2 de fevereiro de 2020

Samantha, Monarcas e Eu

Foto Luiz Carlos Vaz


Samantha, Monarcas e Eu

Luiz Carlos Vaz (*)

Desde o tempo de guri de calças curtas sou apaixonado por borboletas. Meu interesse tomou ares de aficionado quando num enorme mapa com um desenho de insetos, besouros e borboletas representados sobre um tronco de árvore, passei a conhecer as classificações, famílias... quem explica isso? Freud? Fiquei sabendo que eu era um lepidopterologista... e eu nem sabia pronunciar direito essa palavra. Comecei uma coleção, desenvolvi técnicas de conservação e captura (sem ajuda do Doutor Google, certo crianças?) e classificava de acordo com o tal “mapa mundi” das borboletas. A coleção crescia junto com meu espanto de ver que na região da campanha havia mais borboletas que em toda a Europa, segundo li na revista Seleções do Reader’s Digest, que era uma espécie de internet impressa e mensal da época.


Entrei na maioridade com as borboletas assistindo The Collector - (O Colecionador), filme de William Wyler, com Terence Stamp e Samantha Eggar. (Ah!! a Samantha...Ufa!) Bem... prossigo. O filme conta a história de Freddy, um bancário londrino, que vive em função das borboletas e de sua paixão não confessada por Miranda Grey, a personagem interpretada por Samantha.

Como havia desenvolvido as técnicas de captura, conservação e guarda do material, fui entendendo também de todas as fases dessa minúscula, indefesa, colorida e breve criatura; Ovo, Larva, Crisálida e... Borboleta. Descobri que certas vespas injetavam, na fase de larva da borboleta, seus ovos que, após um tempo, descascavam, e a larva da vespa se alimentava do conteúdo do casulo da borboleta!! Depois ela rompia esse casulo e saia voando faceira, frustrando o nascimento de uma nova borboleta... Foi aí que, sem ajuda do Google, tive a ideia de recolher as larvinhas, recém descascadas dos ínfimos ovos colocados pelas borboletas sobre folhas de cítricos, principalmente, que havia no pátio da nossa casa.

Transformei caixas de sapatos em incubadoras e diariamente colocava folhas novas para alimentação das lagartas. Quando os casulos estavam prontos eu retirava das caixas, e colocava, ainda dentro de casa, protegidos dos predadores, e esperava alguns dias para ver o espetáculo único do nascimento de uma borboleta. Elas saem dobradas, amarrotadas e com um enorme abdômen, para não dizer bunda. Em instantes todo o líquido desse abdômen começa a ser injetado nas nervuras das asas e, num passe de mágica, elas inflam e a borboleta fica com uma “barriga negativa”, se me entendem...

Como isso sempre me encantou, tenho, ao longo da minha vida adulta, passado esse conhecimento e essa técnica tão singelos, às crianças da família e de amigos. Comecei  com as Papillo Thoas, as "Borboletas Bagé", pretas e amarelas, como o time, mas hoje trabalho mais com as Monarcas (Danaus Prexippus) mais fáceis de se encontrar, cuidar e alimentar. Faço mudas de Oficial de Sala (Asclepias curassavica L), ou Balão de São João (Asclepias physocarpa) - também chamada de Saco de Velho, e providencio as lagartas... O encantamento e atávico! Ninguém resiste a emoção de ver uma Monarca nascer, se embelezar, e voar livre para o mundo.

Quanto a Samantha Eggar... bem, aí eu teria que contar uma outra história.
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(*) Jornalista, fotógrafo e editor do Blog

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