Quero falar português...
Valacir Marques Gonçalves
.
Não sou dado a
purismos linguísticos, menos ainda a qualquer tipo de xenofobia, mas estão
exagerando, todo dia me deparo com tudo que é tipo de termo alienígena para
indicar coisas simples e corriqueiras do nosso dia a dia.
Começar algo
agora é dar um start. Imprimir é printar. Não faltam palavras importadas: é
upgrade ou downgrade, depende do caso - tem gente que melhora de vida, outros
pioram, é o up e o down… Temos ainda o delete, termo perigoso, pois muitos já
sabem que podem sumir do mundo ou do coração de alguém quando deletados…
Temos muitos
outros termos incorporados ao nosso cotidiano: a pizza tem entrega delivery,
algumas não cobram pelo serviço - são free. Outros nomes são antigos: o lanche
é com milk shake. O nosso cachorrinho-quente há muito virou hot-dog. Num dia
desses ouvi um cara dizer que queria o dele bem hot e sem pepper… As
liquidações no comércio são chamadas de sale, isto aí, sale, bem baratinho…
Entrar num shopping é uma aula, parece que estamos em Miami, quase todas tem
nomes como: Brooksfield, Le Lis Blanc, Mc Donald’s, Le Pastiche, e por aí
afora…
Os mais velhos
sabem que essas coisas não começaram agora. No passado, era comum o
exibicionismo usando o francês: toilette, garage, chauffeur, boutique, laque,
bistouri, filet, bouquet e outras eram usadas sem cerimônia. Juristas e
jornalistas usavam (e usam) expressões latinas como sinal de erudição. Com o
advento da supremacia americana, os franceses foram deixados de lado, mas
deixaram uma herança considerável: madame e garçom, por exemplo, mudaram de
cidadania…
Num dia desses,
fui numa festa e voltei confuso: a hostess me recebeu. O promoter me informou
da existência de uma “Lista Vip” esclarecendo que daria um desconto nos gastos
se eu apresentasse o flyer. Fui embora, não conhecia a hostess e nem o promoter
me conhecia. Olhei o preço que cobravam e desisti. Não vou mais a festa sem
flyer…
Continuando,
relato outro fato. Estava com passagem comprada para o norte do país. Fui
informado de que meu cachorro precisaria de um atestado para viajar comigo,
pois ele poderia “contaminar” os caninos nortistas… Como sei que o nosso país é
“um lugar organizado e onde tudo funciona”, tratei de cumprir a Lei. Procurei
uma veterinária num pet-shop. Fui atendido por solícitas recepcionistas que me “lembraram”
que não tenho mais cachorro, agora sou dono de um pet. Logicamente que estarei
no aeroporto acompanhado pelo pet, conforme orientação da dog sitter do
pet-shop…
Concluindo, preciso dizer que,
neste exagero todo, acontece algo incrível: usamos palavras inglesas só
adotadas por aqui. Lá fora, o outdoor é substituído pelo billboard, e o
shopping pelo mall… Somos realmente criativos.
Até outro dia. So long! Vou tomar
tranquilamente meu scotch on the rocks…
________________________
Valacir Marques Gonçalves
.
Um comentário:
Excelente texto ! a nossa síndrome de colonizado não tem limite, um morador do interior chega na capital e dá de cara na vitrine do xópin anunciando 40% off, é insuportável, uma boçalidade tupiniquim.
Postar um comentário