Henrique
Pires (*)
Considerado
um gênio do jornalismo, Aparício Torelly foi pioneiro no humorismo político
brasileiro.
Frequentava
seguidamente Rio Grande, onde muitos afirmam que nasceu. Durante alguns anos
foi presença frequente em Pelotas, para onde seu pai mudou após viuvar.
Já usando o
pseudônimo "Barão de Itararé", aproveitava as visitas familiares para
também fazer suas conferências humorísticas, as quais lotavam teatros.
Nos velhos
livros de registro de apresentações do Theatro Sete de Abril, foi possível
identificar algumas daquelas ocasiões pelotenses.
Sobre o
local exato de seu nascimento, ele próprio disseminou a confusão: em algumas
oportunidades afirmava ter nascido na cidade de Rio Grande. Em outras,
apresentava novas versões, mas geralmente com o objetivo de arrancar
gargalhadas da plateia que o idolatrava por seu raciocínio rápido, sua memória
ligeira e sua verve irreverente.
Nasceu no
Rio Grande do Sul. Disso não há dúvidas.
Já mais
velho, narrava a versão que conto a seguir.
Naqueles
tempos, 1895, havia um movimentado serviço de diligências que partiam e
chegavam em frente ao atual prédio da Prefeitura de Pedro Osório, na época
estação férrea Piratini. Muito tempo depois, virou Estação Engenheiro Ivo
Ribeiro.
Pois bem, a
jovem senhora Maria Amélia Brinkerhoff Torelly, com mais de oito meses de
gravidez, embarcou no trem em Rio Grande, onde morava, e rumou para a Estação
Piratini. Desembarcando, comprou passagem na diligência que ia até Jaguarão.
Pretendia
ganhar sua primeira criança sob os cuidados de sua mãe e suas tias, que
residiam no Uruguai, "do outro lado da ponte". Era seu primeiro filho
e ela, com 17 anos, achou melhor enfrentar os trabalhos de parto no abrigo de
pessoas queridas e em ambiente de paz. Afinal, o Rio Grande do Sul ainda estava
em plena revolução de 1895, os hospitais cheios de feridos e os campos repletos
de pessoas degoladas.
Maria Amélia
já desembarcou do trem torcendo que desse tempo de chegar ainda grávida ao seu
destino. Não deu.
Em meio aos
solavancos da diligência, ela percebeu que a criança não iria esperar para
nascer na fronteira.
Assim, em
algum lugar na estrada entre Arroio Grande e Jaguarão, naquele dia 29 de
janeiro de 1895, veio ao mundo Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, futuro
"Barão de Itararé", jornalista brilhante que cunhava frases
cortantes. Como aquela, onde afirma "senso de humor é o sentimento que faz
você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você".
Eleito e
cassado no Rio de Janeiro, era celebridade nacional. Detestava Getúlio Vargas,
conhecido dos tempos de estudante em Porto Alegre. Uma figuraça!
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Nota do Editor: Na Biografia do Barão, escrita por Cláudio Figueiredo, o H.Pires identificou, na página 9, o homem à direita na foto como sendo Batista Luzardo, e anotou a lápis no exemplar que me deu de presente, há tempos...
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(*) Henrique
Pires nasceu em Pedro Osório. volta e meia reside em Brasília, onde já trabalho
no Grupo RBS, foi chefe de gabinete de dois Ministros de Estado e foi
Secretário Federal da Cultura. Atualmente é o Secretário Executivo da
Representação do Estado do RS na capital da República. Tem licenciatura em
Estudos Sociais pela UFPel e Especialização cursada na Espanha, na Universidade
de Salamanca.