Foto Luiz Carlos Vaz |
Samantha, Monarcas e Eu
Luiz Carlos Vaz (*)
Desde o tempo de guri de calças curtas sou apaixonado por borboletas. Meu
interesse tomou ares de aficionado quando num enorme mapa com um desenho de
insetos, besouros e borboletas representados sobre um tronco de árvore, passei
a conhecer as classificações, famílias... quem explica isso? Freud? Fiquei
sabendo que eu era um lepidopterologista... e eu nem sabia pronunciar
direito essa palavra. Comecei uma coleção, desenvolvi técnicas de conservação e
captura (sem ajuda do Doutor Google, certo crianças?) e classificava de acordo
com o tal “mapa mundi” das borboletas. A coleção crescia junto com meu espanto
de ver que na região da campanha havia mais borboletas que em toda a Europa,
segundo li na revista Seleções do Reader’s Digest, que era uma espécie de
internet impressa e mensal da época.
Entrei na maioridade com as borboletas
assistindo The Collector - (O Colecionador), filme de William Wyler, com
Terence Stamp e Samantha Eggar. (Ah!! a Samantha...Ufa!) Bem... prossigo. O filme
conta a história de Freddy, um bancário londrino, que vive em função das
borboletas e de sua paixão não confessada por Miranda Grey, a personagem
interpretada por Samantha.
Como havia desenvolvido as técnicas de
captura, conservação e guarda do material, fui entendendo também de todas as
fases dessa minúscula, indefesa, colorida e breve criatura; Ovo, Larva,
Crisálida e... Borboleta. Descobri que certas vespas injetavam, na fase de
larva da borboleta, seus ovos que, após um tempo, descascavam, e a larva da
vespa se alimentava do conteúdo do casulo da borboleta!! Depois ela rompia
esse casulo e saia voando faceira, frustrando o nascimento de uma nova
borboleta... Foi aí que, sem ajuda do Google, tive a ideia de recolher as
larvinhas, recém descascadas dos ínfimos ovos colocados pelas borboletas sobre
folhas de cítricos, principalmente, que havia no pátio da nossa casa.
Transformei caixas de sapatos em incubadoras e diariamente colocava folhas
novas para alimentação das lagartas. Quando os casulos estavam prontos eu
retirava das caixas, e colocava, ainda dentro de casa, protegidos dos
predadores, e esperava alguns dias para ver o espetáculo único do nascimento de
uma borboleta. Elas saem dobradas, amarrotadas e com um enorme abdômen, para
não dizer bunda. Em instantes todo o líquido desse abdômen começa a ser
injetado nas nervuras das asas e, num passe de mágica, elas inflam e a
borboleta fica com uma “barriga negativa”, se me entendem...
Como isso sempre me encantou, tenho,
ao longo da minha vida adulta, passado esse conhecimento e essa técnica tão
singelos, às crianças da família e de amigos. Comecei com as Papillo Thoas, as "Borboletas Bagé", pretas e amarelas, como o time, mas hoje trabalho mais com as Monarcas (Danaus Prexippus) mais fáceis de se encontrar, cuidar e alimentar. Faço mudas de Oficial de Sala (Asclepias
curassavica L), ou Balão de São João (Asclepias physocarpa) - também chamada de
Saco de Velho, e providencio as lagartas... O encantamento e atávico! Ninguém
resiste a emoção de ver uma Monarca nascer, se embelezar, e voar livre para o
mundo.
Quanto a Samantha Eggar... bem, aí eu
teria que contar uma outra história.
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(*) Jornalista, fotógrafo e editor do Blog
(*) Jornalista, fotógrafo e editor do Blog
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