Odibar Moreira da Silva, foto publicada no blog www.brazilakolekto.com |
José Henrique Medeiros Pires (*)
Era inevitável mudar de ares.
Quando fez inscrição para aquele concurso federal – no qual
foi aprovado – as vagas disponíveis eram pra Salvador, onde havia nascido, e
Pelotas, da qual pouco ouvira falar.
Preferia o calor da Bahia, mas sua pontuação o dirigiu para
Pelotas.
Nomeado, instalou-se no lugar onde não conhecia ninguém e,
já nos primeiros dias, resolveu estudar a cidade, tão longe do seu Rio de
Janeiro, do bairro Botafogo, do seu amado clube Flamengo.
Soube, então, que em Pelotas também havia um clube
rubro-negro e, como gostava de ver futebol, comprou ingresso para um jogo
qualquer, numa noite qualquer.
Para espantar a solidão, só isso. Assim me disse.
Ex-morador do Solar da Fossa, no Rio (onde moraram Caetano
Veloso, Gal Costa, Paulinho da Viola, Paulo Coelho), autor de várias músicas de
sucesso nos anos 70, longe dos amigos, dos amores, estava em terra
desconhecida, onde faz frio e onde sopra um vento gelado pra caramba.
Chega a noite do jogo. Ele desce calmamente a Rua Princesa
Isabel e entra distraidamente pelo portão do Bento Freitas. Ali mesmo tem um
impacto inesperado, que o faz parar, respirar fundo e chorar. Exatamente nessa
ordem.
A torcida fazia uma imensa festa, pulando e cantando uma música
feita por ele!
A Charanga da Garra Xavante marcando primorosamente a
execução daquela melodia que não tocava mais em nenhum outro lugar do Brasil e
a torcida cantando a letra como se dela fosse, como um hino, que pertence a
todos.
“Vamos ser, outra vez nós dois. Vai chover, pingos de amor”
A torcida maravilhosa o fez lembrar seu parceiro Paulo
Diniz, que gravou esse e tantos outros sucessos feitos por ambos.
Naquela noite, Odibar Moreira da Silva cantou junto, pulou
junto, apaixonou-se pelo Xavante e por Pelotas, onde fez muitos amigos,
casou-se, trabalhou e voltou a compor.
Lembrei dele ao ouvir o Guri de Uruguaiana reciclar sua
música, salientando que “vai chover pingos de amor” em meio a paródia,
bem-feita, que embala a campanha pela reconstrução do Rio Grande do Sul.
Odibar ainda merece que lhe escrevam uma biografia.
Quando Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram que se exilar
em Londres, ele e Paulo Diniz compuseram um dos maiores sucessos do início dos
anos 70: “Eu quero voltar pra Bahia”. Em seguida veio “Um chope pra distrair” e
outros tantos sucessos.
Paulo Diniz, como também gravava, é mais lembrado.
Odibar bem que tentou. Levou com ele, aos estúdios da
gravadora CBS, o violonista Sérgio Ricardo (que já havia destruído um violão no
Festival da Record), gravou uma música, que não agradou o jovem produtor da
gravadora. As coisas ficaram por isso mesmo.
O nome do jovem produtor? Raul Seixas.
Odibar, realmente, merece que lhe escrevam uma biografia,
repito.
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(*) José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha; é jornalista e radialista.
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