Túmulo pertencente à família do Cel. Antonio Xavier de Azambuja, em foto da autora |
No Cemitério das Tunas repousa o primeiro Intendente de Bagé
Profª Ms Elaine Maria Tonini Bastianello
"O jornal Folha do Sul, de Bagé, publicou
que o Cemitério das Tunas havia
se tornado um local histórico
através do decreto lei municipal.
Esse
fato instigou-me a ir em busca desse espaço de sepultamento
de cuja existência, confesso, não sabia".
EMTB
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Localizado no interior do Município de Bagé, na
localidade das Tunas, este cemitério de campanha fazia parte da propriedade do Cel.
Antônio Xavier de Azambuja. Hoje, propriedade do Sr. Artur Renato de Campos
Rodrigues, que, gentilmente, me acompanhou nesta visita.
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O Cel. Antônio Xavier de Azambuja foi o primeiro
Intendente Municipal desta cidade. Sobre essa questão (TABORDA, 1966, p.110) afirma
que Azambuja foi nomeado no dia 8 de abril de 1893 pelo Presidente do estado, Dr.
Julio Prates de Castilhos, sendo que no dia 20 de abril tomou posse do cargo de
Intendente. Naquela época, a sede da intendência, onde se despachava,
localizava-se onde hoje funciona a escola Monsenhor Constábile Hipólito,
localizada na rua Conde de Porto Alegre, ao lado da Catedral de São Sebastião.
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No entanto, há que se ressaltar que seu
mandato foi interrompido, pois estourou a Revolução Federalista de 1893, na
qual, pela primeira vez na História do Brasil, o exército brasileiro estava
sitiado pelas tropas federalistas. Conforme argumenta (TABORDA, 1966, p.110), o
Cel. Azambuja “mandou vir das Tunas uma força de 200 homens, que colocou à
disposição do Cel. Carlos Maria da Silva Telles”. Na Praça da Catedral o Cel.
Azambuja permaneceu na defesa da legalidade juntamente com o Cel. Telles.
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Terminado o “Sítio de Bagé” o nosso primeiro
intendente retorna às suas funções políticas e conclui o seu mandato, que se
encerra no dia 12 de abril de 1897. Concluída a sua função de Intendente, ele
retira-se para a estância nas Tunas a fim de administrar a sua propriedade
rural. Veio a falecer no dia 29 de dezembro de 1913, aos 83 anos de idade, na
residência de seu amigo, Dr. Lybio Vinhas, na cidade de Bagé, e sendo sepultado nas
suas terras no Cemitério de sua família, nas Tunas. Deixou muitos descendentes,
que circulam por esta cidade, mantendo como legado a forte ligação com o campo.
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Assim, o Cel. Antonio Xavier de Azambuja encontra-se
repousando no Cemitério das Tunas que é um cemitério secular, pois ali
encontramos enterramentos realizados a partir do ano de 1885. Esse espaço
cemiterial é todo fechado com um muro que se diferencia por ser feito de pedras
e revestido externamente com argamassa.
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Ao entrar pelo portão desse sepulcro, logo se
percebe a grandiosidade da volumetria de seu túmulo, pois essa sepultura
apresenta um suntuoso frontão aberto o que estabelece uma diferença em relação
aos demais túmulos. Essa edificação funerária, que foi erigida em memória do
Cel. Azambuja, é uma construção vernacular, sem nenhum tipo de ostentação,
quanto ao material empregado na sua feitura. De tijolos, apresenta como
acabamento uma pintura caiada na cor branca.
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Esse túmulo sofreu uma intervenção, pois como
é possível perceber, a sua lápide não é contemporânea à sua época. O emprego do
granito nas construções mortuárias ocorre aproximadamente a partir dos anos 50
do século XX. Nessa lápide, à esquerda, encontramos a foto em preto e branco, em porcelana, do casal Cel. Antonio e Flora Xavier de Azambuja. Essa fotografia
está emoldurada por um material cromado, que não corresponde à data desse
túmulo. Também merece ser destacado que seu epitáfio diz: “O tempo passa e
resta saudade”.
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Além da intervenção do granito e da foto, percebe-se
também a utilização de ladrilho tipo mosaico, muito utilizado na época, mas
aqui é empregado como um friso para proteger a lápide. Como adorno se destacam
em suas laterais dois belos vasos confeccionados em mármore italiano, estes
provavelmente da mesma época da construção do túmulo. Passado um século de seu
falecimento, as suas atitudes em vida tiveram o seu reconhecimento através do
tombamento desse espaço funerário que ganhou visibilidade e assim foi
contemplado como patrimônio histórico deste município, conforme a Lei Municipal
Nº 5126, de 03 de abril de 2012.
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Através
dessa Lei ficou garantida a perpetuidade do Cemitério das Tunas, pois esse
espaço mortuário transcende a sociedade que o erigiu. Assim, é de extrema
pertinência para Bagé, pois ali está
sepultado o primeiro Intendente deste município.
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Compartilhar
com os leitores um pouquinho dessa história significa resgatar a memória
pública desse político, guerreiro e estancieiro que tanto contribuiu para a
vitória das forças democráticas desta cidade no final do século XIX. Conhecer parte
desse passado significa reafirmar a sua identidade e ao mesmo tempo interditá-lo
do esquecimento.
Profª
Ms Elaine Maria Tonini Bastianello
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Professora e ex-aluna do Estadual, Elaine é também
Membro do NPHTT, Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda
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Membro do NPHTT, Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda
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3 comentários:
Eu, quando guri, ouvi muito falar no tal Cemitério das Tunas, mas não tinha a menor ideia da sua localização e importância. Parabéns à Elaine!
Prof. Elaine, fiquei muito contente e emocionado com o escrito. Assinado: Lucas Azambuja de Souza (bisneto do Cel. Antônio Xavier de Azambuja).
Prof. Elaine,parabéns pelo belo tra balho. Conheço bem esse cemitério,meu avô Armando Xavier de Azambuja era filho de Antônio Xavier de Azambuja e por coincidência ele também está enterrado lá. Julieta Azambuja de Souza.
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