22 de abril de 2012

Todo dia era dia da Terra

Depois que o meu Arthur brinca na terra, a mãe dele dá um banho completo
com sabonete Lifebuoy, o “único que tem um sistema antibacteriano Active 5"
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Quando eu era pequeno a relação com a terra era diferente. Brincar na terra não fazia mal, não causava doença e nem possuía contraindicação. A terra era como nossa mãe: acolhedora, gentil e provedora. A terra era a matéria prima para tudo. Misturando a ela um pouco d’água, era possível, como Deus, moldar não apenas um Adão, mas também tijolos, vacas ou bois.
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A terra era preta ou vermelha, dependendo do lugar onde era cavada para fazer parte do brinquedo. Cuidávamos da terra pois reconhecíamos nela, como eu disse – um ente acolhedor, gentil e provedor. Na escola não ensinavam a cuidar da Terra. Seria como ensinar para crianças de sete nos que era preciso respirar para viver. Isso, nós aprendíamos aos nascer.
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Hoje é diferente (não gosto de falar assim, pois parece uma coisa saudosista...), o contato com a terra é evitado. Na terra existem germes que precisam ser combatidos com cremes e sabonetes caros. Hoje, brincar com terra e água “pode causar infecção na garganta” e as crianças (até as que não brincam com a terra) têm que tomar antibióticos (que são distribuídos fartamente nos postos de saúde). Hoje há os com terra e os sem terra. Hoje há os que se apossam da terra e os que fazem grilagem da terra. 
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Hoje existe até um Dia da Terra.
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Eu não sou mais criança, portanto, “brincar na terra” é apenas uma lembrança guardada num canto da minha memória. Também só fico sabendo que hoje é o Dia da Terra pelas redes sociais, pois isso não faz parte da minha memória. Só sei que, quando era pequeno e brincava muito na terra, o máximo que acontecia era pegar uma “pereba” qualquer que nossa mãe, que como eu disse, era acolhedora, gentil e provedora, tirava rapidinho esfregando nossa pele com um pedaço de sabão “Estrela” comprado no armazém do seu Wayne
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Quando eu era guri, não havia um Dia da Terra, pois
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Todo dia era dia da "terra",
mas agora Ela só tem o dia 22 de Abril...
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3 comentários:

Gerson disse...

Tchê Vaz, que coisa gostosa era estar em casa, por os pés descalços, brincar no pátio, correr no campinho do Sr. Adiles, jogando futebol, nós fazíamos cavernas nos barrancos do corte da via férrea, e voltávamos a tardinha para dentro de casa irreconhecíveis de tanta sujeira, mas tranquilos descarregados das tenssões, porque a mistura mais certa que DEUS idealisou foi: homem e terra, e explico assim, o contato com a terra tira o stress, é por isso que naquele tempo não se conhecia esse mal, hoje a falta de contato com a mãe terra, o passar o tempo todo calçado isolado da terra, mantém as tenssões do dia a dia e os males vão aparecendo.

Sérgio M. P. Fontana disse...

LC Vaz,

Assino embaixo as constatações de vocês, enfatizando que a referência do Gerson sobre a gente andar o tempo todo calçado, isolado da terra, o que nos impede de descarregar as tensões, é uma verdade científica.
Em outros tempos, brincar com terra era o xodó da gurizada a partir da idade em que conseguissem engatinhar ou sentar. Os bem pequenos, de vez em quando, até ensaiavam comer terra, para desespero das mães deles, mas não ficavam doentes, nem nada.
Acredito que o instinto e a vontade de brincar com terra estejam só adormecidos no subconsciente de cada criança que hoje não brinca na rua e nem no pátio de casa ou nem tem pátio para brincar.
As crianças agora - refiro-me às que, de um modo geral, têm acesso a uma vida digna - em função de vários fatores ligados à evolução científico-tecnológica, dão os primeiros passos em frente à TV, concentradas em vídeo-games ou conectadas à www.
Basta, porém, proporcionar a elas um espaço aberto, como uma praia, por exemplo, e lá vão elas sentar no chão e começar a brincar de fazer castelinhos de areia e água, com direito a ficarem irreconhecíveis de tanta sujeira, como disse o Gerson.

Abraço.

Gerson disse...

Tchê Vazolha só a poesia que o JJPoeta escreveu!

Cio e Seara!
J.J. Oliveira Gonçalves



Ao Semeador falou a Terra:

Acaricia-me o exuberante ventre!

Amo a magia dessas tuas mãos

Pois na calosidade delas eu me deleito

Quando aos teus cultivos me abandono...

Quero tuas mãos gostosamente rudes

A afagar a fertilidade do meu ventre!

Quero, sim, germinar estas Sementes

Com a Seiva da Vida tão latente

Que faz filhos

Que dá flores

Que traz frutos

Para a boca vazia que me pede...



Ao Semeador clamou a Terra:

Vem, ó Plantador de Esperanças!

Minhas entranhas revolve para o plantio

Prepara-me e prepara-te:

Estou no Cio!

Rasga-me a pele com tuas doces garras

E sobre meu ventre de viçosa fêmea

Faze o Amor ardente que engravida!

E nesta Paixão com que nos penetramos

Me entrego ao Prazer abençoado e puro

E vibro ao teu toque mais profundo

E bebo do teu suor e do teu cheiro...



Ao Semeador bradou a Terra:

Anda, apressa-te, Posseiro do meu Corpo!

Estou no Cio!

Semeia, planta, esparge, espalha

O cálido Sêmen que reproduz a Vida!

E irei parir para ti e para os teus
O Sagrado alimento, o sazonado fruto

Pedaços de mim mesma que ofereço:
Ruidoso Parto de Paz e de Fartura!