Foto Maribel Felippe |
O Idoso
Vitruviano
Luiz Carlos Vaz
(*)
Pois então... eu
aguentei 43 dias! E não me entreguei pros homi. Mais tempo do que muita gente bagual,
que amargou parcos 40 dias, ouvindo promessas, propostas, mas no final se
safou! Eu ouvi de tudo; promessas, propostas,
aguentei tentações várias. Até de dizer nome feio, mandar todos longe, e
sugerir lugares inapropriados onde poderiam “aplicar” a tal segunda dose.
Consultei o Dr Google (que sabe tuuudo!), livros antigos e novos, teses, pesquisas,
principalmente da universidade de cincinatti-massachusetts-ohio, e até o Guia
de Medicina Homeopática do Dr Nilo Cairo... eu precisava vencer - e me
convencer, que a demora não iria mandar tudo prás cucuia.
Então fui tomar
a segunda dose da vacina no horário dos jovens velhos, que é depois de sestear...
Para comprovar minha tese, soube que por volta das nove da manhã, no estacionamento
do draivetru, não cabia mais nem um monociclo... tomei um banho, me perfumei bem e, como fazem
as mulheres, abri o guarda-roupas e bradei em alto e bom som: Eu não tenho mais
roupa! Ora, era a minha segunda dose. Era a minha derradeira oportunidade de
escrever bobagens e postar uma foto nas redes sociais, até por que, nunca vi alguém
postar foto fazendo vacina contra a gripe. Que coisa mais brega!
Já tinha visto
na tevê pessoas encasacadas fazendo um verdadeiro strip-tease para mostrar o
braço (ora, logo o braço...) e decidi: vou “de camisa de manga curta”! O frio
que se foda. Mas... conhecendo bem nosso clima aqui, e o efeito cebola, muito
próprio aqui da cidade, imaginei que às duas da tarde todo mundo já ia andar “descascando”
e com as roupas grossas no braço. Aí, passando o chilique de “não ter o que
vestir para essa ocasião”, achei uma camiseta com a estampa do Homem
Vitruviano, do Leonardo, que eu comprei uma vez ali “ao lado da Fontana”... na
hora, lembrei do samba do Noel, e decidi: é com essa roupa que eu vou para esse
samba.
Depois do
batalhão de enfermeiras disputar no tapa a aplicação da minha dose, na hora da
foto, uns dez ou quinze cinegrafistas e repórteres me cercaram, e não resisti.
Fiz a pose do Homem, digo, do Idoso Vitruviano e lasquei: Este é o verdadeiro Renascimento
para a Vida!
Mas... como
sempre, a Maribel – que me acorda sempre nas horas mais impróprias dos meus
devaneios, disse: Vaz, chega de sestear, te veste, a fila diminuiu, vamos lá!
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Esse desenho de Leonardo Da Vinci atualmente faz parte da coleção da Gallerie dell'Accademia (Galeria da Academia) em Veneza, Itália. É datado de 1490; a técnica é singela: lápis e tinta sobre papel, e mede, os “maiores” 34 × 24 cm do mundo...
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Eu tento me
divertir para espairecer. Isso faz parte da minha condição humana. Só lamento
que, neste momento quase meio milhão de brasileiros tenham morrido pela falta
de vacina. Milhões de pessoas estejam morrendo pela falta de comida. Milhões estejam
morrendo na rua, pela falta de moradia digna. E milhões ainda vão morrer pela falta
de presente e de futuro. Um míssil Tomahawk, um único missilzinho desses, que é
jogado todo dia na cabeça de crianças inocentes, custa a bagatela de 1,59
milhões de dólares. Mas...
(*) Luiz Carlos
Vaz é Jornalista, fotógrafo e Editor deste Blog
Um comentário:
Muito bom!...
É, quase três mil mortos por dia só por Covid, e ninguém parece ter responsabibilidade nenhuma por isso... pensando bem, em alguns lugares um Tomahawk até saía barato!
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