Canal São Gonçalo, Pelotas, 20 de março/2012, também às 11h. Foto LC Vaz |
O Outono tem meus Olhos...
J.J. Oliveira Gonçalves
O Outono tem meus olhos... Tem esta Alma feita de Nostalgia... Tem este coração carregadinho de poesia... O Outono tem muito de mim. E eu quanto do Outono carrego em minha pele, em meu sangue, em meus nervos, em minha carne, em meus ossos? Quanto? Muito! Quando vim, aqui, para estas paragens belas e doloridas - chamadas Vida - o Outono se fez em meu Mestre e Padrinho...
Tal qual a Lua - a quem minha mãe Nena me apresentou numa noite de plenilúnio, ainda enrolado em fraldas, lá, nas nativas e saudosas terras de Ibagé - e pediu à Lua que a ajudasse a me criar... Desde então, me apaixonei pela Lua, que até hoje exerce mística e hermética fascinação sobre mim. Daí, acredito, vem meu "quê" romântico que me faz Sofrer tanto e meu lado Cigano que deu à minh'Alma o desejo nômade de não pertencer a lugar nenhum, mas a todos os lugares...
O Outono? Ah, o Outono me pegou pela mão quando chegou o primeiro Outono de minha vida e disse: "Vem, João... vou te mostrar as Belezas que há na Nostalgia e não te impressiones com as folhas que caem ao chão e o irmão Vento leva - eis que assim é a Vida, pequenino..." E aquelas folhas todas caídas pelo chão - em lírica agonia - o Outono jogou dentro do meu coração e as transformou em Poesia... Poesia para cantar (ou chorar) qualquer tema - em qualquer tempo e em qualquer lugar...
Ah, não é uma honra ter padrinhos assim? Não é de causar inveja - embora eu deteste esta palavra? Porém, aos que concordam afirmativamente com estas perguntas, devo lembrar que tudo nesta curta e misteriosa Vida tem um preço... O preço que pago sei que é alto demais. Às vezes, nem sei como consigo pagá-lo... São muitas as lágrimas que vêm da Dor, do Sofrimento. Quando aprendia a rezar - com minha mãe e minha vó materna - da "Salve Rainha" me ficou no coração (ou na mente?) "o vale de lágrimas"... Afinal, eu era criança e como poderia compreender aquilo? Fui passando na "Linha do Tempo" e o "vale de lágrimas" foi se mostrando ante meus olhos ainda infantes, inocentes... Mais adiante, ainda, fui aprendendo a conviver com "aquele vale"... (E espero que aquela "Mãe de Misericórdia" - que minha mãe e minha vó me ensinaram a invocar - nunca me esqueça e me dê forças para que eu levante e ande a cada queda nestas Estações duras e doídas da Vida!
Mas, o Outono tem meus olhos, sim! O Outono vive dentro de mim - faz muitos e muitos anos... E, agora, no Ocaso de minh'Alma, o Outono encheu de luz - diáfana e delicada - meu coração... E se esparrama sobre meu corpo e minha face... Quantas nuanças sazonais há em meu eu... Essas nuanças são Lembranças, Saudades, Distâncias, Dores amadurecidas e impressas pelo Tempo... Ah, Belezas machucadas e emblemáticas do Ato - ingênuo, insano e audacioso - de viver...
Sejas bem-vindo, Outono! Meu Mestre, meu Padrinho, meu Irmão! Apruma-me o corpo ainda vergado das porfias desiguais deste terrível Plano. Pastoreia-me a Alma com teu Cajado de Dourada Luz... E ao coração me afaga com tuas Mãos de Paz... e tua macia Voz de Silêncio e Calmarias...
Porto Alegre, 20 de março/2012. 11h
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6 comentários:
JJ, esse barco branco, com uma bandeira branca na popa, singrando em silêncio(?) estas águas de calmarias, parece prenunciar muita Paz para teu Outono...
Pois, Vaz...
Aguçada observação a tua. (Ou intuição?) Sinceramente, desejo que assim seja - não só para mim, mas para todos nós. Quando vi a crônica publicada, fiquei muito contente, pois fazia um bom tempo que não escrevia como o fazia, em outros tempos... E tua foto emoldurou bela e fielmente minhas palavras, meus sentimentos... Nesse espelho d'água que tiveste a felicidade de captar com o olho mágico de tua maquininha, repousam Paz, Silêncio, Beleza, Calmaria... "Coisas" gostosamente outonais - eu penso... Interessante a "coincidência" de horário em que finalizei o texto e em que bateste a foto... Com certeza, por alguma razão (espiritual), no mínimo, isso aconteceu!
Agradecendo pela divulgação de meu trabalho no "VG", vai meu abraço bageense e franciscano!
JJ!
O arquivo digital, JJ, registra exatamente assim -19/03/2012 10:05-. Na licença poética, coloquei "também às 11h", mas entendo que a tua inspiração, com o texto finalizado às 11h, deve ter começado no horário da foto. Coisas da vida, coisas da vida...
Foto e texto em perfeita harmonia!
Parabéns ao Vaz e ao JJ!
Abraço!
Obrigado, Vera Luiza.
Oi, Vera...
Agradeço pela palavra de incentivo.
Pelo elogio fraterno.
Abraço,
JJ!
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