20 de fevereiro de 2013

Quarta-feira sem cinzas


Foto Marcelo Soares

Quarta-feira sem cinzas (*)
.
Marcelo Soares

Esta quente. Ninguém na rua. Eu mesmo deveria estar em casa. A noite foi curta e sem festa desperto com a esperança da ressaca de antigos carnavais.

Já vesti macacão, máscara de pano e calçados gastos. Até hoje associo dias nublados com o retorno das primeiras alvoradas, reconforto-me  na indefinição dos horizontes onde o que não pode ser visto antecipa novidades.

Porém, nem sujos, nem fantasiados, só eu caminhando na ilusão de ser acordado  por alguma referência -  mas não surgem imagens ou batuques que sacudam o pensamento além das nuvens, ou pior: não há nuvens, então  avalio se não deveria ter ficado em casa.

Allah-la-ô, mas que calor. Atravesso o deserto da cidade sem conseguir matar saudades.

Todos dormem, o dia é precocemente claro, minha roupa é mais  formal do que de operário e, apesar de confortável, sinto falta de meus tênis esgaçados.

Retorno queimando pela ausência das cinzas, pelo sol de um amanhecer que não surpreende, e pelo fim de uma memória que não se encontra, nem mais sente.
.
(*) Crônica publicada originalmente no Diário de Canto na quarta-feira de cinzas.
Mas, como aqui o carnaval será "fora de época"...

.

2 comentários:

Camafunga disse...

Fora de hora como o Carnaval de Pelotas :)

Luiz Carlos Vaz disse...

Sim, não podia ter sido melhor...