Eu acho que lembro de vocês...
ou
L'année dernière à Marienbad
Luiz Carlos Vaz (*)
Hoje revi L'année dernière à Marienbad, o
filme de Alain Resnais que causou um verdadeiro frisson nos espectadores, lá
nos já distantes anos sessenta. Ninguém mais foi o mesmo apreciador de cinema depois
de assistir Marienbad. Resnais usou as técnicas da narrativa cinematográfica
com criatividade e ousadia; plongées, contra plongées, cortes abruptos, sequências
em ambientes quase infinitos, à meia luz, num preto e branco invejável, inesquecível,
com todos os meios tons imagináveis. Um narrador de voz grave, e diálogos
mínimos entre as personagens, nos conduzem em um labirinto de sedução montado
em um antigo hotel, onde o tempo é inexplicável, intangível e, ao mesmo tempo, protagonista
dos acontecimentos do filme.
Escrevo isso depois de rever o filme, pois assim
tenho me sentido durante essa quarentena que já pode ter seu número de dias multiplicado
por quatro. Fico dando voltas no tempo, num mesmo prédio, encontro sempre as mesmas
pessoas, com roupas diferentes, e não sei mais se o hoje foi ontem ou o será só
amanhã. Não faz mais diferença se é dia ou noite, se o que como e bebo é almoço,
café ou jantar.
Chego até a janela e enxergo (ou imagino?) um
extenso jardim quase sem fim, onde pessoas paradas, fixadas nos passeios como
manequins, aguardam também que passe o tempo, os minutos e as horas que não
fazem mais sentido... e eu mesmo tenho uma impressão de que já as vi antes, pode
ser, não tenho mais certeza de nada, não sei se é memória ou só imaginação;
deve ser o vírus, talvez... mas acho que já as vi antes, sim, foi no ano
passado, em Marienbad...
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Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e
editor deste Blog
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