredito que você, meu querido leitor, tenha ficado curioso pois o filme só está sendo comentado nessas tais redes sociais. Há um silêncio obsequioso por parta da chamada “grande média” e por parte dos críticos bondosos da sétima arte roliudiana. Mas... se você acha - ou vive dizendo - que não existe mais esquerda e direita, pois o muro caiu em 1989, e insiste em repetir que a luta de classes é coisa da esquerda, vá assistir Domingo. Mismo que sea una vez, solamente una vez!

Preferiblemente nun Sábado.
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Luiz Carlos Vaz, jornalista e editor do Blog

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