3 de abril de 2012

Os ingredientes da gratidão

Outro dia o amigo Henrique Pires me mandou um recorte com o artigo publicado no caderno Vida e Saúde, do jornal Zero Hora de 25 de fevereiro de 2.012, assinado pelo médico J.J. Camargo, sobre um cara de Bagé. Olha, vale a pena ler. O título do artigo é Os ingredientes da gratidão. Esse paciente do Dr Camargo tinha mesmo que ser de Bagé...
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Os ingredientes da gratidão
J.J. Camargo
Muitas das expectativas que nutrimos em relação a novos relacionamentos são fantasiosas. Um dos preconceitos mais arraigados associa erudição com sensibilidade, cultura com delicadeza e inteligência com generosidade.

Entretanto, o convívio com pessoas estimuladas à gratidão demonstra que as manifestações de reconhecimento mais candentes, com frequência, brotam de criaturas rudes e toscas, que jamais exercitaram a dissimulação para serem agradáveis ao seu circulo social, que por ser igualmente simplório e límpido, nunca abriu espaço à hipocrisia.

Pergunte a qualquer médico experiente e ele relatará comoventes histórias de gratidão de pacientes socialmente humildes, mas incomparavelmente puros.

O Argemiro veio de Bagé com uma sacola de exames e uma enorme ansiedade que fez com ele batesse com a cabeça na porta e entrasse no meu consultório aos trambolhões. Na entrada, já fez uma confissão apaixonante:

“Doutor, me desculpe, mas eu sou muito grosso e estou nervoso. O senhor não imagina como essa combinação atrapalha!”

Quando terminei uma longa explicação sobre a sua doença e a sorte que tivera em ter diagnosticado um tumor tão precoce, ele abriu um sorriso aliviado e confessou que, ao sair de casa, antecipara à mulher que ninguém o cortaria, mas que agora, entendida a situação, ele queria muito que eu retirasse aquele bicho do seu peito.

Enquanto preenchia os papéis da solicitação de baixa hospitalar, ele se pôs a falar do seu trabalho e contou que passara a vida comprando e vendendo cavalos, e que aquela era a única coisa que, de fato, entendia.

Depois de explicar como fazia para saber se gostava ou não de um animal, interrompeu o monólogo e comentou que eu devia estar surpreso com esta conversa toda “mas quando o senhor falava da minha doença com o seu jeito calmo de explicar as coisas, eu fiquei pensando:

Mas tchê, que Doutor! Se esse fosse um cavalo, eu comprava!”


Difícil imaginar uma gratidão mais explícita ou uma declaração de amor mais original.
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2 comentários:

Valença disse...

Vaz,esta é a terceira tentativa de fazer um comentário em teu blog. Cada vez que tento o blogger "sai do ar".
Gostei muito da história do paciente de Bagé e vou até compartilhar em meu blog.Obrigado!

Luiz Carlos Vaz disse...

É que nós estamos 'discutindo a relação' com o Blogger, Eliana Valença. Mas, não dá bola, continua lendo e comentando aqui no VG, em breve em outro endereço...
Um abraço e, obrigado pela insistência.