30 de janeiro de 2013

Tinha que ser em Bagé - XI, Octopus


O vereador bageense Antonio Carlos foi matéria de página inteira no jornal Zero Hora (a página oito) do dia 26 de janeiro. Elegeu-se graças às amizades que fez como papeleiro e garçom. Mas, agora eleito, insiste em continuar exercendo suas tarefas cotidianas e mais o mandato político. Vereador com jornada tripla de trabalho? Isso tinha que ser em Bagé. Menos, vereador, menos...

leia a matéria do jornal Zero Hora AQUI.
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29 de janeiro de 2013

Santa Maria, rogai por nós

Catedral de Santa Maria, em foto do saudoso colega Pedro Farias da Cunha

O Janeiro em que o Brasil me perdeu

Marcelo Canellas (*)



Eu hoje tenho 20 anos e quero me divertir. Meus pais estão dormindo em casa e amanhã haveria um churrasco. Eu tenho a vida pela frente e quero mudar o mundo. Mas também quero namorar, dançar, rir, andar a esmo com amigos nas lombas íngremes da minha cidade. Eu sou feito da bafagem úmida da Serra Geral, dos morros que circundam a Boca do Monte, do eco metálico dos trilhos de outrora, da lembrança ancestral da Gare onde meus avós trabalhavam. Ainda que eu não tenha nascido aqui, eu tenho o viço púbere do futuro. Eu posso ter vindo das barrancas de Uruguaiana, das campinas de São Borja, das grotas de Santiago do Boqueirão, das videiras de Jaguari, de São Pedro do Sul, São Sepé, São Gabriel, Dom Pedrito, de cima da serra, não importa. Santa Maria sou eu, cidade cadinho, generosa e aldeã, que nos pariu a todos em seu útero colossal.



Eu sinto o afago do vento norte, eu vejo anciãs tomando mate na janela e cadeiras nas calçadas da Vila Belga em uma tarde quente de janeiro. Eu tenho o lastro interiorano de minha cidade, mas também as narinas abertas, os ouvidos atentos, os sentidos despertos para o que enxergo na face jovem de uma urbe sempre aberta ao novo, cosmopolita e inquieta, convidando-me para a festa da vida. Por isso celebro, brindo, bailo. Tenho o frescor do campus em meus modos, a avidez universitária do saber. Recebo, faceiro e agradecido, convite do conhecimento, as portas do desconhecido a me cortejar. Como eu não quereria viver? Então entro numa boate e não tenho mais voz, não tenho mais planos, não tenho saída.



Rogo a todos os que andaram sobre os paralelepípedos da Rio Branco para me salvar. Quero correr e suplicar socorro a quem me possa acudir. A bênção, Carlos Scliar. A bênção, Raul Bopp. A bênção, velho Cezimbra Jacques, meu Prado Veppo, a bênção Felippe d’Oliveira. Iberê Camargo, tu que estudaste no Liceu de Artes e Ofícios, ali bem perto de onde a primeira faísca espocou, a bênção. A bênção, todos os artistas e poetas da Boca do Monte. Precisamos de vocês para explicar o sentido do inexplicável. Vocês, que tiveram tempo para luzir, expliquem-nos: por que temos de findar?

Como posso adormecer, se mal despertei para o mundo? Como posso abdicar, se não brinquei o suficiente, não amei o bastante, deixei incompleto o edifício da minha história? Eu não choro só por mim, e nem meu pranto cai sozinho. Minha cidade é hoje o Brasil em luto. Minha juventude perdida é o meu país, perplexo e tonto, impotente a velar meu corpo. Santa Maria, rogai por nós.
(*) Marcelo Canellas é repórter da Rede Globo. 
Texto publicado no jornal Zero Hora e no Diário de Santa Maria, terra natal do autor.
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27 de janeiro de 2013

Mercado Público de Bagé

Arquivo pessoal Elaine Bastianello

Vejam só a fotografia que a colega Elaine Bastianello tem nos seus guardados. Uma vista aérea do nosso Mercado Público. Hoje ele seria, certamente, um bem tombado pelo Patrimônio da Humanidade. Mas, é apenas mais um exemplo de patrimônio à insanidade.
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25 de janeiro de 2013

Pare. Olhe. Escute.

Foto LC Vaz

Com os perigos de acidentes no trânsito, antes de atravessar a rua recomenda-se parar, olhar e escutar.

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24 de janeiro de 2013

Os guarda-chuvas do amor - XVII e Roupas no varal - XXIII, Galinha choca



Esta foto "dois em um" foi mandada pelo Rafles Ramos, leitor do Blog e navegador da web. Ela consegue ilustrar duas séries do nosso Blog ao mesmo tempo. Roupas no varal e Os guarda-chuvas do amor. Uma verdadeira Galinha choca, protegendo da chuva os pintinhos recém descascados... 

Vamos a cata do autor.

Link do Facebook, enviado pelo Rafles: Confie em mim, sou Engenheiro

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=374098722685081&set=a.294095907352030.68329.293263370768617&type=1&theater
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23 de janeiro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LV, Paris está em chamas?

Fotografie gemacht durch LC Vaz

Paris Brennen auf? teria perguntado o cara. Era o final da guerra e ele queria tacar foto em Paris antes da retirada das tropas de ocupação. Mas não deu tempo. Uns até dizem que os subordinados que se retiravam acharam uma baita loucura fazer aquilo com os museus, prédios, pontes... e não atearam fogo na cidade, trataram de se mandar a la cria, isto sim. Não foi o meu caso. Fiquei uns dois dias aqui, ninguém me levou e... Brand auf der Couch. Ah!, se eu fosse "estilo parisiense", teria me safado lindaço, com certeza...
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19 de janeiro de 2013

Dama da Noite

Foto José Pacheco

Mais uma do José Pacheco:

"Estava eu editando fotos quando senti um perfume maravilhoso. Então fui confirmar o que já era esperado. A Dama da Noite, bem na janela do meu quarto, com quatro flores abertas. Eu posso dizer que foi um presente de Deus. A Natureza é perfeita! 

Nome científico: Cestrum Nocturnum, também conhecida como Rainha da Noite ou Jasmim da Noite.


José Pacheco".
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18 de janeiro de 2013

Coisas simples

Foto LC Vaz


Uma janela velha, descascada pelo tempo, e outras coisas comuns, simples... mostram que custamos um pouco a aprender que é na simplicidade e na síntese que residem as coisas mais importantes da vida.
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17 de janeiro de 2013

Caixa D'água da Santa Casa

Foto José Pacheco

Restaurada sob a orientação do IPHAN, em 2012, a Caixa D'água da Santa Casa, como é popularmente conhecido o antigo reservatório da praça Piratinino de Almeida, tornou-se um tema obrigatório dos "retratistas". Nosso amigo - e fotógrafo profissional - José Pacheco compôs esta imagem da caixa, ornada pelas flores dos jardins da praça, que publicamos hoje.

No sitio da Prefeitura de Pelotas encontramos o seguinte:


"Localização: Praça Piratinino de Almeida (antigo Largo da Caridade)
Um pouco da história
Construção: 1875

Em 1871, um decreto imperial autorizou a implantação da Companhia Hydráulica Pelotense em Pelotas, sob a direção de Hygino Corrêa Durão. A primeira cláusula do contrato da Companhia previa a colocação de um reservatório de água no centro da cidade.

Assim, a caixa d’água foi comprada da empresa Hanna Donald & Wilson, Makers, Abbey Works, localizada na cidade de Paisley, Escócia, no ano de 1875. O reservatório veio de navio em peças para ser montado, juntamente com o engenheiro responsável por coordenar os trabalhos de montagem. Para conduzir o material, a Companhia Ferro Carril, estendeu trilhos até a praça. Em maio de 1875, começou a ser erguido no Largo da Caridade, hoje Praça Piratinino de Almeida, e as obras foram concluídas em setembro do mesmo ano.

Tombamento

A caixa d’água é um dos quatro bens tombados de Pelotas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Ministério da Cultura. O reservatório está registrado no livro de Belas Artes, sob a inscrição nº 561, processo 1064-T-82, com data de 19 de julho de 1984. Os outros bens tombados de Pelotas são as Casas da Praça Coronel Pedro Osório, 2, 6 e 8, o Obelisco Republicano e o Teatro Sete de Abril."
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16 de janeiro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LIV, Forte Apache

Foto LC Vaz


Olhando assim, à primeira vista, até parece que o General Custer chegou atrasado e os “índios” colocaram fogo no Forte Apache, não é mesmo? Mas é só o meu esqueleto que foi queimado durante a noite. Quem sabe a criançada não junta uns soldados, uns cavalos e uns índios e recria a famosa batalha de Little Big Horn, aqui mesmo, nesta esquina onde fui jogado? 
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13 de janeiro de 2013

Dom Frutos, 17/outubro/1784 - 13/janeiro/1854

Fotografia Alexendre S Gomes


José Fructuoso Rivera, o Don Frutos
* Montevidéu, 17 de outubro de 1784 — + Melo, 13 de janeiro de 1854

Aldyr Garcia Schlee: Don FRUTOS - Romance 
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José María del Rey Morató

El distinguido escritor brasileño publicó este libro en Edições ARdoTEmpo, Porto  Alegre, 2010. Está ilustrado con dos imágenes del protagonista: una pintura atribuida a Hermann Rudolph Wendroth y una litografía de Risso (“Retrato del Brigadier General Fructuoso Rivera”). Garcia Schlee ha sido profesor universitario en ciencias humanas y literatura. Vencedor dos veces en la Bienal de Literatura Brasileña (1982 y 1984), recibió cuatro veces el Prêmio Açoriano de Literatura (1997, 1998, 2001 y 2010).

Este libro es una novela histórica. Esta obra extensa, producto del trabajo de muchos años, recrea la historia con los detalles que permiten presentar una construcción del pasado y su memoria con los mismos derechos que si se tratara de una mera crónica de la realidad en la que se apoya. Porque el autor –a lo largo de sus quinientas once páginas– tanto describe como inventa, tanto habla de aventuras como de recuerdos, tanto relata la historia real como la fama que de ella se deriva y consigue que convivan las cosas de los documentos con las otras que colorean los cuentos.

Fructuoso Rivera (Don Frutos) había sido el primer presidente constitucional de Uruguay (1830-1834) y cuatro años después fue el tercero (1838-1842). Más tarde, las vueltas de la política, agitadas por intereses y ambiciones, llevaron a su detención por sus correligionarios (1847). Colocado en un barco fue deportado al Imperio de Brasil, que lo alojó como prisionero en la Fortaleza de Santa Cruz. Ahora, 1853, lo llaman de Montevideo, para que integre un Triunvirato con Venancio Flores y Juan A. Lavalleja. 

El autor propone a los lectores compartir la recomposición y reconstrucción de las imágenes prodigiosas de esta historia/ficción.  Es una apuesta valiente. Porque Rivera fue un protagonista de la revolución sudamericana, actuó en los espacios  rioplatenses y del Sur de Brasil durante más de cuarenta años (1811-1854) y en todos lados dejó amigos y adversarios. Con documentos, testimonios, recuerdos y leyendas relativas a Don Frutos pueden llenarse varios cajones: este libro ofrece mucho de todo lo que está documentado, y también de otras imágenes que el tiempo ha visto rodar por ahí y se conservaron de alguna manera.

El relato se abre en el invierno de 1853, cuando Don Frutos llega a la localidad de Yaguarão en Rio Grande do Sul. Se describen los detalles de su alojamiento en esa población limítrofe con el Uruguay y se pasa revista a las varias personalidades que se presentan allí, de un modo o de otro, para visitarlo.

Un baúl misterioso se coloca al lado de la cama de Rivera en su alojamiento en Yaguarão: es el que llevó cuando lo deportaron a Rio de Janeiro y ahora viene en su regreso a Montevideo. Ocupa un lugar importante en esta obra: contiene los documentos que Rivera conserva, y a su manera explican todas sus actuaciones públicas. En su habitación de Yaguarão también colocan cierto artefacto, un mueble de madera, que sirve a un médico inglés para observar sus deposiciones y poder seguir la evolución puntual de la mala salud de Rivera.

Para que los lectores podamos acompañar mejor la propuesta del autor, cada uno de los capítulos se encabeza con un texto de las coplas de Jorge Manrique (siglo XV) compuestas  a la muerte de su padre, algunas conservadas en versión original, otras adaptadas en parte al caso  de Don Frutos.  En esos versos están la vida y la muerte, el honor y la memoria, el final y la continuidad. La poesía acompaña la narración y aporta unas claves que nos acercan al alma del protagonista y, por cierto, establecen una cierta comprensión entre el lector, el protagonista y el escritor.

Dom Frutos, "óleo sobre madeira"


Haciendo pie en aquellos días de Don Frutos en Yaguarão la novela va para atrás y recuerda: el nacimiento de Fructuoso, su niñez, los amigos, el descubrimiento de la vida en el campo, el ganado, los perros cimarrones, las andanzas de los charrúas, el sobrino Bernabé, la conquista de las Misiones, las cuarenta batallas que dirigió contra españoles, argentinos, portugueses, brasileños, orientales…

La novela termina en la crónica de la llegada de los restos mortales de Don Frutos a Montevideo en el verano de 1854: el cortejo, el velatorio, su entierro en la Catedral, la leyenda colocada en el túmulo. En ese punto que cierra la historia de Fructuoso Rivera, el dr. Garcia Schlee pasa en paralelo el último diálogo que pudo haber habido entonces entre Don Frutos y su secretario Pedro Onetti. Hablaban de la vida y la muerte, las batallas, los hijos, la gloria…
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– Me diga outra cousa, Pedro: quem se lembrará de tudo isto?
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José María del Rey Morató
Doctor en Derecho y Ciencias Sociales
Uruguay
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Que tortura!

Foto LC Vaz


Que tortura!

Maribel Felippe

Anoitecia quando entrei no ônibus. Lotado. Último banco, aquele do meio, bem em frente ao corredor, com duas outras poltronas do lado. À direita, uma velhinha com sacolas. Ao lado dela, o homem com o celular. À esquerda, a menina com fones de ouvido. Ao lado dela, um homem dormindo, grudado à janela. O ônibus sacodia. Lotado. Das cinco poltronas do fundão, eu na do meio. O homem do celular falava. Falava pra todos.

“Tinha o fim do mundo, mas não teve. Era por ciclos. Nas décadas passadas teve terremoto no Japão, furacão nos oceanos, no Brasil, a ditadura, enquanto que na Alemanha caiu o muro de Berlin”.

Eram ciclos, ele dizia.

A velhinha, ao lado, só dizia  É... é...

“Mas Newton tinha 85 anos quando, querendo desvendar segredos, leu quase toda a Bíblia, mas, faltando trinta páginas para o fim - do Alcorão - , ele morreu.”

A minha boca, vermelha de batom, se fechava, assim como os meus olhos, pra não rir.

Estava divertido e a velhinha só dizia  É... é...

“Absurdo esse ônibus cheio, mas eu meto um abaixo-assinado. Cada quilômetro de estrada concluída custa ao governo um milhão, mas essa roubalheira. O Obama disse que o Brasil é o maior país em extensão, mas que seu único problema é a corrupção. No Uruguai, tu anda na rua e os carros param, mas aqui não tem educação”.

Pensei que se ficasse de olhos bem fechados, poderia rir por dentro, porque era divertido. Ao lado esquerdo, na janela, o outro homem dormia. A menina de fones, ouvia música ruim e comia horríveis Cheetos de queijo, que fediam como o fim do mundo. À direita o homem com o celular emendando um assunto no outro sem vírgulas afirmava narrava previa dizia que Irajá e Anselmo eram irmãos fazia abaixo-assinados...

Torturada, a velhinha interlocutora só dizia  É... é.

Mas foi então que, chegando ao meu destino, eu desci...
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Maribel Felippe
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11 de janeiro de 2013

Ao Fluminense

Fotografia Alexandre S Gomes

Em momento  inusitado - e raro - nosso leitor e colaborador, Alexandre S Gomes, flagrou uma "torcedora" do Fluminense Football Club passando em frente a um antigo armazém denominado Ao Fluminense, localizado na rua General Osório, 225, em Pelotas, RS.
Para ilustrar publicamos o hino do Tricolor das Laranjeiras, o que todos cantam, que é o composto em 1940 por Lamartine Babo com música do maestro  Lyrio Panicali.


Hino do Fluminense

Sou tricolor de coração.
Sou do clube tantas vezes campeão.
Fascina pela sua disciplina,
O fluminense me domina.
Eu tenho amor ao tricolor!

Salve o querido pavilhão,
Das três cores que traduzem tradição:
A paz, a esperança e o vigor.
Unido e forte pelo esporte,
Eu sou é tricolor!

Vence o fluminense
Com o verde da esperança,
Pois quem espera sempre alcança.
Clube que orgulha o brasil,
Retumbante de glórias e vitórias mil!

Sou tricolor de coração.
Sou do clube tantas vezes campeão.
Fascina pela sua disciplina,
O fluminense me domina.
Eu tenho amor ao tricolor!

Salve o querido pavilhão,
Das três cores que traduzem tradição:
A paz, a esperança e o vigor.
Unido e forte pelo esporte,
Eu sou é tricolor!

Vence o fluminense
Com sangue do encarnado,
Com amor e com vigor.
Faz a torcida querida
Vibrar com a emoção do tricampeão!

Vence o fluminense,
Usando a fidalguia.
Branco é paz e harmonia.
Brilha com o sol da manhã,
Qual luz de um refletor.
Salve o tricolor!!!
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10 de janeiro de 2013

Gargalha tuas mágoas

Foto Marcelo Soares


Gargalha tuas mágoas

Marcelo Soares


Publico tanta coisa que corro o risco de estar me repetindo, mas deu vontade de contar uma história.

Tinha eu uns 15 anos quando resolvi fazer um curso de fotografia com meu tio – Deogar Soares.

Deogar era um ídolo, para mim um artista com tudo do imaginário romântico que um adolescente tímido pode ter em relação a ser artista: talentoso, livre, criativo, cercado de pessoas interessantes, parte de um mundo especial que não se pode escolher vive-lo.

Por ele fui aceito, mas, para mim fotografia era o inatingível da técnica: dos números, dos ângulos, lentes, profundidade de campo, dos reveladores, do controle da luz, dos truques, etc. De caderno em mãos e olhos atentos preparei-me para a primeira aula, até o primeiro tema: sair às ruas e registrar algo que dissesse: “Gargalha tuas mágoas”.

Decepcionado nem cumpri a tarefa, queria mais - saber da matemática, da física, da química.

O tempo passou, Deogar continuou sendo um motivo, e eu voltei a fotografar só quando adulto, sem pretensão, apenas por prazer e para expressão pessoal. Ainda tento aprender as técnicas que também mudam, procuro entender os números e as possibilidades para estender meus olhos.

Meu tio se foi, mas hoje, quando estranhamente me cumprimentam como fotógrafo, só posso agradecer a ele, e com atraso, publico a imagem que poderia ser do primeiro tema.
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Marcelo Soares
Mais de MS em Diário de Canto
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9 de janeiro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LIII, Pouca sombra

Foto LC Vaz

Essa seca, esse calor... e eu aqui na rua, pegando esse solaço. Me deixaram ao lado deste poste, o verdadeiro "pouca sombra". Se ao menos tivessem me jogado na praça, como os outros fazem, eu estaria na sombra, pedindo apenas um pouco de água fresca, e que alguém me leve, claro. Ainda dou um bom caldo.
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8 de janeiro de 2013

Elvis não morreu, mora em Bagé.


Um dos primeiros - e  raros - álbuns do Rei do Rock


Elvis, que mora em Bagé, hoje completa 78 anos... (*)

  Elvis Aaron nasceu gêmeo com Jessie Garon em 8 de janeiro de 1935. Jessie não chegou a ver a luz deste mundo. Esse fato foi suficiente para que ele desenvolvesse laços muito fortes com a mãe – e a família, até porque o irmão gêmeo, nascido morto 35 minutos antes dele, proporcionou uma enorme expectativa quanto ao nascimento do segundo gêmeo, Elvis Aaron que, para alegria de todos, nasceu forte e saudável.

  Criado como membro da igreja Assembleia de Deus, lá desenvolveu o gosto pelo canto e aprendeu muito sobre música. Mas Elvis, com seu divino dom musical, não dedicou-se à música na igreja, e já em 1956 ficou famoso gravando Love me tender, sucesso até hoje. Elvis foi o símbolo rebelde da geração do pós-guerra. No exército americano foi usado como imagem de “rapaz certinho” em propagandas e em filmes. E isso não mudou sua verdadeira vocação que era a de ser o Rei do Rock. Mas o fato é que as moçam enlouqueciam e perdiam a voz de tanto gritar em seus inúmeros shows pelo mundo afora. Seu modelo de corte de cabelo foi copiado por milhares de rapazes em todo o planeta (e fora dele) e o seu modo de vestir e cantar criou estilo entre todas as bandas que queriam fazer uma performance parecida com a do Rei do Rock and Roll.

  Mas isso tudo cansa. Afinal foram décadas de carreira, gravações, filmes, estúdios, assédio de fãs... Chega um ponto em que todos querem sossego. E com Elvis foi assim. Noticiaram sua morte em 16 de agosto de 1977 e Elvis se recolheu. Sumiu. Nunca mais apareceu. Contam que já foi visto na Jamaica, na Índia, no Turquistão... mas nós, que somos de Bagé, conhecemos um velhinho simpático, ainda meio cabeludo, que seguido é visto passeando pela Avenida Sete. Ele procura ser discreto, não chamar a atenção das pessoas. É o Elvis. Sim, o Elvis Presley. Não acreditam? Elvis não morreu! Vive e mora em Bagé, numa modesta casa (para não chamar a atenção...) ali perto da Vila Kennedy.

  Vizinhos contam que seguidamente, em noites de verão, é possível ouvi-lo cantar. Ele já não tem mais a mesma força na voz, dizem essas pessoas - afinal, completou 76 anos agora em janeiro, mas interpreta com a mesma emoção sua canção preferida – e nossa também - My Way.

  É, parece mentira. Mas Elvis não morreu mesmo. Mora em Bagé, afinal, que lugar melhor ele poderia escolher?
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5 de janeiro de 2013

Um baú no Pampa - XVIII - Quem casa quer casa


A casa vista do alto da serra  - o Barro Vermelho.
Esta foi a primeira visão que vovó Orphelina teve em 1930 de sua futura morada



Quem casa quer casa

Gerson Luiz Barreto de Oliveira

“Minha avó casou numa fria terça feira de junho, em 1930. Casamento simples como ela exigiu, e contrariando a mãe, se casava na Igreja Anglicana. No mesmo dia outra irmã casava no rito católico com o cunhado das duas, viúvo de uma outra irmã, tudo em família.

As duas saíram juntas para as cerimônias, e juntou gente em frente à casa do bisavô para ver duas irmãs que saiam vestidas de noiva, na General Netto, perto da antiga estação ferroviária, hoje Centro Administrativo.

Após a cerimônia não aceitaram fotos, não eram dadas à fotografias, num misto de austeridade e timidez.

Era uma época de efervescência na política nacional, em outubro, com uma cartada de mestre, Getúlio Vargas assumia o poder, após inúmeras arapucas que o gaúcho de São Borja armou para o Washington Luiz e o seu aliado Júlio Prestes.

No interior de D. Pedrito iniciava uma batalha sem tréguas de nora e sogra, na localidade do Cunhatay. A casa está de pé até hoje, impassível com suas paredes de 60 cm de pedra bruta, erigidas no início do século XIX pelos primeiros Barretos.

Quando minha avó Orphelina lá chegou, carregava um rico enxoval de louças e cobertas de mesa e banho, as 11 irmãs a ajudaram a bordar, costurar e tecer, mas o impacto foi grande. Não existia uma cozinha, e muito menos banheiro. No que era para ser a cozinha tinha fumaça do fogo de chão que saia por um buraco no teto de telhas artesanais feitas no local há muitas décadas, ainda na época que no Brasil quem mandava era o velho imperador.

O estreito local onde as refeições eram cozidas tinha um panelão de ferro, tipo caldeirão de bruxa, para a sopa, chão batido, uma trempe de ferro servia como chapa para o assado diário, o cozinheiro era um preto velho, remanescente dos antigos ex-escravos, chamado simplesmente Tio Bento. E era ele que trazia lenha picada e água, carregada em lombo de burro, armazenada em uma pipa, do arroio distante 500 metros, o chamado Paço da Pipa por todos na família.

Primeira providência foi trazer de Bagé o fogão à lenha com caldeira para a água quente, que o pai dela há anos comprara de um velho hotel, a água aquecida também seria usada no “chuveiro de balde” recém-instalado do lado da nova cozinha.

Tantas inovações trouxeram conflitos entre as duas mulheres, que viraram parte do folclore familiar, quanto mais uma resmungava, a outra corria por fazer mais e melhor, administrando e coordenando a casa e muitas vezes as lidas campeiras, na ausência do marido.

Não dava tempo para ficar inerte, as distâncias a serem percorridas até Bagé ou Dom Pedrito, com estradas sofríveis, e sem automóveis eram impraticáveis. O bisavô Barreto tinha um “Ford bigode”, mas era na cidade que ele usava, não se aventurando com ele para ir até o campo, os meios de transporte eram ou a cavalo, ou de aranha, as ligeiras carrocinhas puxadas por um pangaré.

Então a casa tinha que ser autossustentada, se plantava de tudo, das hortaliças, e frutas ao feijão, milho, da cidade era somente o açúcar, café, arroz e farinha, armazenadas na imensa tulha azul da nova despensa, que também tinha sido construída, e para seguir o padrão da casa, toda em pedra.

Dia de carnear boi era uma festa, e dia de matar porco juntava a vizinhança, porque sempre se dividia um pouco das linguiças, queijos de porco, patês e butifarras eram guardados somente para os de casa que, segundo minha avó, “sabiam apreciar”.

Um contingente de empregados e agregados ajudavam e tinham que ser alimentados, na nova cozinha as panelas fumegavam, muitas vezes os ânimos também, mas o que era novo em 1930 hoje parece ser outro tempo muito longínquo, os costumes se modificaram, as distâncias diminuíram, continua a vontade de ver uma comida ser bem feita, o calor da família".

Gerson Luiz Barreto de Oliveira
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