Maravilha!
Por L F
Veríssimo
Pode-se parafrasear Winston Churchill
e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável
que seja, é melhor do que sua alternativa.
A única alternativa para a
velhice é a morte.
Já as alternativas para a
democracia são várias, uma pior do que a outra.
É bom lembrá-las sempre,
principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que
atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista.
Engula sua impaciência com a
retórica eleitoral que você sabe que é mentirosa, com o debate vazio, com os
boatos maldosos e os golpes baixos, com o desfile de candidatos que variam do
patético ao ridículo...
Diante de tudo isso, em vez de
“que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus
grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se
autodepura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo
menos de erro em erro vamos ganhando a prática.
Mesmo o que impacienta é
aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes.
O Tiririca, não sei, mas o
Romário não deu um bom deputado?
Vocações políticas às vezes
aparecem em quem menos se espera.
E é melhor o cara poder dizer a
bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do
que diz.
Melhor ele pedir voto porque é
torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida
numa ordem do dia de quartel.
Melhor você ser manipulado por
marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda
oficial e incontestável de um poder ditatorial.
Hoje os candidatos à Presidência
medem suas ideias e diferenças livremente, e todos são iguais perante o William
Bonner.
Certo, às vezes as alternativas
para a democracia parecem tentadoras.
Ah, bons tempos em que o colégio
eleitoral era minimalista: tinha um eleitor só.
O general na Presidência escolhia
o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo
rápido a ascético que não sujava as ruas.
A escolha do poder nas monarquias
absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus,
que também não se interessa pela nossa opinião.
Ou podemos nos imaginar na Roma
de Cícero, governados por uma casta de nobres e filósofos, sem nenhuma
obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer
ironia.
A democracia é melhor. Mesmo que,
como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em
disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o
quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política
termine parecendo apenas uma pantomima.
Não importa, não deixa de ser —
comparada com o que já foi — uma maravilha.
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Publicado no Blog do Noblat
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