J.J. Oliveira
Gonçalves
Aziagos são os
dias. Vazias as noites. A Vida: incerta. Ressequido paiol o mundo. (Prestes a
pegar fogo!) E o homem: um bumerangue de violência. (Matando em nome da Vida.
Em nome da Paz. Em nome da Liberdade. Mesmo em nome de Deus...) Os caminhos
despiram-se de toda e qualquer perspectiva de Solidariedade. As pontes, (que
nasceram para unir!), ruíram nos melancólicos desvãos da inconsciência.
A flor fechou os
dedos de seda de suas pétalas delicadas sobre si mesma... E, silenciosamente,
exalou seu último e inebriante aroma – em nostálgico e fragrante suicídio... A
ave recolheu seu derradeiro vôo para além do Infinito... (Onde algemas de
silêncio se rompem com o derradeiro grito!) O céu abrigou-se em chumbado
poncho: cobriu o majestoso índigo e escondeu o piscar intermitente das
Estrelas. Franziu o cenho. Então, turvou-se-lhe a visão. E milhões de
pequeninos olhos choraram a Mãe-Natureza em agonia... E eu – eu
compulsoriamente empurrado para o torvelinho do mundo deste homem-nada, (da
impotência humana!) – arrasto o Coração ferido e a Alma em chamas!
Todavia,
impõe-se queimar no fogo das Lembranças... É preciso arder na pureza
incandescente das Paixões. É preciso luzir na Chama Azul do Amor-Sem-Fim! É
preciso ser a própria chama que me acende. E me consome. (É preciso, sim, achar
o rumo que a escuridão humana desfez em mim!) É preciso ser a Fênix que arde,
arde, morre, vira Cinzas... e não tem fim!
Olho as coisas
ao redor: pedaços de outras matérias que incorporei ao transitório da Carne e
ao perene do Espírito. (Calcinados rescaldos a reacenderem-me histórias
guardadas nos Escaninhos da Memória!) Mas, continuo a Caminhada. E a Alma é
alva Gaivota em loops candentes nas Fronteiras da Liberdade! (Ah,
Liberdade, irmã-gêmea dos meus ardentes sonhos e Redenção definitiva...)
Perscruto, na parede que me olha com olhos estáticos e acinzentados, minha
combalida e etérea sombra. Inseparável confidente, ela me responde em igual e
uníssona linguagem – visceralmente silente e dolorida... (Ah, meu Deus, quanto
a Existência é dolorida!)
Enquanto isso,
(lá fora!), os homens gritam – no prazer do Ódio – suas misérias: alucinações
fratricidas! Maquinações ambiciosas! Tristes disputas de poder. (Semideuses já
mortos – obcecados Senhores das Trevas corroídos pelo próprio ácido
corrosivo... Letal veneno!) Suas armas falam o estúpido matraquear da Morte! O
aniquilamento feroz da Vida! Suas bocas, (doidas babéis!), liberam Ódio e
Extermínio. (Palavras de ordem dos ensandecidos Generais da Extinção!) Fazem a
horrenda e desfigurada guerra! Que pena: mutilam a Musa... sangram a Poesia...
desfiguram o Poema!
Guerreiros da
Escuridão despidos de Razão! Almas mortas! Metáforas de Destruição! Assassinam
o Amor – Útero da Vida! O Amor que Ele, da solidão da Cruz, regou com Sangue.
Tatuou na Carne. Eternizou em Luz! No Genocídio Universal da Terra,
escureceu-se o Sol! Apagou-se a Lua! Desfigurou-se o Homem! Guilhotinou-se o
Dia!
Na Praça Pública
do Mundo, Fétido Odor percorreu o Ar... Então, o piche – espesso e lúgubre! –
da Noite caiu sobre o Planeta... E amortalhou a Vida! Irreversivelmente!!!
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(*) Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso, em 1937, por ocasião da Exposição Internacional de Paris, tendo sido exposta no pavilhão da Espanha. Medindo 350 por 782 cm, a tela pintada a óleo representa o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica, em 26 de abril de 1937, pela aviação nazista, em apoio ao ditador Francisco Franco. Atualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madri.
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(*) Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso, em 1937, por ocasião da Exposição Internacional de Paris, tendo sido exposta no pavilhão da Espanha. Medindo 350 por 782 cm, a tela pintada a óleo representa o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica, em 26 de abril de 1937, pela aviação nazista, em apoio ao ditador Francisco Franco. Atualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madri.
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2 comentários:
Caro Vaz...
Gracias, mais uma vez, pela divulgação de meu trabalho poético, através desta postagem em nosso "Velha Guarda do Estadual de Bagé"!
Feliz e honrado por vê-lo encimado pelo famosíssimo e contundente "Guernica" - óleo sobre tela do gênio universal Picasso!
Essa prosa poética ou poema em prosa já tem quase 15 anos. De lá, para cá, me pergunto: o quanto melhorou o bicho-homem? Em matéria de tecnologia, por exemplo, eu diria: 1000%. Em matéria de "ser humano", eu digo: nada! Claro que há as exceções. Todavia, no "cômputo geral", como costumo dizer, as exceções são tão mínimas, tão mínimas, que se esvaem... diluem... ante a avalanche de prepotência, arrogância e poder pernicioso que caracterizam nossos chumbados tempos! Haja vista a notória e diuturna destruição do nosso encantado e generoso Planeta-Azul. As guerras? As guerras são ódios dementes e cotidianos que não têm mais fim - lamentavelmente!!
Espiritualmente, amigo Vaz, o bicho-homem INVOLUIU!!
Com franciscano abraço!
JJ!
Vez que outra, JJ, alguns atos humanos dignificam a espécie. No entando, algumas atitudes do tal homo sapiens, são de deixar a humanidade atônita... Mas... fora da Poesia não há salvação, meu amigo. Um abraço!
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