Luiz Carlos Vaz
Herdei de minha Mãe a incapacidade de decorar as letras das músicas! Mas foi Ela também que me ensinou a improvisar; nada de ir fazendo o clássico “na na na”, mas ir colocando suas próprias palavras nas melodias, que também eram, imagino eu, seus próprios sentimentos, que estavam ali, sendo cantados pela Maysa, Dalva de Oliveira ou pelo Nelson Gonçalves.
E quando eu não sabia, por exemplo, o que significava “Doidivana, quem me calunia, não sabe agonia que eu passo e passei” eu perguntava... Daí ela se esforçava para explicar para o seu caçula, de seis ou sete anos, a força de todo aquele sentimento contidos nos versos de Adelino Moreira.
E assim eu fui conhecendo a música brasileira (*). Fui sendo apresentado a várias situações como: “é melhor brigar juntos do que chorar separados”; “Meu mundo caiu E me fez ficar assim Você conseguiu E agora diz que tem pena de mim...”; “Sofri, mas mesmo assim eu fui feliz, chorei e bendisse a minha dor...”
Muito antes de estudar anatomia ou conhecer o Superman, fiquei sabendo que havia dentro do nosso corpo uma coisa chamada “nervos”, que poderiam ser comparados ao aço (que eu também não sabia o que era...) “Há pessoas de nervos de aço Sem sangue nas veias e sem coração Mas não sei se passando o que eu passo Talvez não lhe venha qualquer reação...”
Não faço ideia de quem seja “o Adelino Moreira dessa geração”, o Cartola, o Pixinguinha, o Nelson Cavaquinho, o Chico, o Milton... Mas, cá para nós, “bundinha” (recorrente em quase todas as letras atuais), qualquer criança quando começa a falar já sabe o que é, e não precisa perguntar prá ninguém...
Já eu, que sou antigo, prefiro escutar mil vezes, bem baixinho, sem bate estaca, coisas como:
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se
desvencilhar da gente
Depois de te
perder
Te encontro,
com certeza
Talvez num
tempo da delicadeza
Onde não
diremos nada
Nada
aconteceu
Apenas
seguirei, como encantado
Ao lado teu
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E eu aqui, escrevendo isso em pleno Carnaval...
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(*) Porém, quando
se tratava de tangos, aí era a vez de meu Pai - que gostava de corrida de
cavalos – explicar uma vitória ou uma derrota “Por una cabeza” mas não de um
petiço qualquer, como os la de casa..., mas “de un noble potrillo Que justo en
la raya, afloja al llegar Y que al regresar, parece decir No olvides, hermano Vos
sabes, no hay que jugar...”
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Luiz Carlos Vaz, é jornalista, fotógrafo e escritor. É também o editor deste Blog
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