Ilustração de um antigo Cartão de Natal |
A nostalgia chega junto com dezembro…
Valacir Marques Gonçalves
O espírito
natalino tomou conta da cidade. Quando chega dezembro, tenho a sensação de que
gente que não está mais aqui “volta” pra confraternizar, nos fazendo lembrar de
um tempo em que a fraternidade era servida antes da sobremesa… Hoje ninguém
mais se importa com certas coisas – “já eram”, dizem alguns… Tento me adaptar,
mas não entendo como amigos “virtuais” substituem os de verdade. A missa da
meia noite ficou no passado, a “modernosa” de hoje não nos faz refletir sobre o
que fizemos durante o ano, sobre as nossas vitórias e derrotas, sobre os nossos
amores e desamores… Penso nisso e me dou conta de que o Natal significava mais
do que luzes coloridas importadas da China…
Dizem que
saudosismo não está com nada, mas é difícil esquecer Natais que marcaram. Sei
que estórias do passado não entusiasmam ninguém; talvez seja por isso que eu as
relembre somente com alguém que me ouve com paciência e atenção – eu mesmo…
Divido lembranças que só interessam a mim; guardo estórias que não pretendo
descartar, que me encheram de felicidade, juntamente com outras que quase acabaram
comigo. Elas estão num cofre, igual àqueles que são abertos com senhas que
misturam letras com números. É um cofre que tem como guardião um coração que
faz seu trabalho armado de respeito e ternura por tudo o que vivi.
Hoje, o Natal
avisa que temos outras “obrigações”, que é tempo de presentes. Começa pelos
mais próximos. Passa pelos amigos, pela rapaziada que recolhe o lixo, até a
turma que cuida do gás. Não podemos esquecer de quem nos entrega o jornal, do
cara da pizza, da faxineira, do garçom, do flanelinha, e até do “artista” do
semáforo – aquele que come fogo… Todos lembram que não podemos nos esquecer
deles… Além dos presentes, temos as festas do trabalho, da turma do futebol, do
pessoal da faculdade, da turma do happy… É tanta comida e bebida que começamos
um novo ano com a barriga do tamanho do sentimento de culpa…
Lembro que
esperava o papai Noel com ansiedade. A missa lotava as igrejas, eu aguardava o
fim da celebração preocupado, pensando no meu pedido. A ceia era sagrada,
ninguém viajava antes… Certas comidas foram substituídas, mas ainda sinto o
cheiro delas. Lembro do amor que minha mãe tinha por aquilo. Recordar essas
coisas me faz bem, principalmente lembrar de gente que partiu, da maneira que
me abraçavam, da emoção que isso causava. Na minha cidade, lá longe, na
fronteira com o Uruguai, as locomotivas “apitavam” com força, competindo com o
barulho dos foguetes. Tudo passou, mas a esperança de dias melhores continua a
mesma, nunca vai mudar.
Outro ano começa, temos que estar
preparados para a luta. Mesmo com a grana curta, as férias estão aí… É hora de
“descanso”, de recarregar as baterias… A praia nos espera, precisamos encarar
estradas com pedágios caros, engarrafamentos, sem esquecer que ladrões também
gostam do verão – viajam juntos, viraram companheiros de todas as horas… É isso
aí, temos que calibrar a paranoia, não esquecer que outros nos esperam depois
das festas. Eles: IPTU, Imposto de Renda, matrícula das crianças, cartão de
crédito estourado, e por aí afora.
Enfim, tudo apenas muda de lugar… Não
temos escolha, ninguém admite passar o verão longe da praia. É pegar o que
sobrou do dinheiro e usar a disposição para enfrentar os “novos velhos”
desafios. Depois tudo recomeça, estamos vivos. Os amanhãs serão sempre os
primeiros dias do resto das nossas vidas…
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Valacir é bageense, edita o Blog do Vala,
e mora há muitos anos em Porto Alegre
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