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Athos Ronaldo (*)
Eu não sabia quem era o Seu Avon, mas a
mulher dele, seguidamente, aparecia lá em casa para uma longa prosa com minha mãe.
Eram amigas, acho que eram amigas desde
a infância, minha mãe oferecia chá com bolachas Maria ou um mate doce. Teve uma
tarde que elas detonaram uma jarra de Q-suco de morango com bolachas de água e
sal. Naqueles tempos não havia o temor da balança e do diabetes. A mulher do
Avon era muito querida, trazia revistas que minha mãe folheava, atentamente, e
em outras vezes trazia presentes.
Nos dias de visita – muita das vezes na
hora do almoço – a mãe comentava que tinha que preparar algo para esperar a mulher
do Avon. O pai não gostava dela, achava uma mala sem alça, decerto tinha lá os
motivos dele.
Nos meus dez anos o que importava eram
os jogos de futebol no campinho próximo da minha casa, andar na Monareta e
assistir Bonanza nos finais de tarde. As amigas da mãe eram, apenas, amigas da
mãe.
Mas me intrigava o oculto do Seu Avon.
Deveria ser uma pessoa importante, tão importante que a mulher dele não tinha
nome, era simplesmente a mulher do Avon.
Certo dia a mãe falou que a mulher do
Avon estava doente e foi visitá-la no hospital. No dia seguinte a mulher do
Avon falecera. Foi um dia muito triste lá em casa, aliás, em toda a vizinhança.
Quando meus pais voltaram do velório
perguntei como estava o Seu Avon – aquela pessoa importante que nunca tinha
visto –, afinal, eram amigos da nossa família e eu tinha que mostrar um
interesse no acontecido.
– Que seu Avon, guri? – minha mãe
devolveu a pergunta.
– A mulher dele não morreu? Ele está
bem?
Com um semblante ainda triste, minha
mãe sorriu e não disse nada.
E eu nunca fiquei sabendo quem era aquele tal de Avon.
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(*) Athos Ronaldo Miralha da Cunha, santamariense por adoção, é um filho de ferroviário que nasceu em Santiago e estudou engenharia na UFSM. Foi funcionário da "Caixa", participou de algumas antologias, publicou vários livros de contos e já recebeu vários prêmios literários com eles. Contos de Chumbo, pela Chiado Editora; Tintos e contos, O código Locatelli e Sofrendo em Paris, pela Penalux Editora, são alguns de seus livros. Athos, que é um colorado convicto, também está presente no livro de crônicas O gol iluminado, publicado em 2009.
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