Foto: arquivo Jorge Passos |
Sebastião, o pipoqueiro de Bagé
Andréa Lima (*)
Quando eu era criança e
passeava nas ensolaradas tardes de Jaguarão, guiada pelas mãos de meu pai,
tínhamos parada certa na esquina da Praça Alcides Marques com a rodoviária,
porque lá, já se encontrava, o pipoqueiro Sebastião. O colorido varal de
algodão doce, o cheiro de açúcar e de pipoca quentinha eram e ainda são um
atrativo para qualquer criança e, enquanto meu pai, que sempre foi bom de
conversa, demorava-se ali proseando, eu saboreava as gostosuras. O tempo passou
e hoje meus filhos é que integram a clientela favorita do pipoqueiro e, quando
vamos à praça, o pedido é certeiro e um componente a mais no passeio.
Sebastião, há cerca de
47 anos vendendo pipoca, atende várias gerações.
Esta semana tive o
prazer de em uma boa conversa entrevistá-lo e saber um pouco mais sobre a sua
trajetória, já que muito mais preciosos do que o nosso patrimônio “de pedra e
cal” são nossas histórias e o nosso patrimônio imaterial.
Sebastião Sarmiento
Veleda tem 62 anos e nasceu em Bagé, mas se considera jaguarense. Conta que
veio para a cidade aos 13 anos, em um dia que hoje recorda bem e, entre
risadas, mas que na época muito lhe custou, pois aqui chegou com sapatos de
cerca de dois ou três números abaixo do seu, inquieto no assento do ônibus, com
os pés já dormentes de dor. O menino logo em seguida começou a trabalhar
ajudando o pai, o senhor João Antônio Freitas, amplamente conhecido na cidade
pelo apelido de “Mulita”. Com o slogan de “O Mulita chegou e a fome acabou”, o
comerciante, especialista em comida, fez sucesso na cidade em fins dos anos 60
e na década de 70, como dono de restaurante, onde Sebastião trabalhava como
garçom. Conta-se que foi o inventor do “churrasquinho de espeto” por estas
bandas, teve um famoso “bar móvel”, instalado em sua camionete, e fazia sucesso
em locais movimentados e em feiras e eventos, vendendo bolinho, pastel,
cachorro-quente e bebidas.
Astuto para os negócios,
Mulita decidiu investir em uma máquina elétrica de pipoca, causando transtornos
ao seu Ary, o pipoqueiro mais antigo, que trabalhava com uma carrocinha manual
e um fogareiro de querosene, artesanal. A novidade fez sucesso em Jaguarão.
Sebastião, que auxiliava o pai, com o tempo tornou-se o protagonista do negócio
e durante a semana instalava-se em pontos estratégicos como a Livraria
Miscelânea, a esquina da Caixa Econômica e em frente às Lojas Pernambucanas,
para, aos sábados e domingos, ir para o Cine Regente.
Na matiné, conta que
fazia fila. Quando o filme era bom, esperto e escondido do pai, o pipoqueiro dava
uns trocos para que outro guri, vendedor de amendoim, tomasse seu posto e ele
aproveitasse a sessão.
Hoje, sua rotina é
certa. Acorda de manhã, brinca com a neta, toma mate com os amigos e
companheiros de pescaria, almoça e, no começo da tarde, com dia bom, vai para o
trabalho. Limpa e prepara as máquinas e ruma à Praça vender pipoca e algodão
doce, de onde tira o sustento e vive dignamente. Adora o que faz, pois o
serviço lhe permite tratar com crianças e, tirando os dias de chuva, que às
vezes atrapalham, tem autonomia.
Diariamente alimenta os
pombos, outros pássaros e até as abelhas que, atraídas pelo açúcar, parece que
já conhecem a sua rotina.
Vida longa ao seu
Sebastião, pois a praça e, mesmo a nossa infância, não seriam as mesmas sem
ele!
(*) Secretária Adjunta de Cultura e Turismo/Jaguarão
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Assista também o video de Jorge Passos, Sebastião, o pipoqueiro, no Youtube, e conheça mais desse bageense que faz sucesso com a pipoca em Jaguarão.
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