11 de setembro de 2013

Pelos Campos de Bagé...

Foto LC Vaz

Pelos Campos de Bagé...
J.J. Oliveira Gonçalves

Há pouquinho, fui à cozinha tomar um café preto. Embora não me deva "amasiar" demasiadamente com o pretinho.  Gostoso ele é. Mas, nem minha úlcera nem minha gastrite gostam dele. E nos fazem cara feia enquanto o sorvo - saborosamente. Mas, sorvendo-o - e olhando o semblante da tarde, pela porta - nos olhos claros da tarde, vi, de repente, os olhos de tardes como esta em que eu era um guri, um adolescente, um jovem naquele cenário, (tão querido e tão saudoso!), de Bagé. Bagé - terra em que nasci e não esqueço, (nunca esqueci!), pois que a trago, amorosamente, guardada nos escaninhos empoeirados e cheios de histórias, dentro do peito...

Senti uma Nostalgia imensa! Uma Saudade "sentimental demais" que não sei descrever. Uma vontade quase incontida de, - se eu tivesse asas -, voar e ir pousar na árvore mais alta da cidade. Quem sabe, lá pras bandas do "Cerro de Ibajé". Ah, carradas de razão, (e sensibilidade!), nos deixou o Mestre Lupicínio quando escreveu e musicou aquele poema que, em meu sentir, traz uma verdade universal quando afirma, nestes versos: "E o pensamento parece uma coisa à toa/ mas como é que a gente voa/ quando começa a pensar."

Na diária e inocente companhia de minha bicharada, (cães e gatos), ouvi a algazarra eloquente e otimista dos pardais. E o cicio delicado e misterioso das carochinhas. Um (ou uma?) sabiá deu um choramingo sentido e longo... Creio que nesse choramingo desnudou a Alma... Abriu o cofre do coração...

Todos me encantam. E a todos agradeço. E sei que o choramingo do(a) sabiá foi exatamente o choramingo de minha Saudade, de meus recuerdos - rolando dentro de mim! Saudade de meus Pedaços. De minhas coisas. De um cenário onde fui o que não sou mais... Saudade do meu "XV"... Do meu "Estadual"... Mesmo do tradicional "Colégio das Freiras", ("Espírito Santo"), aonde eu ia - cheio de Sonhos e de Ilusões - esperar uns graúdos e amorosos olhos castanhos e um sorriso feito de Ternura e de Infinito... Ter sua cabeça em meu ombro e, nas mãos, "Cantiga do Só" - do apaixonado J. G. de Araújo Jorge...

Bagé - do Verão em que nasci. Do Outono que me moldou a Alma - com tons de Ouro e acordes de Cello. Do Inverno que me revigora o Corpo e a Alma. Da Primavera que há me me fazer, (sempre!) adolescente.

Ah, que vontade de correr pelos campos de Bagé... Ter a camisa aberta ao peito - como cantou Casemiro. Ser de novo o que, lá, fui - embora absolutamente impossível! Acarinhar as flores do jardim da avó materna. Ganhar e dar tantos, tantos beijos... tantos, tantos abraços... Ah, correr pelos campos esmeraldinos de minha terra, e, lá, deixar minh'Alma avizinhar-se ao Infinito... O Infinito onde a Vésper veste a tarde. E a D'Alva dependura-se na Alvorada...
______________________________________________
Porto Alegre, 09 de setembro/2013. 16h44min
.

3 comentários:

Gerson disse...

Tchêêê JJ, tu consegues com palavras simples que se enfileram no teu teclado para, uma uma, ir sendo digitada e contar uma bela estória, que na verdade todo bageense gostaria de escrever, mas que só tu JJ, tens o sentimento disposto em letras e palavras e assim consegues expor o que sentes, que é o que todos nós que temos os umbigos lá enterrados. Um baita abraço xirú velho.

Luiz Carlos Vaz disse...

O JJ é um verdadeiro Xiru dos Pampas bageenses, Gerson.

Anônimo disse...

Pois, Gerson...

Senti profunda Emoção ao ler teu comentário que sei que é sincero porque vem do coração!! Todo teu comentário, rapaz, é um "baita elogio" - como se diz lá naquela terra, onde, bageenses pra valer, temos os "umbigos enterrados" , como dizes com propriedade!! Reverenciar Bagé e nos orgulharmos daquela bucólica e saudosa Terra é uma Felicidade que gozamos - não é mesmo?? É por isso que a mantemos juntinho ao nosso Espírito, bem cá dentro do coração...
Obrigado, Vaz, pela divulgação dessa crônica que nasceu, assim, de repente... Ou num repente nostálgico - inspirado pela Natureza, pelos pássaros... que chamaram as Lembranças... Tua foto é uma Metáfora - nostálgica e silenciosa - a nos falar de Liberdade, Poesia, Infinito...
Aos dois guris do "Estadual" - cúmplices fiéis nesse Amor pela "Rainha da Fronteira", gracias pelo nobre título de "Xiru"!

Com meu abraço bageense e franciscano para ambos!
JJ!