Televecinos na
Copa de 70
Jorge luiz Neves Passos (*)
A Copa de 1970 foi a primeira a ser
televisionada para o mundo inteiro. E Jaguarão fazia pouco tempo que estava
incluída nesse “mundo inteiro”. Parece que foi na Radio Luz que vendeu-se o
primeiro aparelho “Admiral”, uns dois anos antes. Mas o sinal era precário.
Conta-se que o comprador ligava indignado ao balconista quando tentava olhar
sem sucesso a então mais falada novela “Véu de Noiva”, com o galã Cláudio Marzo
e a novíssima atriz Regina Duarte, que viria a ser depois a namoradinha do
Brasil e, mais recentemente, a que fez fiasco com medo do Lula em 2002. Dizia o
nosso infeliz primeiro televidente de Jaguarão: “Tchê, esse troço que tu me vendeu não dá! Quando tem voz , não tem
semblante! E quando tem semblante, não tem voz!”
Nós morávamos no Rio Branco, meu pai
ainda não tinha comprado TV. “Quando as coisas melhorarem”, dizia ele. E ia nos
cozinhando. Nós torcendo pra se vender mais cobertor Aurora, mais poncho de lana, mais blusões Burma, mais chocolates Águila.
Mas por mais que se vendesse, não sobrava grana pra investir na nossa TV tão
sonhada. E vinha chegando a Copa. Para nossa alegria, vimos desembarcando na
nossa vecina, Doña Mercedes, uma flamante Philco, 20
polegadas. Preto e Branco, que cores não tinha mesmo. Quando queria dar-se um
colorido na imagem, apelava-se para um papel celofane em três tons: verde, azul
e vermelho. Era uma belleza!
Não lembro ao certo se foi a Doña Mercedes
que nos convidou ou se foi nós mesmos que sutilmente sugerimos que ela nos
convidasse para assistirmos à estreia do Brasil na Copa do México contra a
fortíssima seleção da Tchecoslováquia, numa quarta-feira à noite. Como fica na
memória tanto tempo depois! Eu tinha 12 anos e minha irmã, companheira de
futebol, e que nas peladas no campinho dos Cardoso quebrava o galho jogando de
goleira, tinha 10. Pois bem, depois de um inicio apavorante, quando saímos
perdendo, viramos o jogo e ganhamos por 3 a 1, com espetacular atuação daquele
que seria chamado o “Furacão da Copa”, Jairzinho.
E a Celeste também tinha um timaço. E
chegou o dia fatídico da semifinal em que nos tocou enfrentar o Uruguay. E agora, desde este longínquo
2014, elogio o espírito esportivo da Doña
Mercedes. Nos acolheu para ver o jogo. A condição era ficarmos quietos e
torcer pro Brasil de maneira discreta. Nos pareceu justo. Na janela, a bandeira
Azul e Branca. No campo, a Celeste
melhor. Saiu ganhando com gol do atacante Cubillas.
A coisa tava feia, quando o Clodoaldo empatou. Apertei a mão da minha irmã e
vibramos por dentro. Doña Mercedes já
nos olhava de cara feia, quando a Canarinho fez o segundo com Jairzinho e
depois selou o resultado com uma bomba do Rivelino vencendo o goleiraço Ladislau Mazurkiewicz. Estávamos na
Final!
“Bueno miijos, por acá se acabó la farra”, sentenciou com uma certa animosidade,
Doña Mercedes. Respeitando a dor da
nossa televizinha e também para participar da festa, fomos ver o jogo contra a
Itália em Jaguarão. Não lembro como, me vi com mais de vinte pessoas na Casa do
seu Erni Pólvora, onde hoje é a Loteria Federal, na 27. Depois, o que me lembro
é do povo todo na rua fazendo algazarra. Encostado na Casa Ao Paraguaio, atual
Confeitaria São José, via a multidão quando uma bombinha estourou ao meu lado
me deixando atordoado. Mas valeu a emoção! Causos de Copa!
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(*) Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça, do Jornal Fronteira
Meridional, com a parceria dos manos Elizabeth Maria Neves Passos e Luiz
Fernando.
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