O César tomou água
de cu lavado (*)
Luiz Carlos Vaz
Quando eu era
guri, lá na Hulha Negra, lembro que nas tardes de domingo se faziam - ou se
recebiam visitas. Visitas de família completa. Pai, mãe, filhos e agregados. Estes,
representados por uma tia, um idoso, um
primo, ou uma pessoa que se unira à família há muito tempo. Eram visitas que
chegavam sem avisar lá pelas três da tarde, eram recebidas “na sala”, e a elas
se ofereceria, às quatro horas, um bom e
tradicional café da tarde. Café passado na hora, com pão novo, feito em casa,
manteiga e doces também caseiros, já que ninguém cometeria a grosseria de
oferecer acompanhamentos feitos por outras mãos ou industrializados.
As conversas
seguiam sempre um roteiro de etiqueta informal: a saúde de todos, as mortes
recentes, os nascimentos, os noivados ou casamentos. Depois negócios – acompanhados
de assuntos de seca, chuva ou enchentes.
Naquela época havia data certa para as enchentes. A de Santa Rosa, infalível, era
uma das mais temidas.
Se falava muito pouco
em futebol, de religião (pois todos eram da mesma religião) e quase nada de
política atual, já que as realizações do “falecido doutor Getúlio” ocupavam
todo o tempo dessa pauta. No entanto, depois da cerimônia do café, quando as
crianças eram finalmente dispensadas para brincar na rua, as mulheres iam
retirar a mesa, e os homens conversar no pátio, geralmente admirando a “criação”,
os assuntos eram outros e mais específicos aos gêneros. Lembro muitas vezes que
as mulheres, comentando deslizes deste ou daquele homem da vizinhança, dizerem
que fulano só pode ter tomado água de cu
lavado.
Levei um tempo
para entender o significado dessa expressão forte e, até hoje, não sei a sua
origem. Mas, se não fosse a atual novela das nove (que já foi chamada de “novela das
oito”), Amor à vida, eu não teria
como explicar, para quem não conhece, essa expressão que eu ouvi muitas vezes
nas conversas das mulheres, aos cochichos, nas antigas visitas de domingo.
O fato é que,
quando um homem se deixa ludibriar por uma mulher, normalmente bem mais jovem
e, para espanto de todos, passa a crer somente no que ela diz e faz, como um
cego, como na história dessa novela, lá na Hulha certamente se dirá: O César tomou água de cu lavado...
Só pode.
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(*) ou do cu lavado...
(*) ou do cu lavado...
5 comentários:
Vaz, nunca tinha ouvido falar dessa água, o "Velha" é cultura.
Sensacional! a "água de cu lavado", explicita bem a ideia de fraude.
Saúde e sorte em 2014.
Abraço
Vazamigo
Um Bom Natal tropical, com o Pai Natal em fio dental e barba branca (só) e o Menino no Colégio de Bagé...
Muitas felicidades para os Vazes e em especial para o papá Luiz um Abração, sem esquecer a Maribel
Em Portugal, Âmgelo, se fala também em "Água das malvas", a sobra do cozimento da nossa velha conhecida planta antibiótica, que teria sido usada para curar alguma infecção nas partes mais íntimas de alguma moçoila: Tomou? caiu no feitiço dela.
Um abraço,
Vaz.
Ô, alfacinha Ferreiramigo!
De Água de malvas deves entender, é coisa que veio dai da terrinha!!
Bom Natal Gelado, aos teus e, em especial, a "noiva" goense Raquel...
Vaz & Maribel
Uma das explicações da expressão de origem lusitana pode ser encontrada no livro
"A vida misteriosa das palavras – origem e explicação de modismos, dizeres comuns e frases feitas", de autoria de Gomes Monteiro e Costa Leão
http://urdiduradepalavras.blogspot.com.br/2012/12/agua-de-cu-lavado.html
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