Foto: Lemyr Martins |
1970 e 2014 – Dois shows prá nunca
mais esquecer
Ivan Duarte (*)
Nasci no campo, em 1961, em Bagé,
hoje Candiota. "Tarado" por futebol.
Eu dormia com a bola embaixo da cama.
Acordava, e a primeira coisa que fazia era começar a chutá-la. Na verdade, ia acordando
enquanto chutava a bola. Após um rápido café, o máximo de tempo possível, eu
queria era ficar no campinho. Nem que fosse sozinho, driblando adversários
imaginários. Fazendo gols incríveis... enquanto imitava os narradores que
escutava no rádio... "Lá vai Ivan...
driblou um... driblou dois..."
Se chegasse um amigo, ou vinte, só ia
mudar a forma de jogar. Se só um ou dois, ocupariam o lugar dos imaginários. Se
três ou quatro, começava-se uma disputa de dribles ou "gol a gol".
Com seis, mais ou menos, já dava pra jogar o "fogueirão", com um
goleiro contra dois times, em meio campo. Oito ou dez em diante, e estavam
formados dois times, com jogos que só paravam quando a mãe chamava para almoçar
ou jantar.
E o rádio era o único meio de saber
como era o futebol "de verdade".
Éramos seis irmãos, e só havia UM
rádio no qual meu pai escutava "o noticioso" da Guaíba, o Correspondente
Renner, todos os dias, às oito horas da noite. "Aqui fala o correspondente
Renner, com as últimas notícias da United Press, France Press e UPI... E
atenção! Saigon! O Presidente Richard Nixon acaba de declarar que voltará a
atacar os vietcongs..."
E minha mãe não perdia "os
avisos", da Rádio Difusora de Bagé, onde os moradores "de fora"
mandavam recados da cidade para o campo... "Atenção Senhora Zaida. Segunda
zona de Pinheiro Machado, seu filho Ivan saiu do hospital. Passa bem. Seguirá
amanhã para Candiota no ônibus da uma e meia".
Foi pelo rádio que escutei o Brasil
ser Tri Campeão no México, em 70.
Aquilo me marcou tanto, que decorei o
4-3-3 brasileiro: Félix, Vem Pra Cá-rlos
Alberto, Brito, Piaza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Jairzinho, Pelé e
Rivelino. Sei todos os adversários e de quanto ganhamos.
Nenhuma Copa teve o mesmo sabor pra
mim. Nada foi mais incrível do que aqueles passes, dribles e chutes que o Pelé
fez. As copas seguintes eu assisti sem apressar o passo para assistir a um jogo
sequer...
Abro pequenas ressalvas ao gol do
Maradona, que driblou a Inglaterra inteira, ao Brasil do Telê em 82, à Holanda
do Cruiff e ao Zidane.
Mas... quando eu pensava que só teria
memórias de grandes jogos e grandes seleções... volto a me emocionar com Copa
do Mundo. Eu já estava achando que era saudosismo da era do rádio... Só que
não!
Aquele gol de cabeça do Van Persen,
na goleada contra a Espanha, nunca mais vou esquecer.
Esta Copa do Mundo no Brasil tá me
fazendo vibrar de novo com o futebol.
E como tem jogadores bons. E a TV
mostrando absolutamente tudo. E esse congraçamento festivo entre povos e
torcidas... Polêmicas à parte...
Dentro de campo tá demais! Que Copa
boa de acompanhar! Como eu ainda gosto de futebol!
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(*) Ivan é bageense de Candiota, Psicólogo e Vereador em
Pelotas há quatro mandatos.
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