10 de maio de 2012

Pátria Verde e Amada!


Kika, a Branquinha, fazendo pose ao lado da "Pátria" do JJ

Pátria Verde e Amada!

J.J. Oliveira Gonçalves 

"Eis minha primeira máquina de escrever. Meu primeiro teclado. Com suas teclas redondas, pequenas, delicadas. Minha pequena máquina de marca PÁTRIA - que nem sei se saiu outra igual ou se é, também, filha única da família. Esta maquininha - de um verde carregado de Esperança - foi o primeiro presente que ganhei de meus pais ao vencer a primeira etapa de meus estudos: o então Curso Primário, em meus cinco e longínquos anos no inesquecível "Grupo Escolar XV de Novembro", em Bagé, em dezembro de 1956.
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Naquela tarde de verão, na Casa Paroquial da "Matriz de São Sebastião", estavam meus pais, parentes e amigos que foram assistir à formatura do "Joãozinho da Dona Nena e do seu José". Aliás, essa "identidade" me dava muito crédito. Inclusive, quando, por ventura, "alinhasse" alguma guria e vice-versa... rs... Assim, meus pais que, desde eu bem pequeno, já me incentivavam com revistinhas, almanaques e pequenos livros, agora complementavam esse incentivo com esse raro e significativo presente. Era uma nova etapa no rumo do aprender mais. Do crescer mais. Era como se nesse belo presente houvesse uma mensagem subliminar, como a dizer: "João, não basta ler. É preciso - ainda - que escrevas!"
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Como acredito na Beleza dos Anjos e nos Mistérios da Fé, creio que meus pais foram "inspirados" na escolha do mimo ao seu franzino e tímido João. E eu que ganhei esta Alma formatada deste jeito e um coração feito de metáforas, por dentro, depois de muito, muito tempo, compreendi que essa maquininha verde - que traz tatuadas marcas das Intempéries, apesar de bem guardada - foi o primeiro "Sinal" de minha caminhada pelo mundo colorido e universal das Letras. Um mundo que pode descrever o mundo. E pode, igualmente, recriá-lo, fazendo dele uma releitura. E, mesmo, escrever um novo mundo. Ou um mundo tão somente seu!
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Aqui, nestas teclas pretinhas, redondinhas e delicadas, ensaiei os primeiros "passos" de minhas mãos em direção à Literatura. Aqui, ensaiei os primeiros voos em direção ao Infinito poético. Aqui, "rabisquei" as primeiras metáforas que me rondavam a Alma. Aqui, nestas já velhinhas e aposentadas teclas, ensaiei a primeira revoada de versos e rimas que alçaram voo de meu coração! Devo muito a esta pequenina e verde PÁTRIA - companheira silenciosa e barulhenta ao mesmo tempo - que me viu guri, adolescente, moço, adulto, professor, jornalista... E, hoje, é ainda testemunha - quietinha e calada - de meus versos encanecidos, de minhas rimas apaixonadas, das estrofes misturadas de Beleza e Dor, de minha prosa franciscana de Paz e Bem, mas igualmente arthuriana quando "da Justiça a clava forte" me impõe a luta fera do bicho-homem! Sou compulsivo no ato de escrever.
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Assim como gosto de um delicioso bombom, de um cremoso sorvete. Assim como aprecio (e canto e me encanta) a beleza sensual de uma mulher. Ah, as mulheres... Para mim, são irmãs em carne-e-osso da Amada Lua! Ou, suas femininas filhas - quem sabe? Bem, é preciso controlar a tal compulsão. É preciso colocar um ponto no final da página. Não sem antes dizer - com um suspiro fundo e reminiscente - que, nesta PÁTRIA VERDE, meus dedos-curumim cataram seu "primeiro milho" buscando, ansiosos - em suas teclas - as letras para compor a palavra...
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A palavra que nunca me faltou do solitário, sublime e solidário ato de escrever! Hoje, estou no quarto computador. Todavia, eles vêm e passam. Eu os acho um tanto arrogantes e pretensiosos. São até desobedientes, pois os homens os endeusam e se creem os tais... Por isso, mesmo, passam. E embora todos passemos no Tempo, minha maquininha verde-bem-brasileira de mim não se afastou: ficou! É parte da memória das Lembranças, das Saudades, dos Suspiros... Enquanto eu viver, ela viverá comigo. Depois... Bem, depois já será outra história. Outra realidade. Eis que, então, ambos teremos mudado de vida... Para melhor ou para pior? Bom, isso só Deus sabe.

A saudosa Kika do JJ  olhando para o teclado da Pátria
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Mas, para não dar aos finalmentes desta crônica este ar um tanto melancólico, viajando nas ramagens das lembranças e entre suspirosas Saudades, quero ficar com as doces imagens de um menino de 12 anos a desembrulhar, curiosamente, aquele presente tão escondido em sua embalagem... Quero sentir o mesmo coração batendo forte de Emoção, os mesmos olhos cheios de encantamento e a mesma Alma feita de uma alegria-menina ao me deparar, finalmente, com minha maquininha de escrever de um verde forte, de um verde-verde, de um singular Verde- Pátria!
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Ah, relembrar que entre essa surpresa amorosamente marcante fiquei, ali, como que anestesiado - paralisado com a beleza mágica e envolvente daquele momento. Todavia, que abri a porta da sala onde estava, com meus pais, entrei na venda e peguei uma folha dupla do papel pardo, (com que se embrulhava a mercadoria a granel), de cima do balcão - de sob um peso grande, de vidro, igualmente verde-escuro, muito bonito (cristal?) - e o coloquei na máquina. Ali, sob os olhares sorridentes e felizes de seu José e de dona Nena, comecei a "catar" - quem sabe - os primeiros versos, as primeiras rimas..."
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Nota: Somente lastimo não saber, ao certo, se minha maquininha foi comprada no "seu Obino" ou no "seu Aracely" - com os quais meu pai se dava pessoalmente e dos quais era um bom cliente.
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JJ Oliveira Gonçalves
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"Minhas palavras são como as Estrelas... Jamais empalidecem!"
(Grande-Chefe Seattle)
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Porto Alegre, 16 de setembro/2011. 14h33min
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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9 comentários:

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Prezado Vaz...
Passam alguns minutos das sete da manhã e estou muito, muito emocionado... Ao ver esta crônica publicada em nosso "Velha Guarda do Estadual", o coração-guri bateu mais forte... E a Alma suspirou de um suspiro fundo e por demais saudoso... Voltei no tempo. Fui ao Passado - aquele em que nós, sonhadores guris de Bagé e, muitos do Estadual, tivemos a felicidade de conhecer a vida calma porque era manso o boi... Privilégio daqueles tempos de calmaria que desfrutamos, enquanto nossos queridos pais trabalhavam, lutavam, se sacrificavam para que fôssemos "alguém" na vida - como era costume dizer-se, então... E para realizar esse Sonho belo e nobre de nossos pais, eles batalhavam para nos deixar a educação, o estudo, a sabedoria e alguma profissão como herança de seu dever, de sua bondade, de sua Sagrada Missão e Herança de pais! Enquanto (re)lia o texto, a Emoção ia aumentando... Um calor gostoso me aquecia de dentro para fora - como se fora um afago, quem sabe, que o próprio Tempo fazia em mim... Com certeza, Vaz, revi o ambiente da aconchegante e protetora casa paterna, na Rua dos Sargentos, 101! Senti as Emoções daqueles momentos, agora, multiplicadas pelos anos que me trouxeram até aqui... Que posso dizer a ti - que me proporcionas esta alegria emocionada e reminiscente, no início da manhã deste Outono que, por ser Irmão e Mestre, me faz nostálgico e suspiroso? Ah, sei: só te posso manifestar meu sentimento de gratidão. Dizer-te: muito obrigado, Vaz, valeu! E esta gratidão continuará valendo - se estenderá além do Tempo e das Distâncias - pois é exatamente assim que sou, assim é que fui feito e mandado, aqui, neste Plano por demais efêmero e Enigmático! Mas, agora tenho que fechar o comentário. Parece que me estendi demais. É a tal compulsão pelo ato gostoso e, muitas vezes, dolorido de escrever... Então, devo dizer-te desta minha alegria doída de ver minha querida "Branquinha - a Kika" - no "Velha Guarda", com essas legendas tão belas, tão espontâneas que me soam fraternas, familiares... Com certeza, "Branquinha" e eu te agradecemos a homenagem. Com certeza, Vaz, essa é uma homenagem que fazes ao Amor: ao Amor de um homem por um bichinho-de-estimação e vice-versa... E são bem raros os Espíritos humanos que podem compreender essa "Comunhão de Almas" entre um ser humano e um animalzinho... Essa é uma Comunhão silenciosa, cúmplice, natural... Sem favores e sem cobranças... É, simplesmente, um "estar" com o outro - na Paz e no Bem - em numa Harmonia Cósmica... Ah, são muitos e fascinantes os Mistérios que vejo na Vida, Vaz... Minha "Branquinha" está linda - como sempre - e espero tê-la ajudado em sua rápida e amorosa passagem por este Plano, na Caminhada de sua Evolução... Eu, com certeza, aprendi muito mais com ela: Lições de Coragem para enfrentar a Jornada... E de Amor para que essa mesma Jornada continue valendo a pena - apesar de o bicho-homem continuar sendo "o mais cruel dos animais" e de ver nossos Valores mais caros serem banalizados na loucura desenfreada do dia-a-dia!
Pela "Pátria Verde e Amada", pela "Kika", pela publicação da crônica, por mim, OBRIGADO, Vaz!!
Com meu abraço franciscano - sempre!
JJ!

Gerson disse...

Tchê JJ, gostei muito da tua crônica, grande presente seu José e dona Nena deram a esse filho que fostes e que ainda és, embora eu tenha certeza que os grandes presenteados nessa estória toda, fomos nós. Um baita abraço indio velho.

Luiz Carlos Vaz disse...

JJ, tua sensibilidade nos brinda sempre com esses textos carregados de emoção. Ela nos ajuda a viajar no tempo, tempo que não volta, mas que nos traz, sempre, grandes e belas recordações de nossa meninice ingênua dos tempos do Estadual de Bagé. Um abraço.

Vera Luiza SVaz - maudepoesia.blogspot.com disse...

Lindo texto do poeta/amigo JJ! Pleno de lembranças de um tempo e de um lugar que vivem hoje na memória!
Como disse Jorge Amado, certa vez, sobre suas narrativas, são histórias de um tempo que devem ser registradas, porque os lugares, as pessoas hoje são outras, os tempos mudaram, as histórias mudaram...
Grande abraço!

Yna Beta disse...

Nossa.... Que bela recordação....
Adoraria ainda ter a minha primeira máquina de escrever.
E como era gostosa de escrever nela,fazer cartas para os clientes da minha loja...
Recordações.... E mais nada.
Belo texto, amigo.
Beijos.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois, Vaz...
Aqui estou, depois de certa ausência... Neste envolvimento fraterno e, quem sabe, meio amalucado que tenho com meus bichos-de-estimação, andei cuidando para que um cusco e duas gatas recuperassem sua saúde - luta que me deixa ansioso e estressado. Felizmente, meu cusco "Urso" (14 anos) já está bem - e "Mimi" (10 anos) e "Tutuca" (13 anos) quase boas. "Cusco" é um termo carinhoso que trouxe da infância, de Bagé. Assim que - não importando a raça nem o tamanho - tenho quatro cuscos e três cuscas... rs... Além desses cuidados diuturnos, escrevi alguma coisa para me entreter e aliviar as preocupações, o estresse.
Abraço franciscano!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Gerson, meu índio velho...
Tuas palavras aquecem meu coração - com certeza! Palavras de um amigo que não conheço, pessoalmente, mas que quero ter o prazer de conhecer - dar um aperto de mão, um abraço daqueles que nos lembrem que somos irmãos pelo Chão Bageense onde nascemos! Muito obrigado - mesmo! - Gerson, e me desculpa pelo tempo que demorei para responder ao teu espontâneo e fraterno comentário!
Abraço franciscano!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois, Vera Luiza...
Concordo contigo e com Jorge Amado, pois esses momentos de uma "felicidade à flor da pele" ficam perpetuados na memória das lembranças, lá nos rincões da Alma, no cofre do coração... Aí, estão a salvo das intempéries do tempo, da distância... E sobrevivem - mesmo ao vazio diuturno das Ausências que passam a morar em nós... O mundo gira de forma vertiginosa, os tempos mudam, as pessoas são outras, os Sentimentos se vão banalizando... infelizmente!! Todavia, as historinhas pessoais de cada um de nós são testemunhas - singelas e eternas - fora do alcance dessa mão avassaladora que macula o Belo e faz de avesso um panorama que, antes, era o direito... E considera piegas mesmo o que era Amor!
Obrigado, Vera, por tuas palavras sempre fraternas e solidárias!
Abraço franciscano!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Oi, Yna...
Que prazer te encontrar, aqui, minha amiga... E encontrar tua palavra gentil e também cheia de recordações! Que bom que as reminiscências que trouxe à tona, te levaram, também, a doces, saudosas e alegres lembranças...
Obrigado, por teres passado por aqui - e pelo elogio fraterno que sempre tens para mim!
Abraço franciscano!
JJ!