"Pretinha", a Chuva e Eu...
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J.J. Oliveira Gonçalves
Pois, enquanto vou me escondendo um pouco de mim, em mim
mesmo - numa espécie de fuga da realidade - para não ficar o olhar parado
"a ver navios", passeio um pouco por meus arquivos, no PC: textos,
imagens, música... E, olhando meu álbum de fotografias, encontrei três fotos da
"Pretinha" com o mesmo tema: olhando, comigo, a Chuva pela janela,
pingos e respingos pela vidraça...
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"Pretinha", então, era ainda uma fofa e curiosa
gatinha-menina. Assim, as três fotos me levaram a pouco mais de três anos, pois
"Pretinha", agora, está com três aninhos e meio. Por essa época, meus
bichinhos - todos - estavam fortes e saudáveis. E eu mesmo me aventurava a
algumas viagens (curtas) e prazerosas. Viagens de cunho pessoal e cultural.
Belo tempo, ainda... Todavia, por isso mesmo, corto aqui essas saudosas
reminiscências. Para o meu bem. Para o bem do meu estado de Alma. Para evitar
torturar (ainda mais!) o Espírito. Enfim, para não martirizar meu Ocaso...
cinzento e melancólico...
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Mas, como eu dizia - ou escrevia - eram "Pretinha",
a Chuva e eu, naquela tarde clara de Outono. Ela olhava com olhos indagadores a
rua... Com olhos arregalados - redondos olhos de ouro - aos pingos da chuva na
janela... E, com orelhas atentas, ouvia o tilintar das gotas cristalinas que,
suicidas involuntárias, estatelavam-se contra a fria indiferença da vidraça...
E eu - que há muito descobri que sou filho da Chuva (Oxum) e irmão do Vento
(Oxóssi) - falava para "Pretinha" sobre a irmã Chuva... Sobre o
fenômeno de Mãe-Natureza. Sobre a melodia compassada que ela nos oferecia...
Sobre a Poesia que se fazia concreta naquele momento mágico... Enfim, sobre a
Beleza do quadro que Deus pintava com pincéis de água, de Energia e de
Mistério...
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Me faz um bem danado "falar" com meus
bichinhos-de-estimação. Sei que a eles também. Todos me "respondem"
com a mudez significativa do olhar - ou com gestos expressivos que dizem do seu
corpo e de sua Alma... Tenho algumas gatas que "falam" constantemente
com sons interessantes - sustenidos e bemóis, como costumo dizer - que me
encantam e me consolam as Penas de poeta e as Dores de homem-comum!
"Pretinha" é uma delas. "Branquinha" também gostava muito
de "conversar" comigo... Às vezes, era como se estivesse (e não
estaria?) me afirmando alguma coisa... Outras, num tom dengosamente
interrogativo... (Saudade sem fim carrego de minha insubstituível e querida
amiga "Kika"!!)
Nesta foto e, em mais duas, "Pretinha" ouvia com
atenção minha aulinha mui singela e natural sobre a Chuva. Lembro que -
menininha - recém começava a conhecer, a experimentar e a se inserir neste
mundo feito de Belezas e de Sofreres...
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Fui professor durante mais de 30 anos.
Aliás, os melhores anos de minha vida dediquei ao magistério. Depois que me
aposentei, (graças a Deus e a mim), dôo o que sobrou de minhas andanças pelas
salas de aula aos meus animais-de-estimação. Sou seu professor, às vezes.
Procuro ajudá-los o quanto posso. Outras, eles são meus mestres e sei que muito
me ajudam. São filósofos silenciosos do cotidiano que me intuem sobre as
mazelas da Vida que ainda não compreendo - e não compreendendo não as aceito.
Eles, ah, eles são criaturinhas extremamente humildes, frágeis e demasiadamente
resignadas... Solidários. Perdoam com naturalidade e de coração. Me esforço
para ensiná-los. Porém, me esforço muito mais para aprender com eles. E,
enquanto estiver por aqui, quero desfrutar de suas Lições de Paz e Bem, de
Sabedoria e Amor. Sei qual o Laço Sagrado que nos prende, nos une, nos faz
Amorosos: é a Consciência Cósmica de que somos - todos! - simples Seres da
Natureza! Temos um Único Pai, ou Criador. Portanto, somos, igualmente, filhos
Bem-Amados da Mesma Fonte!
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"Pretinha", a Chuva e eu: um flagrante íntimo,
interativo, prazerosamente familiar... E um bocadinho desse flagrante, feito de
Natureza e de Poesia, é que lhes ofereço, com estas palavras ditadas pelo
coração. Pelo coração de um poeta que - "Night and Day" - perambula
por suas vielas interiores e trevosas, sempre em busca de amplas e luminosas
avenidas... E, nessas filosóficas e utópicas andanças, não dispensa a cúmplice
e curadora companhia de seus bichinhos-de-estimação... Eis que eles sabem como
pastorear-me a Alma e apascentar-me o Espírito. Este Espírito atribulado e tão
desconfiado quanto um abandonado cão de rua...
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JJ Oliveira Gonçalves
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Porto Alegre, 23 de maio/2012. 11h15min
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3 comentários:
Lindo ler e perceber a relação amorosa e de entendimento do poeta com os bichanos...
Entendo perfeitamente, amigo JJ!
Leitura fácil e prazerosa, plena de sentimentos e de reflexões, avança pela alma, faz-nos comungar dos mesmos sentires...
A prosa de JJ hoje mostra o poeta um pouco menos triste, eu diria, o que alegra o coração dos amigos leitores.
Grande abraço e parabéns pela escolha dominical, amigo Vaz!
Pois, Vera e Vaz...
Apesar de alguns dias já passados desde a postagem do texto, não deixaria de registrar, aqui, minha palavrinha de agradecimento para vocês. Ao Vaz, pela publicação desta crônica, no "VG" - o que me deixa contente, feliz, pois vejo a divulgação espontânea e fraterna que valoriza meu modesto trabalho. À Vera, pela sinceridade e beleza das palavras que são alento e incentivo para continuar esta complexa Jornada - reticente e cheia de espreitas, de armadilhas... Essa relação amorosa de Paz e Bem com os bichanos é fruto de uma visão de neném - no colo de minha mãe, ou de minha avó materna, ou de meu pai, sobre meus bichos-de-estimação. Desde, lá, nasceu meu fascínio por esses enigmáticos e engraçados, (porque brincalhões), "seres da Natureza". Sou um camarada que gosta "dos animais" e não, apenas, "de animais"... Aí, creio, nessas diminutas partículas, reside uma grande diferença que modifica, claramente, o sentido do verbo... rs... Com certeza, sinto-me feliz vendo esse flagrante - familiar e íntimo - de minha "Pretinha" com seus redondos, atentos e curiosos olhos-de-ouro, como a me perguntar: "o que é isso, papai humano?" A resposta está no próprio texto. Ah, antes que me esqueça: costumo dizer que minh'Alma é uma Alma felina... Alma de gato... Feita de perscrutações, curiosidades, andanças e Liberdade...
Um franciscano e "felino" abraço!
JJ!
JJ, os leitores do Blog é que agradecem pelas belas crônicas com que nos brindas.
Um abraço
A casa é tua.
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