29 de junho de 2014

Qual sua Copa preferida?



Garrincha e o jovem Pelé em 1958

Qual sua Copa preferida?

Valacir Marques Gonçalves (*)

Não tenho Copa inesquecível,
mas sou obrigado a reconhecer que,
mesmo menino, aquela constatação de 1958,
quando o Brasil mostrou ao mundo que existia,
me emociona até hoje:
“Pela primeira vez nos demos conta de que
poderíamos ser os melhores em alguma coisa...”.

Na véspera da decisão contra o Chile, um amigo, o Vaz, pediu para eu revelar qual a melhor Copa da minha vida, a que nunca esqueci. Neguei-me! Não consigo tornar pública uma eventual preferência no momento em que a seleção joga sua sorte numa Copa do Mundo, quando milhões de brasileiros sonham em vencer novamente, ao mesmo tempo em que outros preferem a derrota, logicamente, desde que isto sirva para eles imporem suas teses políticas... Um dia vão entender que futebol e ideologia são coisas diferentes. Basta lembrar a Copa de 1970: o Brasil foi tricampeão e o ditador que usurpava a presidência na época ocupa o lugar a ele reservado pela história...

Mestre consagrado, o Vaz domina vários assuntos, logicamente não tem obrigação de concordar quando dizem que futebol é vida, que está no sangue de muita gente, tem alma... Isso é coisa para “fanáticos” que nem eu, “que só pensam em futebol”, que o elevam à condição de axioma. Quem não aceita essa afirmação só vai entender o desvario quando perceber a tristeza do povo nas derrotas - das miseráveis favelas até aos condomínios de luxo...

Escolher a melhor Copa com uma em andamento é difícil. É como revelar a predileção pelo amor que passou, é afirmar que não haverá outro igual. É menosprezar a competição de hoje e tornar público o nome da amada que deu o abraço inesquecível, o beijo mais surpreendente, a que o levou a um êxtase impossível de ser repetido. É esquecer que o Pelé deu lugar ao Maradona, ao Zidane, ao Messi e outros gênios da bola...

Alguns não entendem a paixão pelo futebol. Não acreditam na tese dos “filósofos” que dizem que o futebol é a coisa mais importante dentre as que não têm importância, que ele não é uma questão de vida ou morte, é muito mais do que isso... O Luizito Suárez, badalado “vampiro uruguaio”, certamente deve ter lido Nelson Rodrigues quando achou que é a falta de caráter que decide uma partida... Que não se faz literatura, política e futebol com bons modos. Pobre Suárez, ele desconhecia que é perigoso acreditar em dramaturgos - eles só têm compromisso com o drama...

Depois de assistir a seleção brasileira eliminar dramaticamente a chilena, estou mais convicto ainda de que não devo escolher uma Copa - todas são importantes e únicas. Vou lembrar só as que o Brasil venceu pra não me estender demais, sem nenhum tipo de preferência: a primeira quando eu despertava para a vida, no século passado - o distante 1958. Ela apresentou ao mundo Garrincha e Pelé, mostrando que poderíamos sim, sermos os melhores em alguma coisa...

Os craques de 58 no álbum da Copa da Suécia

A segunda foi em 62, quando o Brasil foi bicampeão. Pelé no esplendor dos 22 anos lesionou-se no primeiro jogo, causando apreensão generalizada. Foi aí que Garrincha mostrou que o Brasil não dependia de um jogador apenas. Com a cabeça enfaixada, junto com seus companheiros enfrentou chilenos ensandecidos na casa deles. Mesmo expulso, o gênio das pernas tortas levou o Brasil a uma vitória indiscutível de quatro a dois que não deixou nenhum tipo de dúvida.

Mas o ano de 1970 chegou. Pelé numa forma espetacular encantava a todos com jogadas geniais, ao mesmo tempo em que a ditadura militar barbarizava ao som do “pra frente Brasil”... A seleção brasileira, para muitos, a melhor da história do futebol, embalou os versos dos “noventa milhões em ação” - o mundo rendeu-se ao futebol brasileiro e Pelé teve reconhecido o seu reinado.

Depois de 70 o Brasil ficou 24 anos sem ganhar uma Copa, só voltando a vencer em 1994 nos Estados Unidos. Foi uma seleção sem brilho, ganhou na superação, bem longe do estilo clássico que encantava, vencendo a decisão numa disputa por pênaltis. O Brasil voltou a vencer em 2002 no Japão/Coreia depois do fiasco protagonizado na França em 1998, que teve como artista principal Ronaldo Nazário que desmaiou minutos antes da decisão, fato até hoje não esclarecido por ninguém, nem mesmo por ele.

Não tenho Copa inesquecível, mas sou obrigado a reconhecer que, mesmo menino, aquela constatação de 1958, quando o Brasil mostrou ao mundo que existia, me emociona até hoje: “Pela primeira vez nos demos conta de que poderíamos ser os melhores em alguma coisa...”.

Concluindo, cito novamente os filósofos do futebol, lembrando três frases que mostram a presença desse jogo em nosso cotidiano: A primeira: “Estou tão carente que se eu estivesse jogando futebol e o juiz me falasse ‘Você fez falta’, eu o abraçaria... A segunda: “O futebol é tão mágico que em um país onde a discriminação pela cor e pela condição social é predominante, ele possibilita o pobre ficar rico e o negro ser idolatrado”.

Fecho com esta: “O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”. Eu diria: Há controvérsias!
Amém!
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(*) Valacir é bageense, publica o Blog do Vala, escreve muito sobre futebol no Facebook e já é assíduo aqui no nosso Blog.

Um comentário:

Sérgio M. P. Fontana disse...

A minha Copa preferida foi a do México, 1970, porque pude comprovar que Pelé era, de verdade, o melhor do mundo.
Os outros "melhores do mundo" que vieram depois, não fizeram 1.281 gols, nem ganharam três Copas.