Fotografia: acervo particular de Félix Azambuja Contreiras Rodrigues |
O repouso do
Guerreiro
Luiz Carlos Vaz
Talvez o mais
lembrado professor do Estadual seja o Professor Contreiras. Eduardo Contreiras
Rodrigues, nascido na França em 25 de janeiro de 1917, quando o pai, Félix,
estudava e lecionava na Sorbone, viveu, ensinou e contribuiu para a formação de
milhares de jovens bageenses durante décadas, mesmo antes da fundação do nosso Colégio
Estadual, atuando em outros educandários, como o Ginásio Auxiliadora e
o Colégio Espírito Santo.
Quando entrava
em sala de aula era como se, junto com ele, viesse toda a sabedoria do
mundo. O doce aroma que exalava da
fumaça de seu cachimbo Peterson
inebriava a todos nós. Seu grande bigode que emoldurava seu sorriso
emprestava-lhe um ar de nobreza. Sábio como poucos no trato com os alunos mais salientes retrucava uma piadinha mais
esperta, dita em meio a um assunto sério, a ponto de deixar o colega piadista
em apuros.
Quando não
trazia o Mapa Mundo para dependurar sobre o quadro-negro, traçava-o a giz, com
maestria absoluta, não esquecendo nem de pequenas ilhotas nas Antilhas, no
Pacífico ou no Caribe. Dominava seu tema de aula - e outras tantas ciências -
num tempo em que os sábios sabiam quase tudo.
Caminhava
lentamente, como que em constante concentração e meditação sobre coisas deste e
de outros mundos. Usava ternos alinhados, gravatas discretas e pesados óculos
de aro de tartaruga. Foi, sem dúvida, uma das figuras mais marcantes da nossa
juventude.
Um dia se
retirou, deu por finalizada sua tarefa de professor em sala de aula. Admirador
da natureza pôde dedicar-se totalmente à Maragata,
sua propriedade no Uruguai, onde plantou e cultivou vários bosques que iam
recebendo nomes conforme homenageava lugares, fatos ou pessoas. Assim surgiram,
entre outros, o Bosque Francês, o Dos Netos, o Pedras Altas, este último em
homenagem a seu amigo maragato, do Partido Libertador, Assis Brasil. Cultivava
nesses bosques da Maragata espécies
exóticas de toda a parte do mundo, mundo esse que tão bem situava para nós em
suas aulas de Geografia.
Num desses
momentos de descanso foi fotografado pelo filho Félix, em seu escritório, lendo
o jornal do dia e escutando notícias no velho rádio que havia adquirido para
acompanhar a Copa de 70. O pacote de fumo, sobre a tulha da lenha, mostra que o
velho hábito que encantava os seus alunos ainda era mantido.
Em 24 de maio de
2005 faleceu em Bagé este francês/brasileiro/gaúcho, que foi casado com Dolores
Azambuja Contreiras Rodrigues, a Dona Lola, com quem teve oito filhos: Félix,
Paulo, Corina, Hugo, Maria, Lúcia, Luís e José.
Esta cena no
escritório, em meio aos livros, objetos de arte e muitas recordações, não pode
ter outro nome que não seja O repouso do Guerreiro.
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NOTA: Fotografia feita pelo filho Félix e enviada ao Blog por Zé Contreiras; dados biográficos conferidos com Maria Azambuja Contreiras Rodrigues.
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2 comentários:
Tchêeê Vaz, realmente um grande professor, um verdadeiro guerreiro na arte de ensinar. Primeiro fui aluno de uma das filhas dele lá no Esp´ritio Santo, e depois em 71 098 72 aluno dele próprio, bons tempos. Um baita abraço.
Vaz, talvez eu já tenha contato esse causo, mas não resisto. Fui aluno dele, também. Certa vez ele estava dando aula e falou: "Macau, cidade portuguesa, coisa e tal". Um gaiato falou: "Pra mim, Macau é porco sem focinho"... Ele, surpreso pela ousadia, retrucou: "Mas porco sem focinho tem uma vantagem, não fala quando não é chamado". O gaiato respondeu: "Nem sempre!". Só restou pra ele dizer: "Ruuua!".
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