19 de abril de 2012

Ray Conniff em Uma Crônica de Abril...



Uma Crônica de Abril...
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J.J. Oliveira Gonçalves 
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Dedicada a poetisamiga Sílvia Benedetti

Quando Ray Conniff morreu, fiquei triste... Chorei. Afinal, vim a este Plano terrível para chorar. Não posso controlar a sensibilidade de minh'Alma nem a gratidão, (que trouxe de nascença), no coração. Ser sensível é sentir o arrepio inexplicável da Emoção. Ser grato é dizer sempre "obrigado" a quem - de uma forma ou outra - contribuiu para momentos ditos de felicidade que nunca, nunca serão esquecidos!
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A adolescência foi a mais bela das Estações de minha vida... Imagina, logo a adolescência que dizem uma fase de transição cheia de problemas com seus conflitantes que-tais... Todavia, sou um camarada às avessas - contrastoso contraponto de mim mesmo. Quem sabe, por ser assim, minha adolescência floriu, sorriu e... abraçou - para sempre - meu coração... Dependurou-se definitivamente n'Alma - já gasta, corcunda...
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Sou um homem-comum cujo coração foi invadido - ilegal mas docemente - por um poeta - eis que ninguém me consultou sobre a idéia. Sequer alguém me perguntou se eu aceitava ou gostaria de ser poeta. Mas, como sempre, Deus determinou e Orpheu me impôs cumprir a Pena... Uma Pena doída e irreversível - ainda que, aos olhos alheios, possa parecer bela e até um Dom...
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O poeta é um fingidor - escreveu o magistral Fernando - o Pessoa. Eis, aí, um verso filosófico que se presta a muitos questionamentos - pois é ele ponto e contraponto, é o é e o não é... (Lembrei-me, não sei por que, de Shakespeare.) O poeta, então, divide-se em dois seres que, ao mesmo tempo, é único e indivisível: não posso arrancar o poeta de dentro de mim - por exemplo... O homem-comum e o poeta habitam - irremediavelmente - o mesmo espaço... Dois corpos num só corpo... (Isto até me lembra Física, com a qual nunca me dei muito bem... Meu negócio sempre foi a Metafísica... Tanto que me foi mandado trabalhar com a Metalinguagem - que é a Poesia. Talvez, daí, a Dor, o olhar perscrutador sobre a Beleza e a Tristeza do ato maluco, audacioso e arriscado de viver...)
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Mas, chega desta (vã) filosofia. Quando me sentei aqui para escrever (este?) texto, queria apenas tecer belas e inesquecíveis reminiscências. De meu eu adolescente. De amores e desamores juvenis. E de um Amor shakespeareano - num cenário montado, pelo Destino, feito de bucólico Lirismo chamado Bagé. Lá, quando passeava, (ainda que timidamente), meus flamantes e ingênuos 19, 20 anos pelas calçadas silentes e agitadas, pelas praças enfeitadas de flores e passarinhos, pelos cinemas que, através de suas "fitas", me preparavam, (sem eu saber!), para os Dramas inevitáveis (e inimagináveis) da vida... Lá, onde a namoradinha era a Musa enternecida de meus versos garatujados e de minhas rimas ainda envergonhadas e simplesinhas... Lá, onde sempre que eu voltar, vou recaminhar passos de então e afagar Lembranças de sempre...
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E, entre recaminhar e esse afagar,  vou sair da Gen. Sampaio ou da Gen. Neto até a "Casa Gallo" (do seu Vicente). Ali, com a alegria de meu coração adolescente, vou comprar o "último lançamento" de Ray Conniff para ouvir na novíssima e musical eletrola "hi-fi" que ganhei de meus pais José e Nena. A seleção musical é linda, caprichada. Com boba, (mas necessária ansiedade), colocarei o vinil no "prato" e soarão os primeiros, alegres e dançantes acordes de "Besame Mucho"! Pronto. Sou de novo aquele guri, aquele adolescente, aquele aluno do Estadual! O volume de som é alto - mas nem tento. Afinal, trata-se de Ray Conniff, de minha adolescência, de uma Alegria da Alma, de um Amor no coração, de uns Anos (generosa e inegavelmente) Dourados... Trata-se, enfim, de um olhar ingênuo, esperançoso e incipiente sobre a Vida...
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Pois, é... Sou um camarada diuturnamente grato a todos e a tudo que, de uma forma ou outra, somou para deixar mais bela minha adolescência e - nesta quadra envelhecida e difícil da Existência - quero pedir licença ao grandioso e metafórico Neruda e dizer, sem plagiá-lo, mas num Sentimento de respeito e admiração: "Confesso que Vivi." Claro que Neruda, em suas memórias, reporta-se a toda sua vida e não apenas a uma fase ou "estação" da vida. Neruda sofreu. Mas viveu!
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O que devo dizer, (ou escrever), ainda? Entre tantas outras coisas, (ou palavras): ouvir Ray Conniff, dançar ao ritmo gostoso de Ray Conniff - com seus arranjos espetaculares e seu coral afinadíssimo e diferenciado... Ah, o que mais? Recordar, suspirar, sorrir, sentir, curtir Saudades, chorar... Enfim, deixar que o simpático e saudoso Maestro continue a nos embalar os Sonhos vestidos de Ouro, Éter, Ingenuidade, Ilusão... ao som e ao ritmo de sua singular Orquestra.
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Ah, a capa do vinil? Belíssima! A face de uma Musa em "tom bordô". A face perfeita, (da mulher amada?), com suas longas e negras pestanas, (sedosas cortinas nas janelas d'Alma...), seu ar romântico e sonhador que emoldura uma boca carnuda com traços de delicada e provocante sensualidade... Duvido que o cinzel de Fídias fosse mais feliz que o Cinzel da Natureza.
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Maestro Ray Conniff: Obrigado!! Fizeste - sem o saberes - mais esplendorosa e viva minha adolescência! E, agora, quando te ouço a regeres essa personalíssima e inesquecível orquestra, (que me desafia a cantarolar e a balançar o esqueleto), roubo - respeitosamente! - aquela confissão del viejo Pablo, suspiro e digo: confesso que vivi! Pelo menos... vivi uma cálida Estação de minha vida!
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JJ Oliveira Gonçalves
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Esta crônica foi motivada pelo e-mail que recebi da poetisamiga Sílvia Benedetti, com a homenagem - bela e merecida – que fez a Ray Conniff
Porto Alegre, 18 de abril/2012. 13h38min
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4 comentários:

Gerson disse...

Tchê JJ, realmente este grande maestro tinha como dom maior da vida, transformar sucessos pop em musica erudita e assim etermniza-las num arranjo magnificamente gostoso ao ouvido, um baita abraço índio velho.

Anônimo disse...

Prezado Vaz...
Nesta manhã nublada de Outono, ainda cedo vim ao PC dar uma olhadinha em minha caixa postal. Em seguida, fui dar uma espiadinha no "Velha Guarda". Grande e extremamente agradável foi a surpresa que proporcionaste a este grisalho guri de Bagé que, às vezes, toma "chá de sumiço" para poder agüentar os trancos da Campereada da Vida...
Como sou deste jeito - e não podia ser de outro - senti sincera e profunda Emoção, afinal, ilustraste - magistralmente! - meu texto com esse vídeo do musical e elegante Ray Conniff, onde a alegria é contagiante e o arranjo primoroso - Orquestra e Coro - nos encanta os olhos e faz dançar o coração, mesmo a Alma...
Sinto-me pública e fraternalmente homenageado com essa postagem que mexe com meus Sentimentos de Gratidão - de homem-comum e de poeta!! (Sabes? Ouço que essa crônica está me dizendo que ainda não está completa... rs...)
Obrigado, Vaz!!
Abração franciscano e bem bageense!
JJ!

Anônimo disse...

Pois, Gerson - meu índio velho...
Bela verdade a que dizes. O grande Ray Conniff já nasceu agraciado com o "poder" cativante da música e com a competência e a sensibilidade de "moldar" as tantas páginas musicais que nos encantaram - e nos encantam, até hoje - ao seu sentir, ao seu jeito de lidar e escrever as partituras, ao seu "eu" musical. Deu às tantas interpretações sua Alma e sua cara, como costumamos dizer. E, nelas, colocou o coração: alegre, ritmado, apaixonado... Sua forma vibrante de reger já era um "show" à parte: regia com a boca (muda), com os olhos vivazes, enfim, com todo seu corpo expressivamente musical! Mesmo os clássicos que Ray Conniff gravou davam um "sabor" gostosamente diferenciado aos prazeres do ouvido - devido àqueles arranjos que nasciam de sua Veia (ou Alma?), ou seja: de sua fecunda e colorida inspiração musical!
Forte e bageense abraço, meu irmão!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

Este comentário do JJ está difícil de entrar, então reproduzo aqui na "minha conta":

Pois, Gerson - meu índio velho...
Bela verdade a que dizes. O grande Ray Conniff já nasceu agraciado com o "poder" cativante da música e com a competência e a sensibilidade de "moldar" as tantas páginas musicais que nos encantaram - e nos encantam, até hoje - ao seu sentir, ao seu jeito de lidar e escrever as partituras, ao seu "eu" musical. Deu às tantas interpretações sua Alma e sua cara, como costumamos dizer. E, nelas, colocou o coração: alegre, ritmado, apaixonado... Sua forma vibrante de reger já era um "show" à parte: regia com a boca (muda), com os olhos vivazes, enfim, com todo seu corpo expressivamente musical! Mesmo os clássicos que Ray Conniff gravou davam um "sabor" gostosamente diferenciado aos prazeres do ouvido - devido àqueles arranjos que nasciam de sua Veia (ou Alma?), ou seja: de sua fecunda e colorida inspiração musical!
Forte e bageense abraço, meu irmão!

JJ!