Foto LC Vaz |
O gelo de Macondo
(Para Ricardo Petrucci Souto)
(Para Ricardo Petrucci Souto)
Muchos años después, frente al pelotón de
fusilamiento,
el coronel Aureliano Buendia había de recordar aquella
tarde remota
em que su padre
lo llevó a conocer el hielo.
GG Marques,
Cien Años de Soledad
Com
essa frase, ao mesmo tempo instigante e reveladora de um possível final, Gabriel
García Marquez dá início a seu romance mais famoso e conhecido, Cem Anos de
Solidão. O livro inicia contando que um cigano, de nome Melquíades, sempre no mês de março, levava até
Macondo as novidades dos demais continentes para apresentá-las aos moradores do
local. Ele montava uma carpa e demonstrava, mediante um pagamento modesto,
coisas como os poderes de um ímã, uma lupa gigante, os segredos da alquimia e
outras tantas coisas improváveis de existir, como o gelo.
Sempre que releio essa passagem lembro das coisas raras e estranhas que vi na
Bagé dos anos cinquenta, como a aranha
gigante que possuía cabeça de mulher, um faquir que dormia em uma cama de pregos, de um homem que se deixou enterrar em um
caixão de vidro por dias... e outras tantas apresentações, dignas de Macondo, como o Ônibus
das Cobras e das cabeças de Lampião e Maria Bonita num assustador Museu de Cera...
Outro
dia, numa praia quase no fim do mundo (ou seria no início?), me deparei com o inédito e alto valor cobrado pelo gelo: vinte centavos a pedrinha! Pensei: será o gelo de Macondo?
O gelo misterioso e exótico apresentado como
mais uma oitava maravilha do mundo ao
menino Aureliano? Mas era muito calor para tomar um cowboy e, como um digno descendente de José Arcadio, paguei sessenta centavos e tomei meu Black Label
com três pedrinhas do gelo mais caro do mundo: o gelo de Macondo.
Keep
Walking, coronel Aureliano!
.
8 comentários:
Tchê Vaz, do museu de cera e das cenas de Lampião e Maria bonita eu vi e me lembro, mas das outras coisas esquisitas vistas por ti em Bagé, não. Um baita abraço índio velho,
O que é isso Vaz? Te passaste no Carnaval ou Bagé era outra Macondo? Acho que o tal gelo estava batizado.
Abraços do Rio, desse Carnaval que não termina, como os Buendia.
Helena
Pois é, Gerson, e tem mais, é só falar com os "mais antigos". Só não sei se tinha mascate de carroça vendendo elixir da saúde.
Foi, Helena, durante muito tempo, uma certa Macondo, depois virou uma cidade pequena como outra qualquer, sem muita magia e sem nada de mistérios.
E aqui, o carnaval nem começou... coisas inexplicáveis.
Se fosse em Pelotas,vá lá,afinal a Caixa D'água veio da Escócia.Sobre esses ônibus com curiosidades,sempre me intrigou onde conseguiam tantos terneiros de duas cabeças... Ainda ví alguns vendedores de poções fazerem chamariz com lagartos "rabões".Mas já faz tempo,isso era na época em que a gente ia na Praça dos Macacos levar comida para os "mão-pelada".Um abraço. Henrique Pires
Boa lembrança, Henrique, a da famosa Cobra Catarina que sairia de uma mala e iria "lutar" com o tal Lagarto... antes do embate - que nunca se efetivava - era vendida a milagrosa Pomada, feita com a "gordura do papo do jacaré amarelo", que curava todos os males... o cigano Melquíades fez muitos discípulos...
Lembro-me do faquir, que estava exposto em uma barraca de lona, na praça Rio Branco (de desportos). Como o preço do ingresso era inacessível para mim, não consegui vê-lo.
Pois é, Olmiro, sempre me pergunto por onde andarão essas "atrações" hoje, será que desapareceram?
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