Numa época já com muitas filmadoras e máquinas fotográficas amadoras
os tiros que mataram o presidente Kennedy foram registrados
em centenas de fotos, como nesta, obtida no Google
|
Dallas, Texas, urgente!
Hamilton Caio Vaz
"Naquela
tarde de 22 de novembro de 1963, eu estava em casa estudando para as provas
finais do 2º ano Científico do Colégio Estadual. O quartel já havia me
convocado para o serviço militar obrigatório, mas eu tinha conseguido dispensa
de uns dias para estudar. Como já era comum naquela época, o rádio ligado
ao lado dava ritmo aos estudos. Com a "era do rock" no auge, eu
procurara no "dial" do aparelho um fundo musical mais suave para
acompanhar minha revisão para as provas, e então escutava a antiga rádio
Guaíba, onde tocava música mais apropriada para essa tarefa. Era uma
miscelânea de Ray Conniff, Lawrence Welk, Sarita Montiel, The Platters...,
temperada com o chamado rock balada de Paul Anka, Pat Boone..., muitas trilhas
de cinema e algumas músicas brasileiras.
De repente, a
música foi interrompida e entrou o "Correspondente Renner" em
edição extraordinária, um noticiário bem conhecido da Guaíba, bradando:
"Dallas, Texas, urgente !", falando sobre um atentado contra o
presidente americano John Kennedy, durante um desfile em carro aberto naquela
cidade. E seguiram várias outras chamadas urgentes, cada vez noticiando
um quadro mais grave, até a notícia da morte do presidente, pouco tempo
depois. Naturalmente, esse dia de estudos terminou ali mesmo. Toda a
minha família começou a acompanhar esse noticiário. Foram momentos
dramáticos, nunca mais esqueci. Sempre ligado em datas e fatos, tenho
relembrado anualmente também essa efeméride.
John Kennedy
sucedera outro grande presidente, forjado na 2ª Guerra Mundial, o General
Dwight Eisenhower, vindo de dois mandatos seguidos, que continuara enfrentando
os duelos da guerra fria que começara logo após o fim da grande guerra, e que
conseguira o final da guerra da Coreia em 1953, primeiro ano do seu
governo. Esse nome é o primeiro que lembro de ver nas manchetes dos
jornais que meu pai assinava, e que eu lia literalmente em português,
"eisenhover". Eisenhower foi o General comandante supremo dos
aliados, com a 2ª guerra já tomando um rumo final. Kennedy também tinha
participado dessa guerra, mas como um jovem Tenente da marinha, era uma nova geração
que chegava, cheia de esperanças.
Nós, os jovens
daquela época, queríamos um mundo novo, e o Kennedy parecia que representava,
como líder da grande nação americana e do chamado mundo livre, um farol que
indicava uma nova era de progresso. O assassinato dele nesse dia, significava
para nós o fim dessa ânsia por mudanças.
Também lembro
que Juscelino Kubitschek e John Kennedy tiveram doze dias de mandatos
coincidentes. Kennedy assumiu o cargo, conforme a tradição americana, em
20 de janeiro, e Juscelino transmitiu o cargo para Jânio Quadros em 31 de
janeiro de 1961, de acordo com a legislação daquela época. Portanto, quando os
anos JK encerraram aqui, Kennedy estava há doze dias no poder.
A partir daquela
tragédia, o mundo realmente começou a mudar, mas não da maneira como esperávamos
com o novo presidente americano. A Guerra Fria já tinha passado por um
grande embate no primeiro ano Kennedy, quando em 1961 começou a construção do
muro de Berlim, isolando o lado ocidental da cidade, do lado oriental
controlado pelos soviéticos, para impedir a fuga de alemães orientais para
Berlim Ocidental. No ano seguinte estivemos à beira de um conflito
nuclear, com a crise dos mísseis em Cuba. Durante os treze dias que
duraram o impasse, de 16 a 28 de outubro, esse era o assunto dominante em
nossas aulas no Estadual, com a possibilidade de uma guerra atômica total
estourar a qualquer momento.
Ao findar o ano seguinte, a esperança
Kennedy sai de cena. O vice Lyndon Johnson, que assumiu no seu
lugar, alargou o horizonte da guerra do Vietnã, que já vinha de alguns anos com
alguns confrontos, com o envio de grandes efetivos militares para a área
conflagrada, a partir de 1965. Essa guerra marcou os anos 60 e 70.
Naquela época, parecia para nós estudantes que a morte de Kennedy foi fator determinante
para a grande extensão e duração desse conflito. Com ele no governo,
achávamos que a guerra não teria seguido esses rumos.
O final desses
tumultuados anos 60 foi pelo menos amenizado, na nossa visão de estudante, com
a corrida espacial entre os dois grandes, Estados Unidos e União Soviética,
tendo como coroamento a descida do homem na Lua, em julho de 1969, e também
porque essa meta da chegada de astronautas ao nosso satélite natural tinha sido
planejada e prevista pelo governo Kennedy para o final daquela década. E,
claro, teve também, exatamente no mês seguinte ao da descida do homem na Lua,
Woodstock...
Bem, os homens
que mandam, mudam; as ideias mudam. Cabo Canaveral, na Flórida, onde estava
situado o Centro Espacial, de onde partiam os grandes lançamentos de satélites
e naves espaciais, mudou desse nome para Cabo Kennedy, assim como o local
passou a se chamar Centro Espacial Kennedy, em homenagem ao
ex-presidente. Dez anos depois, voltou a ser novamente denominado de Cabo
Canaveral, e a homenagem foi virtualmente para o espaço, embora o Centro
Espacial continue com o nome Kennedy.
Assim como nos
dias de hoje, os grandes acontecimentos de repercussão nacional e mundial
daqueles anos, que não foram poucos, ajudaram a moldar a nossa têmpera e nosso
caráter, para tomarmos o lugar de nossos pais nas décadas posteriores e
seguirmos o ciclo da vida. Hoje estamos investidos dessa responsabilidade
de ajudar a mostrar o caminho para nossos filhos, e até para os netos, sempre
procurando aperfeiçoar esse mundo, e sobretudo na procura da abolição da
violência e na eterna busca da paz mundial."
____________________________________________
Publicado originalmente em 22 de nobembro de 2010, aqui no Blog da VG
O Blog pergunta:
Onde você
estava quando soube do atentado ao presidente Kennedy ?
Responda em "Comentários"
.
10 comentários:
Caro Vaz, eu tinha 13 anos, ouvia "Please, please me" dos Beatles em minha vitrola portátil Phillips. Sonhava com o disco "with the Beatles", lançado em 22 de novembro na véspera daquele assassinato, que só chegaria aqui em 64 sob a alcunha de "Beatlemania".
A tragédia, para mim, não passou de comentários adultos soturnos e desinteressantes, o tal de Kennedy não era um Beatle(ou quase).
O moedor de carne da realidade, ligado em 220 desilusões por minuto, ainda não existia.
O sonho recém começara, apesar de tudo.
Com 4 anos recém completados, eu tenho uma vaga ideia que estava com a minha mãe na sala da minha casa (Rua Flores da Cunha,376 - Bagé, RS) de tardezinha - lusco-fusco, porque as luzes ainda nem estavam acesas - quando o meu pai chegou com a notícia.
Sempre relembro com minha mãe efemérides históricas e familiares. E como esta não poderia faltar, liguei para ela para recordar aquela tarde de novembro de 1963. Perguntei se ela já tinha feito o pão. Ela estranhou a pergunta, mas logo a relembrei que, há meio século, um certo filho mais moço tido saído para comprar fermento na venda do seu Wayne Ela riu. D. Loiracy disse que não lembra se chegou a fazer o pão, mas recorda que aquele guri saiu meio contrariado para fazer a compra, pois estava ocupado com alguma coisa interessante. No mínimo, aquele pão cinquentenário deve ter abatumado.
Por coincidência, nesse 22 de novembro, era dia marcado para visitar o barbeiro. Como sei que o “Seu Pavão” (José Antônio Rangel Saraiva), que tem o Salão Carioca, bem conhecido em Bagé, já tinha começado nesse ofício naquela época, fui logo perguntando como ele soube do assassinato do presidente americano, pois, como hoje, ele trabalhava em uma tarde de sexta-feira, e ainda num dia muito procurado pela clientela. Ele me respondeu que não tinha rádio no salão (televisão ainda não existia por aqui) e que os clientes e amigos que começaram a chegar ao final da tarde (o fato ocorreu às 15:30 horas, pelo horário brasileiro) já chegavam contando a trágica notícia.
Eu tinha ido na venda do seu Wayne buscar Fermento Fleischmann para minha mãe fazer o pão do dia. Fiz uma "parada técnica" no sobrado do seu Robaina para conversar com o Jorginho. Quando o rádio deu a primeira edição extraordinária falando nos tiros. Corri logo para casa e todos já estavam falando só nisso e aguardando mais notícias, que vieram logo a seguir, informando que o Kennedy havia morrido em consequência desses tiros.
(Comentário publicado na postagem de 2010)
Minha mãe conta que naquele momento, ao saber da noticia, o leite dela secou. Eu tinha exatos um mês de vida, depois disso, nunca mais mamei.
Marcelo Soares, o Camafunga
(Comentáriuo publicado na postagem de 2010)
Em 1963, eu estava em S.Paulo. Fiquei um ano na casa da tia Malvina(gaúcha de Bagé), que morava na Av. Paulista. Nesse dia saindo da escola, estava andando pela R. Domingos de Morais - Vila Mariana, para pegar o ônibus, ví as pessoas em pânico, algo muito estranho tinha acontecido, mulheres chorando. Resolvi perguntar.
-Mataram o presidente dos Estados Unidos.
Aos 15 anos não ligava para a política, mas sabia bastante a respeito do Presidente Kennedy pelo jornal que meu tio Pantoja (paraense de Belém), recebia todos os dias e pelas notícias da televisão. Fiquei chocado.
Manoel Ianzer
Naquela tarde de 22 de novembro de 1963 eu estava na aula de solfejo do curso de canto, no IMBA (Instituto Municipal de Belas Artes), em Bagé. Enquanto a colega Vera Catarina da Costa Nunes estava cantando, acompanhada ao piano pela professora Dora Donazar, e com a observação da professora de canto Alene Dupont Teixeira, eu e outra colega, a Eny (não lembro o sobrenome, ela é parente da Elvira Macedo), esperávamos a nossa vez no solfejo. De repente, a Eny, que tinha saído uns instantes do local, voltou dizendo que não precisávamos mais esperar, as aulas seriam suspensas, “mataram o Kennedy”, disse ela. Seguiu-se um alvoroço e, efetivamente, as aulas foram suspensas naquela meia tarde.
Sempre relembro com minha mãe efemérides históricas e familiares. E como esta não poderia faltar, liguei pra ela recordando aquela tarde de novembro de 1963. Perguntei se ela já tinha feito o pão. Ela estranhou a pergunta, mas logo a relembrei que, há meio século, um certo filho mais moço tido saído para comprar fermento na venda do seu Wayne. Ela riu. D. Loiracy disse que não lembra se chegou a fazer o pão, mas recorda que aquele guri saiu meio contrariado para fazer a compra, pois devia estar ocupado com alguma leitura interessante.
No mínimo, aquele pão
cinquentenário deve ter abatumado.
Fazendo uma correção na especialidade das professoras do IMBA (meu secretário trocou na hora de digitar o comentário). A professora de canto é a Dora Donazar e a professora de piano é a Alene Dupont Teixeira.
Postar um comentário