7 de setembro de 2013

Strike up the band ! - 2013

Alec Guinness, como Coronel Nicholson,
comandava o "assovio" no filme A ponte do rio Kwai
Strike up the band ! - 2013 (*)
Hamilton Caio Vaz

Porque quando ameaça a revolta 
E o peito se aperta por fim,
 
Não há o que renove a coragem
 
Como o som marcial do clarim.
 

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Willian S. Gilbert (**) 
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As bandas tradicionais ou as bandas marciais encantam não só pelo seu visual, seus uniformes, seu garbo, sua coreografia, seus instrumentos, mas também pela sua música, a música de banda, as marchas tradicionais e as marchas militares que executam. Nos tempos modernos, elas começaram também a executar arranjos de músicas populares e clássicas, adaptadas por seus maestros (ou mestres). 

É interessante salientar, entre outras, a distinção principal entre uma banda e uma orquestra sinfônica. Essa grande diferença é a falta, na banda, do naipe (ou família) das cordas (violino, violoncelo, contrabaixo ...). É por uma questão de praticidade, pois ficaria difícil um deslocamento (ou marcha) com esses instrumentos. O som grave do contrabaixo é conseguido com as tubas e o agudo dos violinos, pelas flautas.

Um dos maiores compositores de banda de todos os tempos, para mim o maior, é o americano de origem portuguesa, John Philip Sousa (1854 - 1932). Olha aí nosso sangue lusitano na origem das músicas de bandas! É dele a marcha "Stars and Stripes Forever", é a sua obra-prima, não há quem não se lembre da melodia quando ouve, pelo menos do cinema. Era muito tocada por bandas marciais devido ao seu estilo floreado, que se prestava para coreografias nas apresentações. São também dele as marchas "El Capitán", "Semper Fidelis", "Washington Post March", e "King Cotton", todas igualmente bem lembradas quando ouvidas e sempre fazendo parte dos repertórios de todas as bandas que temos ouvido, em todos os tempos. 

Uma marcha que ficou muito conhecida através do cinema, foi a que apareceu no premiado filme "A Ponte do Rio Kwai", de 1957, que era assoviada pela tropas, a "Coronel Bogey". A música não foi escrita especialmente para o filme, como pode parecer, é uma canção tradicional que as tropas inglesas, estacionadas na Índia, cantavam e que foi revivida durante a 2a guerra mundial. Portanto, ela é história real na "Ponte do Rio Kwai". Na época do lançamento do filme em Bagé, no final dos anos 50, os guris do Estadual também assoviavam essa marcha pelos corredores do colégio e nos intervalos de aula, e o filme, como era natural, foi motivo de muitas conversas entre nós. Esta película foi vencedora de sete Oscars, incluindo o de melhor filme, dirigida pelo inglês David Lean, que também conduziu "Laurence da Arábia" (1962), "Doutor Jivago" (1965), "A Filha de Ryan" (1970) e "Passagem para a Ïndia" (1984), este, o último filme do diretor. 

O cinema foi pródigo em divulgar música de banda. Outros exemplos foram o tema do filme "O Mais Longo dos Dias" (1962), do mesmo nível, com grande marcialidade e que ficou muito popular, e a trilha do filme "Fugindo do Inferno" (The Great Escape - 1963), com uma melodia muito marcante e que ficou muito conhecida. Embora essa música tenha sido apresentada por orquestra sinfônica (incluindo as cordas!), o grande maestro Elmer Bernstein nos pareceu, de propósito, querendo imitar uma banda. A composição tem um trecho em que o som grave, que seria apresentado pelos contrabaixos, é executado virtuosamente pelas tubas, como se fosse uma banda. E o som das cordas (violinos) é bastante dissimulado pelo som igualmente agudo das flautas. O resultado sonoro nos parece de uma grande e garbosa banda marcial, apropriada para o tema de guerra do filme. Mas, para mim, a melhor marcha do mundo, a mais empolgante, a mais marcial, aquela que levanta o ânimo de qualquer indiferente, é a "Lufwaffe Marsch" ou "Luffwaffe March", em inglês, (Marcha da Força Aérea Alemã), que apareceu na trilha sonora do filme "A Batalha da Inglaterra", (Battle of Britain - UK), de 1969, com a história dessa batalha aérea na Segunda Guerra Mundial. 

E eu me surpreendi há pouco tempo quando descobri que George Gershwin (1878 - 1937), o grande compositor americano de música clássica (Rhapsody in Blue, Um Americano em Paris, Concerto em Fá) e também com extensa obra jazzística, que ouço há muitas décadas, tinha uma composição para banda, uma marcha, a "Strike Up the Band ". Mas a grande surpresa foi quando o Vaz me presenteou com um CD com composições de Gershwin, contendo uma amostra excepcional do autor: as três maiores obras clássicas, três músicas de jazz e essa música de banda que eu desconhecia. E o detalhe incrível: eu conhecia essa música tocada por banda desde guri, por volta de 1950, sem saber o nome dela, quando meu pai ouvia os famosos "jornais falados" da Rádio Tupy de São Paulo, de manhã cedo. Essa marcha era a característica musical do jornal (todas as características dos programas de noticiário da época eram marchas, novamente uma influência do pós-guerra). Desde então, fiquei com essa melodia na cabeça, e, incrivelmente, nunca mais a ouvi, em nenhum lugar. Mas aí, não sei por que força misteriosa, ela me cai às mãos pelo CD do Vaz. Agora, quando a ouço, me transporto para o meu quarto de criança na casa da Hulha Negra, ouvindo de manhã cedo, ainda na cama, o som do rádio Zenith, alimentado por bateria carregada com o aerodínamo Wincharger. O som vinha da sala. Entre os intervalos de anúncios das Casas Pernambucanas, Astringosol, Phimatosam, Biotônico Fontoura, Sadol, Creolina Pearson, Fenotiasina..., eu também ouvia as últimas notícias pelo Jornal Falado da Tupy ou do Repórter Esso, que vinha logo após. Meu pai acompanhava essa programação diariamente...

Completando este resumo das grandes marchas para banda, lembramos que um dos hinos nacionais mais bonitos do mundo, o da França, é uma marcha que ficou famosa, "La Marseillaise". Ele Inflama o orgulho na nação francesa sempre que é tocado nos grandes acontecimentos, como o 14 de julho. 

Sobre as marchas para bandas, encontrei no meu arquivo um texto dos anos 60, escrito por Richard Kleiner, musicólogo, e que escrevia uma coluna sobre discografia para a Newspaper Enterprise Association (Nova Yorque).
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"Em sua forma rítmica, a marcha é a música mais simples possível, pois seu compasso se adapta ao andar do homem -- um-dois, um-dois -- e o tempo é o da batida do coração. Talvez seja por sua primitiva simplicidade que a marcha empolga de um modo primitivo. As crianças reagem mais rapidamente à marcha do que a qualquer outra forma musical. Não exige raciocínio intelectual, nem interpretação, nada mais que uma reação emocional ou física. As marchas têm levado os homens à guerra através dos séculos. A dança de guerra dos índios é uma forma de marcha. O mesmo se dá com o tantã dos guerreiros africanos. É possível que os nossos primitivos e belicosos antepassados exaltassem o seu ânimo para combater com o auxílio de um simples bater marcial em um tambor. As marchas também servem a fins ideológicos. "A Marselhesa", por exemplo, veio a simbolizar o espírito democrático da França."
Agora perguntamos aos colegas: Será que lendo este texto não dá uma imensa vontade de ir até a praça para ver se tem alguma banda tocando para nos encher de alegria e entusiasmo ? Ou quem sabe acompanhar uma banda marcial em seu deslocamento e sair também marchando ? Vamos, pois, Vaz, fazer as bandas voltarem aos bons tempos! Como diz no título da marcha de Gershwin:
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Strike up the band ! 
Que a banda comece a tocar!"
 
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(*) Enviado pelo colega Hamilton Caio e publicado aqui em 8 de junho de 2010.

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(**) William S. Gilbert (1836 - 1911), compositor inglês, escreveu em colaboração com Arthur Sullivan, entre outras obras, as óperas cômicas (ou óperas bufas) "H. M. S. Pinafore" e "The Pirates of Penzance". 
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Nota: Para ouvir as "marchas", é só clicar nos nomes que estão
 linkados para vídeos no Youtube. 
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