Fotos de divulgação do filme Um estranho no ninho, com a famosa enfermeira Ratched |
Um dia de fúria! (e de Vacina)
Luiz Carlos Vaz
Que horror! Logo eu, que fiz tantos
elogios à essa nova fase da vacinação, através do drive thru, agora muito bem
organizada, tive que passar por tudo isso...
Quando cheguei ainda cedo, peguei a
senha e passei logo para o passo seguinte, o de preencher a ficha, e estava
correndo tudo bem, tudo normal, tudo dentro do previsto. Mas notei que a moça,
ao conferir meu nome, passou uma mensagem ao restante do grupo que ali estava
na tarefa de vacinação. Pensei que ela havia percebido alguma falha no meu
documento de identidade, no comprovante de residência, na carteira de
vacinas... mas não me falou nada.
Fui avançando mais alguns metros, bem
lentamente, seguindo à risca as orientações do funcionário encarregado dessa
parte, mas já com um ar preocupado, havia algo de estranho... O que será que
estava acontecendo? Foi quando começou o tumulto!! Uma confusão geral tomou
conta do recinto! Um grupo grande de moças começou uma discussão generalizada.
E eu, com o vidro do carro fechado, abri uma fresta para tentar escutar a
algazarra.
Entre frases entrecortadas,
xingamentos e outras coisas, eu ouvia coisas como: “Esse sou eu que vou
vacinar! Me dá essa seringa! Não, esse é meu!” E a coisa foi tomando vulto...
eu temia que as doses, tão caras e esperadas da Vacina, fossem jogadas no chão,
se perdessem naquela briga que já envolvia, além das moças, guardas,
seguranças, imprensa e os curiosos de sempre.
De repente alguém colocou ordem na
casa, foi estabelecido um acordo, e um grupo de enfermeiras dirigiu-se em minha
direção, repartindo as tarefas. Uma dizia, “eu levanto a manga; a outra
afirmava eu passo o algodão... a loira se prontificava: se desmaiar eu faço o
boca-a-boca; eu mostro a seringa cheia; eu aplico”... até que uma, morena, de
uns quarenta anos, começou a cantar, com uma pronúncia irretocável:
Non, rien de rien/ Non, je ne
regrette rien/ Ni le bien qu'on m'a fait/ Ni le mal/ Tout ça m'est bien égal...
Era ela!! Édith Piaf... ela estava
ali para me encantar, me seduzir... então não vi mais as moças brigando para me
vacinar! Meus olhos, meus ouvidos - e até meu braço com a manga da camisa
levantada, eram só dela, tudo meu era só para ela! Piaf chegou bem perto de
mim, como se fosse sussurrar algo no meu ouvido, mas disse em alto e bom som:
Vaz, acorda!! Levanta, estás sonhando e falando em voz alta! Está na hora de ir
para a fila da Vacina!
A Maribel levantou, ligou a luz do
quarto, acabando de vez com o tumulto das moças, com a confusão gerada pela a
minha presença... e não havia mais nem sinal da Édith Piaf...
Saí da cama, tomei um café, tirei o
carro da garagem e segui até o local do drive thru. Por algum instinto, peguei
um CD no porta luvas que foi tocando até chegar lá. Dou um doce para quem
adivinhar que música fui escutando!
_______________________
Ah! Já ia esquecendo: Todas as
pessoas envolvidas no processo da linha de frente da Vacinação, do portão à
aplicação da dose hoje, pareciam cantar, com a emoção que o momento pedia,
assim:
Non, je ne regrette rien/ Parce que
ma vie, parce que mes joies/ Aujourd'hui, ça commence avec vous, CoronaVac!
_______________________
P/S A moça que me aplicou a primeira dose da CoronaVac me alertou para possíveis reações, deu várias recomendações e me disse que eu precisava ficar três dias sem... rumm rumm! - um carro acelerou ao nosso lado, e não ouvi direito o que era, agradeci e sai ainda sob forte emoção. Não fiquei sabendo se eram três dias sem cerveja, sem sexo, ou sem mentir. Sem cerveja e sem sexo, três dias... vá lá. Mas... sem mentir, ah! não vai dar!
Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog
Um comentário:
Amei! Muito bom!!!!
Postar um comentário