13 de novembro de 2013

A última Noite do Bianchetti - Epitáfio


Sírio Bianchetti de Oliveira - 22/09/1927 - 13/10/2013
Homenagem do Blog pela passagem do 30º dia de falecimento do
seu Bianchettti, cujo nome está ligado afetivamente
à história do nosso Colégio Estadual de Bagé

A última Noite do Bianchetti - Epitáfio

Gerson Barreto de Oliveira

Meu pai se foi numa manhã de Primavera. Há poucos dias ele havia completado seus 86 anos da forma que sempre quis. Como se encontrava estável, me atrevi e fiz uma festa, quando esteve rodeado da família e de três amigos do peito que vieram de Bagé até São Gabriel.

Há dois anos em São gabriel, onde agora residia, a festa, no entanto, seria perfeita se fosse na sua Bagé, mas as condições de saúde já o impediam de viajar.

Duas de suas mais marcantes características: a amizade incondicional aos seus amigos e a sua generosidade. Mantinha sempre o eterno bom humor. Na sua festa de aniversário me pareceu inicialmente que a doença o havia limitado para sempre. Como a gente se engana. Ao sentir o clima de festa, família, amigos, a comida boa e feita com esmero, aliada à beleza do local, o "seu Bianchetti " despertou mais uma vez. Ficamos felizes, pois ditos e cantorias das caçadas e pescarias estavam sendo novamente entoados. Nunca se sabe qual é o momento final, se está longe ou é para logo, e  esse dia (21/09/13) acabou sendo sua despedida. Não me cabe aqui tecer loas. Sou filho, e pai é Herói, e assim será sempre. Mas relembrando a postagem "A ùltima Noite do Bianchetti", chegou a mim o material que o "Madeirinha" leu em alta voz naquela noite, de cima de uma cadeira, A Última do Restaurante Esquina Bianchetti, e que foi publicado no Correio do Sul, em 10 de novembro de 1988:

"Recentemente, como noticiamos, ocorreu o cessamento das atividades do tradicional ESQUINA BIANCHETTI, que por muitos anos foi ponto de encontro dos bageenses. Nessa ocasião, o chamado Plenário da Pecuária realizou ali sua última reunião, tendo um dos seus integrantes, o Dr. José Flávio Duarte Madeira, proferido a seguinte manifestação:

Senhores, encerra-se nesta noite de outubro, em plena primavera, um ciclo que por sua natureza ímpar e majestosa vai marcar época e deixar saudades.

Por 16 anos, nestas paredes, a pecuária e a lavoura tiveram mais impulso que nos gabinetes dos tecnocratas, ou nas assembleias de classe. Por 16 anos, sob a mediação serena e imparcial do Parente, uma verdadeira bolsa de valores da pecuária existiu nesse local. O preço do boi, da vaca gorda, o peso das carcaças, o peso dos novilhos, o número de Cotas Hilton, o número de selecionados, a tatuagem dos carneiros, o cio das borregas do plantel, a média dos velos, a percentagem de cordeiros assinalados, os financiamentos pelo EGF, as máquinas que quebram, os estouros nos bancos, a mulher do próximo, as conquistas dos solteiros, as fugidas dos casados, etc.

Aqui, campos foram comprados, e aqui campos foram divididos, arrendados, mas o importante é fazer o espetáculo continuar. E a boa vontade valia mais que a verdadeira idade do boi, fosse quem fosse o seu dono.

Sopa de colas de cordeiro, grãos de touro assado nas cinzas da lareira, mulita, perdiz, trairas, jundiás, aqui foram devorados como se estivéssemos no Maxim’s, em Paris.

Enfim, aqui, Parente, hoje toda essa turma te abraça, mesmo que mudes a profissão sempre estaremos contigo ali no Cunhatay, ou em Bagé, e por isso, ao acabar estas humildes laudas, em nome de todos te digo valeu, Parente.

Nota: A expressão Parente é dirigida a Sirio Bianchetti de Oliveira. O final deste discurso foi com fundo musical de uma valsa de Strauss e brindado com champanhe francês."
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12 comentários:

Anônimo disse...

Gerson, me emocionei com o texto e cheguei a sentir a vibração que deve ter tido a festa de aniversário do teu pai. Que bom que tu tiveste a iniciativa de comemorar, pois com certeza esse dia vai ser lembrado para sempre, assim como muitos outros. E para ele deve ter sido um dia da mais pura alegria. Se sentindo amado e festejado. Como todos os bons pais merecem ser. bjo, tua prima Claudia

Unknown disse...

:) lindissimo beijos vitória guasque

Gerson disse...

O que comentar afginal. gostei quando disse "Sou filho, e poai é sempre heroi", um abraço xará, e te digo: tiveste um grande pai.

Anônimo disse...

Gerson

Deixe que o canto da dor solfeje em seu coração, o contraponto do conceber o real.
A máquina do corpo esbanja forças na mocidade, e não nos damos conta do correr do tempo.
Teu coração é campo livre para as boas lembranças, e nada melhor do que recordar momentos, que se tornam épicos.
Não tive conhecimento do passar para a energia do eterno, aquele que foi querido e amado por tantos.
Toca-me dizer que mudei de endereço e estou ladeada pela morada dos filhos, na mesma Barra da Tijuca em que fomos pioneiros.
Que seja nítida para ti, a linha divisória da lógica ou ilógica da vida.
Confesso que esta mudança reavivou as cores das saudades e do vazio de estar só, sem compartilhar.
Não tenho crenças, senão no poder da energia, que governa nossos pensares, instalando no imponderável, o assentamento da paz diante da dor da perda.
O importante é o que fizemos e tens o privilégio de um bom berço e de quem foi amado e compreendido.
Abraça a Aceli e segreda-lhe que sei o que ela sente.
Saúda a serenidade que ajusta as mágoas e dores, e sinta a felicidade de teres teus filhos testemunhando o que é um avô festejado até na partida.
Ele estará, no meu crer, agregado à energia-fonte que o criou. Faz parte do universo, e assim como viemos das poeiras das estrelas, para lá voltaremos.
Não teremos nomes, nem a personalidade que fomos neste planetinha de experiências cósmicas.
O eterno restará nas últimas lembranças das próximas gerações.
Espero que tua emoção e inteligência privilegiadas, sejam gratificadas pela paz e pelo valor do amor reconhecido, pelos tantos que o entenderam, prestigiaram e brigaram com ele em nome de
selar verdadeiramente a admiração e o sentimento de ser Amigo.
Receba o beijo carinhoso desta sua parenta e admiradora, na verdadeira solidariedade
do ato de ser AMIGA.
ANNA GUASQUE MOREIRA LIMA

Cleusa Machado disse...

Sinto, pela sua perda, mas com certeza o Sr. Bianchetti estará em um lugar melhor.
Muitas vezes tomei um bom café com vovó sentada, no balcão da lancheria, quando estudava no Estadual, bons tempos que tenho muita saudades.

Anônimo disse...

Nossso estimado Sírio merecia , pessoa ímpar e está em Deus e com Deus ! Abraços Aluisio e YM

Anônimo disse...

Lindo, Gerson, tuas palavras maravilhosas, estás te saindo muito bem como escritor, só que tens um diferencial dos demais. Em todos teus escritos o coração se faz presente.

Foto linda, dos bons tempos do tio Sirio.

Saudades, saudades, de um tempo de nossas vidas que não volta mais, mas que as lembranças boas que ficaram sempre estarão guardadas do lado esquerdo do peito.

Beijos primo

Anônimo disse...

Gerson, só tomei conhecimento do falecimento de teu pai agora.
Lamento profundamente, mas acredito que a lembrança dele permanecerá
em teu coração e nos daqueles que com ele conviveram. É um privilégio
ter um pai que é lembrado assim, com tanto carinho. Um abraço
carinhoso, Cecilia

jurvi disse...

Que teu pai descanse em paz Gerson. Tenho muito boas lembranças dos momentos que passávamos na Esquina Bianchetti nos intervalos das aulas no Carlos Kluwe no final dos anos 70. Ficará para sempre em nossa memória. Recordo as reuniões com os colegas que estudavam em turmas diferentes e aproveitavam para colocar em dia os assuntos do momento; ver os casais apaixonados que aproveitavam a hora do recreio pra adoçar os lábios e o coração na mesa do cantinho na lancheria Bianchetti. Não foi o meu caso pois não namorei naquela época. Era muito jovem quando estudei no Carlos Kluwe. É nítida a lembrança de ir comprar chocolate, balas ou biscoitinhos pra confraternizar com colegas. Fico imaginando se o poeta Ernesto Wayne estivesse vivo ainda, com certeza escreveria um belo texto voltando à época glamurosa da Esquina Bianchetti e destacaria o serviços prestados à comunidade pelo seu Sirio. Parabéns Vaz por não deixar passara em Branco este momento; como sempre o blog faz juz ao propósito de reavivar a memória dos ex-alunos do Carlos Kluwe.

Anônimo disse...

Vaz e amigos

Só tenho a agradecer pela oportunidade de homenagear o pai, nossa familia gostou muito do resultado final, das mensagens, de tudo.
Agradecimento é pouco ao Tancredo e Elena Blanco, que junto ao neto Pedro, vieram dar o abraço de aniversário, na festa que foi para nós um marco, era a despedida, coisa boa ir embora para sempre depois de uma festa, não é mesmo ?
Aos " tio " Ney Mário e Glênio Carneiro que também vieam dar o abraço no " Aranha ", apelido de colégio do pai.
Maira e Anna Laura, sempre junto.
Abraço
Gerson Oliveira

jurvi disse...

teu pai descanse em paz Gerson. Tenho muito boas lembranças dos momentos que passávamos na Esquina Bianchetti nos intervalos das aulas no Carlos Kluwe no final dos anos 70. Ficará para sempre na memória dos alunos do Carlos Kluwe daquela época. Recordo as reuniões com os colegas que estudavam em turmas diferentes e aproveitava para colocar em dia os assuntos do momento; ver os casais apaixonados que aproveitavam a hora do recreio pra adoçar os lábios e o coração na mesa do cantinho na lancheria Bianchetti. Não foi o meu caso pois não namorei naquela época. Era muito jovem quando estudei no Carlos Kluwe. É nítida a lembrança de ir comprar chocolate, balas ou biscoitinhos pra confraternizar com colegas. Fico imaginando se o poeta Ernesto Wayne estivesse vivo ainda, com certeza escreveria um belo texto voltando à época glamurosa da Esquina Bianchetti e contaria algum fato que relembraria sobre os serviços prestados à comunidade pelo seu Sirio. Parabéns Vaz por não deixar passara em Branco este momento; como sempre o blog faz juz ao propósito de reavivar a memória dos ex-alunos do Carlos Kluwe.

jurvi disse...

Desejo que teu pai descanse em paz Gerson. Tenho muito boas lembranças dos momentos que passávamos na Esquina Bianchetti nos intervalos das aulas no Carlos Kluwe no final dos anos 70. Ficará para sempre na memória dos alunos do Carlos Kluwe daquela época. Recordo as reuniões com os colegas que estudavam em turmas diferentes e aproveitavam para colocar em dia os assuntos do momento; ver os casais apaixonados que aproveitavam a hora do recreio pra adoçar os lábios e o coração na mesa do cantinho na lancheria Bianchetti. Não foi meu caso pois não namorei naquela época; era muito jovem quando estudei no Carlos Kluwe. É nítida a lembrança de ir comprar chocolate, balas ou biscoitinhos pra confraternizar com colegas. Fico imaginando se o poeta Ernesto Wayne estivesse vivo ainda, com certeza escreveria um belo texto voltando à época glamurosa da Esquina Bianchetti e contaria algum fato que relembraria sobre os serviços prestados à comunidade pelo seu Sirio. Parabéns Vaz por não deixar passar em Branco este momento; como sempre o blog faz juz ao propósito de reavivar a memória dos ex-alunos do Carlos Kluwe