Foto, Luiz Carlos Vaz |
Luiz Carlos Vaz (*)
Comecei a ler
Paisagem Marinha, o mais novo livro do Vitor Biasoli.
Parei.
Não deu para
continuar!
Não foi possível
continuar a leitura como se eu tivesse em minhas mãos apenas mais um livro de
poemas.
Parei. Fui
respirar um pouco, buscar concentração... Eu não tinha recebido pelo correio,
depois de tanto tempo, de tantas des-entregas, e tantas peripécias do nosso
bravo Correio, maisumlivrodepoemas!
Tinha, sim, uma lâmina afiada, que rasga a pele, abre a carne, e mostra até os
ossos - de quem escreveu e de quem lê!
O que proclamas,
quando deitada de bruços,
descansas o corpo,
fechas os olhos
e navegas em nuvens?
...
Acordei durante a noite
com a lembrança do teu corpo
...
Se reclinares o corpo dentro do rio
E deixares as águas te cobrirem,
Se te entregares à paisagem
E aceitares a densidade da mata
...
Se deres o sinal
conta comigo
para ararmos a terra.
...
Pousa tua mão
sobre o meu corpo
diz o meu nome
e me apunhala
...
Esse grito faca
hoje memória
esse barro esperança
...
E me faço navegador
como meu pai apontava
e teço redes de ternura
como a mãe ensinava
...
Cortei as amarras
para uma viagem sem rumo
cortei as amarras num dia de festa
enquanto o céu ardia
sem doer em meus olhos
...
Voltei para casa
para o principio do mundo
e as tuas pernas
me indicaram o caminho
...
E aí temos um Vitor-viajante-marinheiro-soldado, cansado da guerra, retornando à sua Ítaca. Pois, como já nos ensinou o professor Claudio Moreno, "o homem é um eterno Ulysses, sempre voltando para casa".
Me deves, Vitor,
uma boa conversa sobre esse - e outros livros teus. Um dia, depois dessa
verdadeira Odisseia em que vivemos, nos encontramos por aí...
(Ah, o meu
uísque também é sem gelo!)
Vaz, neste
momento, náufrago de uma paisagem marinha.
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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista,
Fotógrafo e Editor deste Blog
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