30 de abril de 2013

Venturino viaja de trem

Acervo Anabela Medeiros Pires

Venturino viaja de trem
Paulo Mendes

Ali pelas quatro da tarde, após ter ouvido muitos causos contados pelo próprio Venturino, apareceu um gurizote vestindo uma camiseta do Milan e falou: “Conte aquela da viagem de trem”. Venturino coçou o bigodão, perguntou se havia tempo e lascou: “Essa história é um pouco longa, mas nunca recuso um pedido, já que existe solicitação, não vou me fazer de rogado”. Deu uma pequena tossida e começou.

— Isso faz tempo, quando se podia pegar o trem aqui na Vila Rica no início da noite e amanhecer na Capital. Era um “devertimento”. Fomos eu e o finado Fastanha, ele bem vaqueano, eu, grosso, com poucos conhecimentos de cidade grande. Fomos lá ver os papéis da minha aposentadoria. Bueno, a Odete botou uma muda de roupa na minha malinha de garupa, peguei os avios do mate e me encontrei com o amigo na estação. Dali a pouco, o trem chegou apitando e soltando fumaça pelas ventas. Nos acomodamos num banco e largamos. Os problemas começaram quando vi um parafuso tentando furar minha bombacha branca, de favos. Dei de mão na prateada e tirei o ferro do banco. O Fastanha me alertou, tchê tu tá louco, não pode andar armado na cidade. Respondi na hora, mas isso não é arma, é apenas uma faca que uso pra picar fumo, descascar laranja, será que essa gente da cidade não usa faca?

Nisso, o gurizote começou a rir e eu o acompanhei. Seu Venturino riu das nossas risadas. E prosseguiu:

— Depois da baldeação em Santa Maria, cevei um mate, enchi a térmica no restaurante e fui oferecendo aos vizinhos. Numa curva bem fechada da estrada de ferro, até comentei com o Fastanha, se tiver uma curvita dessas bem bagual eu consigo alcançar uma cuia pro maquinista... Aí sim foi que o pessoal achou engraçado. Até uma gordinha que levava uma criança pra se consultar, pois tinha estourado uma “ursa” que nunca mais sarou. Esse piá, coitado, andava chorão e só se acalmou quando o botei no colo e cantarolei uma quadrinha do Zé da Gaita. “Dorme, dorme, gurizinho, que o bicho vem te pegá, mas se durmi ligerinho, ele nunca mais vai vortá...” E não é que o guri dormiu mesmo, agarrou no sono e só se acordou com o dia clareando.

— E aí seu Venturino, chegaram bem à Capital?

— Era pra chegar. Porém, ao me levantar, descobri que o piazinho que eu nanei, estava de diarreia, sujou toda a minha bombacha...
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Paulo Mendes publica a coluna Campereada, aos domingos, no jornal Correio do Povo
pmendes@correiodopovo.com.br
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Um comentário:

Gerson disse...

Mas que barbaridade!!!! Foi fazer uma boa ação e saiu cagado. Um baita abraço xirú véio.